17 Setembro 2014
De um lado, a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), maior organização do País, com 308 entidades filiadas. De outro, a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), a maior denominação evangélica do País, que lida com milhões de fiéis. Em comum, um objetivo: obter, por escrito, compromissos de candidatos à Presidência da República. A associação quer apoio às causas do movimento, como a aprovação de uma lei sobre o casamento igualitário e a criminalização da homofobia. Já a convenção busca uma afirmação com os compromissos da igreja, entre os quais a oposição clara às duas reivindicações dos gays.
A reportagem é de Pedro Venceslau, Roldão Arruda e Adriana Carranca, publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 14-09-2014.
O debate sobre os direitos dos homossexuais foi introduzido na campanha eleitoral após a polêmica sobre o programa de governo de Marina Silva. A candidata do PSB chegou a divulgar uma versão que incluía a defesa de reivindicações históricas da causa gay. Depois, divulgou uma errata excluindo essa defesa. A presidente Dilma Rousseff aproveitou e passou a se declarar a favor da aprovação de uma lei sobre criminalização da homofobia - algo que seu governo não se empenhou em aprovar durante seus quase quatro anos de gestão.
Por ora, o presidente do comitê político da CGADB, pastor Lelis Washington Marinhos, mira num compromisso por escrito de Marina. “Somente após a assinatura desse documento é que iremos declarar apoio oficial a Marina Silva. Vai depender muito disso”, afirma o pastor.
Marinho disse que a igreja não é a favor da homofobia, mas quer garantir que “os pastores possam se declarar contra” o casamento gay nos cultos. “Embora não tenhamos interesse em interferir na vida privada das pessoas, temos uma posição contrária ao casamento gay e queremos ter a liberdade de nos declararmos contra”, argumenta.
O pastor menciona, ainda, um conjunto de leis em tramitação no Congresso Nacional que, em sua visão, “direciona a sociedade para uma mudança de princípios que, no médio prazo, levará à desvalorização da família tradicional”. Por isso, ele diz querer garantir que tais leis não sejam aprovadas no próximo governo.
A Assembleia de Deus, porém, não é uníssona. O Ministério de Madureira, por exemplo, apoia Dilma à reeleição. O bispo Samuel Ferreira, líder aposentado da congregação, é candidato a primeiro suplente do petista Geraldo Magela ao Senado pelo Distrito Federal. Já outros líderes da denominação, como os pastores Silas Malafaia, do Ministério Vitória em Cristo, e o deputado Marco Feliciano, do Ministério Tempo de Avivamento, declaram apoio a Marina, assim como Marinhos, que integra o Ministério do Belém, além da convenção nacional.
Os evangélicos representam, hoje, cerca de 22% da população.
Lançamento. A ABGLT lançou na sexta-feira passada, em Salvador, um programa que tem como carro-chefe a aprovação de uma lei que criminalize a homofobia. A diretoria da entidade afirma que vai entregar o documento para cada um dos presidenciáveis.
Dilma já sinalizou que poderá assinar o documento. A expectativa no PT é que no próximo dia 20 a candidata participe de um grande ato com lideranças LGBT para marcar posição.
Os líderes do movimento gay apontam a polêmica do programa de governo de Marina como um divisor de águas para a causa. “Ela trouxe o debate à tona. Tirou nossas bandeiras do armário”, afirma Carlos Magno, presidente da ABGLT. A exclusão das bandeiras históricas do plano da candidata do PSB gerou uma crise interna no partido. Coordenador do setorial LGBT do PSB e membro da direção nacional do partido, Luciano Freitas rompeu com Marina e deixou a campanha. “Estou avaliando meu voto”, afirma Freitas. Ainda segundo o dirigente, “falta firmeza” de todos os candidatos na defesa da criminalização da homofobia.
“Nenhum deles tem propostas claras sobre programas como a qualificação profissional para transexuais”, diz. Substituto de Freitas no setorial LGBT da campanha de Marina, Otávio de Oliveira conta que o PSB vai promover uma série de ações pró-Marina junto ao público gay em várias capitais.
A ideia é recuperar o prestígio que o partido historicamente tem no movimento e quebrar a resistência à ex-ministra. Um dos locais escolhidos para a ação foi simbólico: Rio Branco, capital do Acre e berço político de Marina. “A errata não significou um retrocesso. É muita covardia dos partidos fazer disso um cavalo de batalha”. Apesar de reconhecer que o episódio causou desgaste à campanha, Oliveira sai em defesa de Marina. “A posição dela é clara. Marina é contra a homofobia e não é contra a união homoafetiva. Ela não vetou a defesa da criminalização da homofobia. Quem fez isso foi o governo do PT”.
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