Por: Jonas | 05 Setembro 2014
Em meados de setembro, o Conselho de Cardeais, instituído pelo papa Francisco para ajudá-lo na reforma da Cúria Romana e no governo da Igreja universal, voltará a se reunir no Vaticano. Será a sexta reunião do organismo, agora composto por nove cardeais, depois que o Pontífice acrescentou aos oito nomeados inicialmente – mas, até agora sem nenhum ato público formal – o cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin.
A reportagem é de Sandro Magister, publicada por Chiesa.it, 03-09-2014. A tradução é do Cepat.
Também já são conhecidas as datas das duas sessões posteriores, que ocorrerão de 9 a 11 de dezembro deste ano e de 9 a 11 de fevereiro de 2015.
O trabalho do chamado “C9” em relação à reforma da Cúria Romana ainda parece estar em sua fase inicial. “Não há esboços da nova constituição apostólica”, informou o “porta-voz” vaticano, o padre Federico Lombardi, ao término da quinta reunião, nos primeiros dias de julho, acrescentando que “o passo é constante, mas ainda requer tempo”.
Apesar disso, o bispo de Roma reinante não permanece com as mãos atadas a respeito da nomeação da Cúria, em sua atual configuração.
No último dia 28 de agosto, promoveu o cardeal prefeito da Congregação para o Culto Divino, o espanhol Antonio Cañizares Llovera, como o novo arcebispo de Valência, uma das dioceses mais dinâmicas da Igreja ibérica. Uma substituição não usual, que tem como precedente a do purpurado Crescenzio Sepe, transferido para Nápoles, por Bento XVI, de seu cargo de prefeito da Propaganda Fide. Com a diferença que, ao contrário de quando aconteceu este último caso, parece que com Cañizares o Papa não havia “imposto” a transferência, mas, sim, simplesmente deu curso ao desejo do purpurado de voltar a sua pátria como pastor. Se Cañizares preferiria em seu coração Madri como destino, ao invés de Valência, é outra história.
Porém, visto em seu contexto, no passo dado no dia 28 de agosto não se anunciou o nome do sucessor de Cañizares na Cúria. De qualquer modo, parece improvável que o papa Francisco, como sucessor do chamado (nem sempre com razão) “pequeno Ratzinger” na Congregação para o Culto Divino, eleja uma figura de ruptura no que diz respeito a Bento XVI. Pelo contrário, será necessário ver se e como se manterão ou, então, serão deixados às conferências episcopais alguns poderes atribuídos ao dicastério, como, por exemplo, o do controle e revisão das traduções dos livros litúrgicos.
Como os meios de comunicação espanhóis também anteciparam, é iminente o retorno à Espanha de outro eclesiástico, que atualmente trabalha na Cúria Romana. Trata-se do arcebispo Celso Morga Iruzubieta, do Opus Dei, que poderá deixar de ser secretário da Congregação para o Clero e se tornar coadjutor da Arquidiocese de Mérida-Badajoz, que conta com cerca de 600.000 fiéis.
Com este gesto, prosseguirá a “limpeza” realizada por Francisco em um dos dicastérios mais importantes da Cúria Romana, que entre outras coisas se ocupa das pendências entre sacerdotes e bispos, das dispensas das obrigações sacerdotais para além dos casos ligados aos “delicta graviora”, das alienações dos bens eclesiásticos acima de certo valor e – por vontade de Bento XVI – também dos seminários.
A transferência do atual secretário ocorrerá depois que Jorge Mario Bergoglio já removeu como autoridade o prefeito nomeado pelo papa Joseph Ratzinger (o purpurado Mauro Piacenza – originário da Gênova do cardeal Giuseppe Siri – que foi substituído pelo diplomático veneziano Beniamino Stella) e nomeou um secretário adjunto para os seminários (o mexicano com sangue chinês nas veias, Jorge Carlos Patrón Wong). Sem contar que também entre os funcionários do dicastério, no transcurso de um ano, houve uma compacta mudança, que não parece ter precedentes análogos.
Porém, há também outra peça importante do organograma da Cúria que o papa Francisco se prepara para substituir. Trata-se do secretário para as Relações com os Estados, da Secretaria de Estado, cargo atualmente coberto pelo arcebispo Dominique Mamberti.
Neste sentido, será interessante verificar se, neste caso, o Pontífice obedecerá à práxis não escrita que vê ao “ministro vaticano das Relações com os Estados” terminar seu serviço condecorado com a púrpura cardinalícia (ocorreu, visto em perspectiva, com Giovanni Lajolo, Jean-Louis Tauran, Angelo Sodano, Achille Silvestrini, Casaroli, Antonio Samorè, etc.), ou se, ao contrário, não fará isso, assim como não concedeu a púrpura, na prática vinculada ao cargo de Arquivista e Bibliotecário da Santa Igreja Romana, ao dominicano francês Jean-Louis Bruguès (que no passado teve atritos com Víctor Manuel Fernández, o reitor da Universidade Católica de Buenos Aires e pupilo de Bergoglio, que assim que se tornou Papa o promoveu a arcebispo, sem ritual algum).
Parece certo que o sucessor de Mamberti virá do serviço diplomático e será, com toda probabilidade, um núncio apreciado pelo secretário de Estado, Pietro Parolin.
No passado, todos os titulares deste cargo – com as únicas exceções de Mamberti, Tauran e do polaco Wlodzimierz Czacki, em fins do século XIX – provieram da Itália. No entanto, visto que atualmente tanto o secretário de Estado como o substituto (o arcebispo Giovanni Angelo Becciu) são italianos, parece improvável que a terceira figura de peso da Secretaria de Estado também será. É improvável, mas não impossível.
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A chegada do novo ministro de relações com os Estados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU