25 Agosto 2014
Aparentemente, parecem dois mundos irreconciliáveis: as religiosas norte-americanas pertencentes à LCWR (que representam 80% do total) e o Vaticano que, há dois anos, as está investigando. Nos EUA, dizer "sisters" (irmãs) significa, monjas à parte, distintas senhoras com roupas apropriadas à idade, sem maquiagem, é verdade, mas algumas joias, sim: exatamente o oposto dos severos hábitos pretos-brancos-cinzas a que estamos acostumados.
A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 22-08-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Muitas congregações locais têm estatutos, regularmente aprovados por Roma, muito semelhantes aos dos institutos seculares e também à cotidianidade dos seus membros: a vida de comunidade se limita a algumas ocasiões, porque as irmãs vivem em apartamentos em pequenos grupos, e a maioria delas ganha a vida com os seus próprios meios (muitíssimas são teólogas e docentes, muitas autoras de livros, profissionais em sua maioria da área da saúde, professoras em todos os níveis escolares).
No entanto, lendo as intervenções da sua assembleia anual que terminou na semana passada em Nashville, no Tennessee, não parece haver nenhuma diferença com encontros semelhantes de superioras maiores ou de teólogas em outras partes do mundo, destinados principalmente a redefinir o papel da vida consagrada hoje.
Aqueles que esperavam de Nashville alguma novidade sobre a polêmica que as coloca do lado oposto à Sagrada Congregação para a Doutrina ficaram desapontados (embora alguns observadores leiam entre as linhas): todo discurso permanece rigorosamente a portas fechadas. Se na véspera algumas vozes tinham se levantado, com a poeira baixa, tudo parece continuar como antes.
O que há de inédito é a diretriz para o próximo ano, e essa parece ser realmente a novidade. Como presidente, foi eleita a Ir. Sharon Holland (na foto, à esquerda), das Servas do Coração Imaculado de Maria de Monroe, no Michigan.
Aos 75 anos, filha de um juiz do condado de Oakland, com doutorado em direito canônico pela Universidade Gregoriana, depois de um mestrado em teologia em Detroit, Holland trabalhou no Tribunal Eclesiástico de Detroit e foi professora na Catholic University of America, em Washington, antes de voltar para Roma em 1988, onde trabalhou por 21 anos no Vaticano na equipe da Sagrada Congregação para a Vida Consagrada.
Uma presidente que trabalhou (entre as poucas mulheres) na Cúria vaticana representa, para alguns observadores, um desafio: a Ir. Sharon atua em pé de igualdade. "A sua competência, tanto no direito eclesiástico quanto no funcionamento da Cúria, vai ser a chave para resolver a polêmica", disse a Ir. Simone Campbell, idealizadora das viagens de caráter social através dos Estados Unidos intituladas Nuns on the Bus.
Mas não há qualquer vestígio de conflito na declaração oficial divulgada pela responsável de imprensa da LCWR, a Ir. Annmarie Sanders, na segunda-feira, 18 agosto. O texto – redigido pela nova presidente e pelo conselho diretivo cessante, liderado pela Ir. Carol Zinn ssj – relata a conferência de abertura da irmã e biblista Nancy Schreck osf, com uma citação sobre navegar na escuridão.
"A vida religiosa encontra-se em uma 'passagem mediana', porque estamos em uma época de mudança e de ruptura com aquilo que é familiar. A nossa tarefa é a de estar presentes, apesar da incerteza."
Apenas algumas frases para o discurso da já ex-presidente que tinha utilizado com grande sensibilidade a metáfora da música para descrever os desafios que as irmãs devem enfrentar hoje para serem fiéis à sua vocação ("Esta assembleia ocorre em um momento em que a nossa consciência é cada vez mais solicitada pelos lamentos do nosso mundo, do nosso país, da Igreja. Somos chamadas a estar entre esses lamentos cantando a música que está no coração de Deus"), mas que não fazem justiça à riqueza de solicitações de uma conferência magistral destinada a se tornar objeto de reflexão entre os religiosos.
A nota registra, ainda, além do anunciado Outstanding Leadeship Award à teóloga Elizabeth Johnson – abertamente contestado pelo prefeito Müller ("É evidente que ele não leu o meu livro, mas apenas faz eco às suas declarações equivocadas") –, a aprovação de um pacote relativo à formação das irmãs e uma série de pronunciamentos sobre questões sociais, o seu campo de ação cotidiano: das respostas aos emigrantes que fogem dos seus países de origem às crescentes formas de escravidão moderna feminina, passando pela preservação do ambiente e pela promoção da justiça global.
E, além disso, o pedido do Papa Francisco de rejeitar formalmente a "doutrina da descoberta", ou seja, o período da história cristã que usou a religião para justificar a violência contra as populações indígenas.
E, sobre a conclusão, em que se faz menção aos três dias, posteriores à assembleia, de encontro reservado entre as irmãs e o bispo Sartain ("O diálogo em curso é a chave para construir relações eficazes de trabalho"), há quem, como o jesuíta Thomas Reese, ex-editor da revista America, se declare convencido de que a polêmica não é entre a LCWR e o Vaticano, mas entre as irmãs e os bispos norte-americanos: um braço de ferro que surgiu com o antecessor do atual prefeito, o cardeal Levada, ex-arcebispo de San Francisco, ainda à procura de uma honrosa solução para ambas as partes.
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Estados Unidos, uma jurista para liderar as irmãs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU