25 Agosto 2014
Novas faíscas entre a Santa Sé e a Leadership Conference of Women Religious (LCWR), a organização "guarda-chuva" que reúne a maioria das ordens religiosas femininas estadunidenses e que há anos está na mira tanto da Santa Sé quanto da Conferência Episcopal dos Estados Unidos pelas posições heterodoxas de parte dos seus membros.
A reportagem é de Marco Tosatti, publicada no sítio Vatican Insider, 21-08-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Congregação para a Doutrina da Fé emitira um documento decididamente severo contra a sua obra, e o prefeito da Congregação, o cardeal alemão Müller, tinha conseguido a aprovação do Papa Francisco sobre a questão.
Nos últimos dias, a LCWR realizou a sua assembleia anual, dedicando uma ovação de pé a uma irmã, Elizabeth Johnson, cujo trabalho teológico lhe valera uma advertência por parte da Santa Sé.
Agora, a LCWR decidiu premiar a teóloga com o Outstanding Leadership Award, uma medida claramente decidida para enfatizar o desacordo com Roma e para marcar a independência da organização daquilo que é decidido nas Congregações romanas. Que pediram uma reforma substancial da LCWR.
Em 2011, a Comissão Doutrinal dos bispos norte-americanos tinha feito uma crítica contra um livro da Ir. Johnson, Quest for the living God, afirmando que ele continha "ambiguidades, imprecisões e erros que afetam a fé da Igreja Católica como ela se encontra na Sagrada Escritura e é autenticamente ensinada pelo magistério universal da Igreja".
No seu discurso à assembleia da LCWR, para receber o prêmio que lhe foi concedido, a religiosa disse, entre aplausos, que, "até hoje, nem eu nem a comunidade teológica, a mídia ou a opinião pública sabem qual é o problema doutrinal em questão".
A Ir. Elizabeth Johnson, que leciona teologia na Fordham University, dos jesuítas, deu a entender que o seu livro não havia sido lido por aqueles que o criticaram e sugeriu que o apoio da LCWR à sua obra era a causa da investigação e da advertência.
O livro de Johnson inclui capítulos sobre a teologia "negra", sobre a teologia feminista e sobre o compromisso inter-religioso. A autora afirmou que as vendas deram um salto vertiginoso depois das críticas dirigidas pela Conferência Episcopal dos Estados Unidos.
Desde 2012, o arcebispo de Seattle, J. Peter Sartain, está encarregado de trabalhar com a LCWR para supervisionar o trabalho de reforma dos estatutos da organização, que inclui uma reescrita da carta de fundação da LCWR e a aprovação dos palestrantes convidados para falar nas futuras assembleias.
Uma das acusações dirigidas no passado dizia respeito justamente ao fato de que eram convidadas para falar pessoas claramente contrárias ao que é ensinado pela Igreja. E, em abril passado, a LCWR tinha sido advertida de que o reconhecimento dado à Ir. Johnson havia sido interpretado como uma provocação contra a Santa Sé.
Mas, sobre a investigação iniciada em 2009, a religiosa disse: "Quando a autoridade moral da hierarquia sangra pelos escândalos financeiros e muitos bispos (…) encobertam abusos sexuais de crianças, um encobrimento que continua em alguns ambientes até hoje, e milhares vão embora da Igreja (...) a perda de tempo nessa investigação é impensável".
As participantes da assembleia recusaram-se disciplinadamente a falar com os jornalistas sobre o conflito com os bispos dos EUA e com o Vaticano, embora tenha vindo à tona algumas faíscas de dissidência por parte de algumas.
Enquanto isso, de sua parte, o arcebispo Sartain, no seu discurso, se definiu como "um amigo e um irmão" das irmãs, para neutralizar possíveis elementos de confronto. Mais definido foi a mensagem trazida pelo representante da Congregação para os Religiosos, o padre Hank Lemoncelli, que falou da necessidade de que as congregações femininas redescubram os seus carismas fundadores, permaneçam fiéis à Igreja e se dediquem totalmente a Cristo.
Segundo George Weigel, renomado comentarista de fatos religiosos, o verdadeiro problema é que as congregações ligadas à LCWR não possuem novas vocações, quando as ordens religiosas mais alinhadas com a doutrina defendida pelo Vaticano estão crescendo. Um elemento admitido pelas lideranças da LCWR, que defendem que a sua tarefa "não é crescer, mas ser".
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Novas tensões entre o Vaticano e as religiosas dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU