22 Agosto 2014
O jornalista americano James Foley, que foi decapitado por um militante do grupo autodenominado Estado Islâmico (EI), foi sequestrado duas vezes em coberturas no Oriente Médio e admitiu que tinha atração por zonas de conflito.
A reportagem foi publicada por BBC Brasil, 20-08-2014.
Descrito por colegas como "um jornalista corajoso e incansável", Foley foi sequestrado na Síria em novembro de 2012, quando cobria a guerra civil no país para agência de notícias France Press (AFP) e do portal de notícias americano GlobalPost.
Seu carro foi parado por militantes no caminho para o norte da Síria, na província de Idlib. Ele não foi visto de novo até aparecer no vídeo divulgado nesta terça-feira, quando aparece sendo decapitado.
Estima-se que cerca de 20 jornalistas estão desaparecidos na Síria, de acordo com o Comitê para Proteger Jornalistas dos Estados Unidos.
Foley, que tinha 40 anos, nasceu na cidade americana de Rochester, no Estado americano de New Hampshire.
Ele foi professor no Arizona, em Massachusetts e em Chicago antes de se tornar jornalista em meados dos anos 2000.
Depois de se formar na Escola de Jornalismo Medill, ele começou a trabalhar na área.
Sua curiosidade sobre a realidade de locais como o Iraque, onde seu irmão serviu na Força Aérea americana, o levou a acompanhar os soldados no país.
Captura na Líbia
Em 2011, Foley foi para a Líbia cobrir a insurgência contra o coronel Muammar Khadafi, acompanhando combatentes rebeldes.
Mas em abril daquele ano, ele e três outros jornalistas foram capturados em uma emboscada das forças de Khadafi.
O fotojornalista Anton Hammerl foi morto, enquanto Foley e os outros foram detidos.
"Um soldado apertando seu rosto contra o chão da caçamba de um caminhão, com sua cabeça sangrando - é o pior tipo de choque", disse Foley depois.
Durante 18 dias, ninguém sabia se o jornalista estava vivo.
Seus pais, Diane e John Foley, fizeram uma campanha para sua libertação, organizando vigílias de oração e trabalhando com equipes diplomáticas dos Estados Unidos e da Síria para conseguir informações.
Depois de seis semanas, Foley foi libertado, mas a morte de Anton Hammerl, seu amigo e colega, teve um profundo impacto nele.
"Eu lamentarei aquele dia pelo resto da minha vida. Eu lamentarei o que aconteceu com Anton e sempre analisarei aquilo novamente", disse.
Persistência
A experiência de ser capturado não o deteve. "Isso (este tipo de episódio) nem sempre te repele. Às vezes ele te atrai ainda mais", disse.
"Sentir que você sobreviveu a algo é uma espécie de força estranha que puxa você de volta."
Após o incidente, Foley se interessou por cobrir a situação na Síria, dizendo que se sentiu "atraído pelo drama do conflito" e que tentaria "expôr histórias não contadas".
"Há violência extrema, mas também há uma vontade de saber quem são essas pessoas. Acho que isso é realmente inspirador", afirmou.
Ele começou reportar a violência cometida pelas forças leais ao presidente sírio Bashar Al-Assad antes de ser capturado, em novembro de 2012.
"A paixão dele era ir a campo e contar histórias sobre as pessoas mais vulneráveis e os efeitos dos conflitos e guerras em suas vidas", disse Penny Sukraj, a viúva do jornalista Anton Hammerl, que também era amiga de Foley.
"Ele vivia e respirava o jornalismo de conflito no qual estava envolvido e não era para se gabar."
Jornalistas freelance estão especialmente em risco em áreas de conflito, porque têm poucas garantias de segurança.
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Sequestrado duas vezes, jornalista decapitado tinha 'atração pelo conflito' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU