Por: Jonas | 21 Agosto 2014
“O ebola, no momento, parece ser um fantasma atroz e invisível. O dispositivo sanitário militar que o vencer poderá contar com um saber estratégico. Indubitavelmente, nessa corrida, o Pentágono marcha primeiro”, escreve Emiliano Guido, em artigo publicado por Rebelión, 19-08-2014. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Na exitosa e recente estreia da série televisiva norte-americana “Helix”, uma equipe de elite de biólogos do Centro de Controle de Enfermidades Infecciosas, organismo pertencente ao Pentágono, desembarca em uma base militar do Ártico para impedir que o grau zero de um vírus letal, descoberto nesse lugar, expanda-se para outras regiões do orbe. Revestidos com uniformes chamativos e totalmente blindados a qualquer foco infeccioso, os especialistas começam uma sórdida peleja com os hierarcas militares, que se negam a entregar a informação sobre a arriscada investigação com “mutagênicos” e “transgênicos”, desenvolvida na unidade militar por ordem da Casa Branca.
Finalmente, um homem do Pentágono se impõe com os médicos e lhes espeta uma ordem indiscutível: “Aqui, mandamos nós”. A medicina a serviço do poder. Muito bem, o roteiro de Helix pode ser a letra da última notícia significativa surgida na luta contra a epidemia mortal do ebola. Oficialmente, os diretores da Organização Mundial da Saúde debatem a possibilidade de utilizar na África Ocidental um medicamento experimental, um fármaco antiviral denominado ZMap, que teria apresentado resultados positivos, nos Estados Unidos, em homens infectados com o vírus. Porém, o subtexto não escrito em nenhum rodapé televisivo é outro.
De acordo com várias investigações jornalísticas que estudam o obscuro vínculo do Pentágono com certos avanços medicinais, os gigantes farmacêuticos, como a empresa Mapp Biopharmaceutica ou a empresa canadense Tekmira Pharmaceuticals, que trabalham para patentear a pílula mágica contra o ebola, longe de ser beneficentes humanitárias, poderiam monopolizar um negócio multimilionário e, no pior dos casos, desenvolver uma arma biológica letal. Poderia parecer teoria conspirativa, mas foi um dado da realidade e não uma ocorrência da série Helix, que um vice-presidente como o falcão Dick Cheney aproveitasse a crise sanitária disparada pela Gripe A, em 2008, para vender a patente do antiviral Tamiflu, tão eficaz como um placebo, à multinacional suíça Roche.
O vírus do Ebola já não é apenas uma problemática que afete o sistema de saúde público africano. Dez dias atrás, os diretores da OMS declararam alerta máximo, estipulado em seu protocolo, e decretaram uma “emergência mundial de saúde”. Além disso, com a morte do sacerdote Miguel Pajares, no Hospital madrileno Carlos III, os atestados de óbito do ebola tiveram seu primeiro caso em território europeu. Segundo uma fonte hospitalar consultada pelo portal eletrônico espanhol El Periódico, a morte de Pajares foi macabra. “O paciente tinha o rim péssimo, de fato já não urinava, padecia também de tifo, sofria problemas cardíacos e tinha perdido todas as defesas, razão pela qual salvar sua vida não era possível. O ebola havia lhe comido por todos os lados”, advertiu uma pessoa integrante da equipe médica que tentou salvar a vida do pároco infectado na Libéria.
Evidentemente, a morte de Pajares abriu o debate na comunidade internacional sobre a necessidade de se acelerar uma intervenção sanitária eficaz nos países afetados da África Ocidental. Por esse motivo, a cúpula da OMS começou a discutir, nesta semana, em Genebra, a possibilidade de utilizar um fármaco experimental, denominado ZMapp, que supostamente salvou a vida de dois norte-americanos, integrantes de uma ONG com trabalho territorial em Guiné, que foram repatriados para os Estados Unidos quando os sintomas do ebola começaram a derrubar seu sistema imunológico.
“Sabemos que o remédio foi dado para dois norte-americanos que contraíram a enfermidade aqui e, portanto, seria bem recebido em nossa pátria”, disse a chefe de Estado da Libéria, Ellen Johson-Sirleaf. O pedido é música para os ouvidos do presidente Barack Obama, que precisa recuperar posições geopolíticas na África, onde a presença chinesa cresceu exponencialmente nos últimos anos. Recapitulando, um holding farmacêutico ligado ao Pentágono teria o know how necessário para desenvolver um antiviral eficaz contra o ebola. Porém, segundo especialistas na cumplicidade do complexo militar industrial norte-americano, com o desenvolvimento de armas biológicas, a conclusão poderia ser outra: a cura do vírus também pode ser decodificada como seu controle, para reutilizá-lo na infecção de populações localizadas em territórios inimigos.
“Sabe-se, internacionalmente, que há muitos anos o governo dos Estados Unidos e, em especial, o Pentágono, utiliza as instalações existentes em Fort Detrick como laboratório para o desenvolvimento de armas químicas, biológicas, o controle de vírus de todos os tipos, os chamados patógenos exóticos e tudo aquilo que possa ser utilizado contra o que se considerar um perigo ao regime estabelecido”, começa advertindo o colunista do portal El Periódico, Néstor García Iturbe, em uma matéria intitulada “O Ebola e o Pentágono”.
Outras cadeias informativas, como a canadense Global Research ou a agência de notícias moscovita RT, concordam em destacar a Fort Detrick como o obscuro enclave onde trabalham os pesquisadores farmacêuticos que tentam perscrutar a cura do ebola. “O medicamento para curar a infecção do ebola está sendo desenvolvido por uma companhia biotecnológica com sede em San Diego, chamada Mapp Biopharmaceutica, cuja equipe científica trabalha com o exército estadunidense no Fort Detrick.
Esta unidade é um centro de investigação biológica e de desenvolvimento de armas químicas, que é acusado de inocular vírus como o HIV, o ebola, a peste bubônica, o antraz ou o vírus do Nilo Ocidental. A intervenção de Washington para resolver os efeitos do ebola na África é preocupante. Recordemos que o governo dos Estados Unidos foi denunciado por numerosos casos de bioterrorismo na Guatemala, Porto Rico, Cuba e Coreia do Norte”, sintetizou a jornalista da RT, Karen Méndez.
O bioterrorismo é o novo hit narrativo de Hollywood, mas está longe de ser ficção científica. E mais, o próprio presidente Barack Obama reconheceu oficialmente, no ano de 2010, que o Serviço de Saúde Pública de seu país havia infectado intencionalmente, nos anos 1940, e sem prévio aviso, doentes mentais e presos da Guatemala com sífilis e gonorreia, para estudar o desenvolvimento das doenças sexuais. Além disso, em um fato muito mais recente no tempo, o organização Serpaj, do Paraguai, denunciou que durante uma suposta missão humanitária do Comando Sul, no Chaco paraguaio, transcorrida no governo de Fernando Lugo, os marinheiros utilizaram a fachada do exercício Medrete para esterilizar forçosamente mulheres camponesas pobres.
“No dia 11 de fevereiro deste ano, uma virologista norte-americana, que estava trabalhando com o vírus do ebola, teve um acidente quando uma agulha infectada furou o seu dedo, sendo remetida a uma área especial de isolamento, por trinta dias. Pelo que parece, o tratamento foi efetivo e a virologista, cujo nome não publicaram, retornou aos seus trabalhos. Como também, nesse momento, encontra-se em fase experimental um soro secreto denominado ZMapp, pelo Pentágono.
Este soro é produzido pela empresa farmacêutica Mapp Biopharmaceutical, com sede em San Diego, empresa quase totalmente desconhecida, mas de forte vinculação com o Departamento de Defesa, razão pela qual não seria surpresa caso seja uma empresa de fachada, por meio da qual o Pentágono e a CIA realizam experimentos que legalmente não podem realizar e aos quais o Congresso se oporia fortemente”, afirma o colunista García Iturbe. A medicina também pode ser pensada como uma intervenção do poder sobre os corpos, como sempre advertiu, em seus famosos ensaios, o semiólogo francês Michel Foucault. O ebola, no momento, parece ser um fantasma atroz e invisível. O dispositivo sanitário militar que o vencer poderá contar com um saber estratégico. Indubitavelmente, nessa corrida, o Pentágono marcha primeiro.
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Ebola, custodiado pelo Pentágono - Instituto Humanitas Unisinos - IHU