Por: Jonas | 15 Agosto 2014
“Nestas circunstâncias, os agentes pastorais sentem a tentação de adotar não apenas modelos eficazes de gestão, programação e organização tomados do mundo dos negócios, mas também um estilo de vida e uma mentalidade mais guiada por critérios mundanos do êxito e inclusive do poder, do que por critérios que Jesus nos apresenta no Evangelho”. Em seu segundo discurso pronunciado em terra coreana, o Papa Francisco (foto) colocou em alerta, frente aos bispos do país, uma Igreja em grande expansão, mas que pode correr o perigo de cair no triunfalismo ou de se adequar aos modelos do mundo dos negócios.
Fonte: http://goo.gl/JUmwrg |
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 14-08-2014. A tradução é do Cepat.
O Papa, convidando os bispos a ser “guardiães da memória” e “guardiães da esperança”, recordou: “Vocês são herdeiros de uma extraordinária tradição que surgiu e se desenvolveu graças à fidelidade, à perseverança e ao trabalho de gerações de leigos. É significativo que a história da Igreja na Coreia tenha começado com um encontro direto com a Palavra de Deus. Foi a beleza intrínseca e a integridade da mensagem cristã – o Evangelho e seu chamado à conversão, à renovação interior e a uma vida de caridade – o que impressionou Yi Byeok e os nobres anciãos da primeira geração; e a Igreja na Coreia olha essa mensagem, em sua pureza, como um espelho, para se descobrir autenticamente a si mesma”. Em relação ao nascimento da fé no país (graças aos leigos), Francisco acrescentou que, desse modo, “não tiveram a tentação do clericalismo”.
No entanto, acrescentou, “ser guardiães da memória implica algo a mais do que recordar ou conservar as graças do passado. Requer também tirar delas os recursos espirituais para enfrentar com alcance de visão e determinação as esperanças, as promessas e os desafios do futuro. Como vocês enfatizaram, a vida e a missão da Igreja na Coreia não se medem, em último termo, com critérios exteriores, quantitativos ou institucionais; muito melhor, devem ser consideradas à clara luz do Evangelho e em seu chamado à conversão a Jesus Cristo. Ser guardiães da memória significa perceber que o crescimento é dado por Deus (cf. Co 3,6) e, ao mesmo tempo, é fruto de um trabalho paciente e perseverante, tanto no passado como no presente. Nossa memória dos mártires e das gerações anteriores de cristãos deve ser realista, não idealizada ou “triunfalista”. Olhar o passado sem escutar o chamado de Deus à conversão no presente não nos ajudará a avançar no caminho; ao contrário, freará ou, inclusive, deterá nosso progresso espiritual”.
Francisco pediu para que se aceite o “desafio da missão”, desenvolvendo “esse ‘gesto espiritual’ que nos torna capazes de acolher e nos identificar com cada membro do Corpo de Cristo (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 268). Neste sentido, nossas comunidades deveriam mostrar uma solicitude particular pelas crianças e os anciãos”. Em especial, o Pontífice convidou os bispos para cuidar “de maneira particular” da educação dos jovens, não apenas nas universidades, mas também nas escolas católicas de todos os graus, “desde os primeiros níveis”. Insistiu, além disso, na importância da “preocupação com os pobres”, outra das palavras-chave de sua viagem a Coreia do Sul. Para Francisco, esta “solicitude deveria se manifestar não apenas mediante iniciativas concretas de caridade – que são muito necessárias – mas também com um trabalho constante de promoção social, ocupacional e educativa. Podemos correr o risco de reduzir nosso compromisso com os necessitados somente à dimensão assistencial, esquecendo a necessidade que todos têm de crescer como pessoas, e de poder expressar com dignidade sua própria personalidade, sua criatividade e cultura”. A solidariedade para com os pobres, disse, “é um elemento essencial da vida cristã. Mediante uma pregação e uma catequese baseada no rico patrimônio da doutrina social da Igreja, deve permear os corações e as mentes dos fiéis e refletir em todos os aspectos da vida eclesial”.
Ao final, falando sobre os desafios que a Igreja deve enfrentar em uma sociedade cada vez mais secularizada e materialista, Francisco falou sobre a tentação por parte dos agentes pastorais em “adotar não somente modelos eficazes de gestão, programação e organização tomados do mundo dos negócios, mas também um estilo de vida e uma mentalidade mais guiada por critérios mundanos do êxito e inclusive do poder, do que por critérios que Jesus nos apresenta no Evangelho”. Palavras especificamente pensadas para o caso da Coreia do Sul, mas que podem ser aplicadas a outros contextos, a partir da própria reforma da Cúria Romana e de suas estruturas, em particular das que se ocupam das finanças e da economia da Santa Sé, que precisam ser cada vez mais transparentes, mas sem imitar os modelos do mundo dos negócios, esquecendo a unidade e a originalidade da natureza da Igreja.
Francisco acrescentou que em “tempos de desenvolvimento econômico, a Igreja tem a tentação de se esquecer dos pobres e de sua vocação a ser pobre e para os pobres, confiando nas coisas materiais e na organização”.
“Ai de nós – concluiu o Papa – se despojamos a Cruz de sua capacidade para julgar a sabedoria deste mundo! (1 Co 1,17). Incentivo vocês e seus irmãos sacerdotes a rejeitarem esta tentação em todas as modalidades. Deus quer que possamos nos salvar dessa mundanidade espiritual e pastoral que sufoca o Espírito, substitui a conversão pela complacência e termina por dissipar todo o fervor missionário (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 93-97)”.
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Francisco pede aos bispos coreanos que a Igreja não adote os modelos do mundo dos negócios - Instituto Humanitas Unisinos - IHU