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07 Agosto 2014

"Não faz muito, 150 mil pessoas se manifestaram nas ruas de Tel Aviv contra a política do governo israelense em relação aos palestinos e pela criação de um estado palestino na região. Aqueles que se apressam em atribuir qualquer crítica a Israel ao antissemitismo talvez possam explicar a presença de 150 mil antissemitas em Tel Aviv", escreve Luís Fernando Verissimo, escritor, em artigo publicado no jornal Zero Hora, 07-08-2014.

Segundo ele, "é óbvio que a eleição de um governo duro como o liderado por Netanyahu é consequência da ameaça à segurança e à sobrevivência do Estado de Israel, mas Netanyahu não é a cara de Israel, muito menos da cultura e da história do Povo do Livro, e o mandato dado à direita pelo eleitorado não inclui a autorização expressa de matar civis e crianças para fechar túneis, uma missão de difícil compreensão".

Eis o artigo.

Não faz muito, 150 mil pessoas se manifestaram nas ruas de Tel Aviv contra a política do governo israelense em relação aos palestinos e pela criação de um estado palestino na região. Aqueles que se apressam em atribuir qualquer crítica a Israel ao antissemitismo talvez possam explicar a presença de 150 mil antissemitas em Tel Aviv.

O Haaretz é o principal jornal de Israel e um dos mais importantes e respeitados do mundo. A posição do jornal na questão palestina é a mesma dos manifestantes de Tel Aviv. A crítica mais informada e relevante à política da direita no poder em Israel é feita nos seus editoriais e nas colunas de colaboradores como Gideon Levy, citado por Noam Chomsky num recente artigo deste para a revista The Nation, e que é apenas um exemplo dos muitos intelectuais, escritores, artistas, homens públicos e outros cidadãos de Israel que se opõem às ações do seu governo – e não são antissemitas. Antes, preocupam-se em evitar que a maior conquista da anti-diáspora judaica, a construção de uma sociedade moderna, democrática e pluralista numa paisagem inóspita, seja frustrada não pelas areias do deserto, mas pelo radicalismo.

É óbvio que a eleição de um governo duro como o liderado por Netanyahu é consequência da ameaça à segurança e à sobrevivência do Estado de Israel, mas Netanyahu não é a cara de Israel, muito menos da cultura e da história do Povo do Livro, e o mandato dado à direita pelo eleitorado não inclui a autorização expressa de matar civis e crianças para fechar túneis, uma missão de difícil compreensão.

Nos debates que se travam no mundo inteiro sobre os direitos e as culpas dos dois lados no atual conflito, tem-se dado pouca atenção a este outro debate, dentro de Israel e antigo como ele, entre direita e esquerda, teocratas e laicos, falcões e moderados, e que no fundo, sem literatura, é uma disputa pela alma do país.

O Moacyr Scliar, escritor judeu, laico, homem de esquerda, entusiasmado pela experiência social que transcorria em Israel, mas preocupado com os efeitos da radicalização no seu futuro, pregava menos explosão e mais moderação no Oriente Médio. Foi chamado de antissemita.

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