04 Agosto 2014
A noite traz angústia, porque Hassan tem que decidir. Ele reúne os cinco filhos na sala de estar e os divide nos cômodos da casa: do oeste e do mar podem chegar os tiros de canhão dos navios, do leste, as rajadas da artilharia. De cima – e isso vale para todos –, o míssil lançado por um jato.
A reportagem é de Davide Frattini, publicada no jornal Corriere della Sera, 01-08-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Hassan vive à beira das áreas que o Exército ordenou para evacuar, uma região perto do centro da cidade de Gaza, onde a segurança é aparente. "Até que o prédio ao lado do nosso não seja bombardeado", conta.
Samir Hamed vive em Maghazi, perto de Khan Yunis e muito perto da linha de frente, a ampla faixa de um quilômetro, onde os tanques israelenses penetraram. Ele tem dois filhos. A menina foi se refugiar com a avó, o menino, junto com um parente que não mora longe. "Quero que a nossa descendência continue, que ao menos um dos dois se salve. É a única maneira de seguir em frente".
Hisham Musa deslocou os dois filhos de Bureij depois que, há três dias, seis membros de uma mesma família foram mortos. Ele os confiou aos tios. Ele ficou, porque não quer deixar o cubo cinza que ele chama de casa.
Os grupos que tentam ficar unidos são os dos deslocados nas escolas administradas pela UNRWA, a organização das Nações Unidas para os refugiados palestinos. Mais de 230 mil pessoas espalhadas em 85 institutos. Os outros são forçados à rifa da morte, a escolher como se separar. Eles intuem aquilo que as estatísticas da ONU demonstram: permanecer juntos é ainda mais perigoso. Ao menos 68 famílias perderam três ou mais componentes em um único ataque.
Yasser Abu Jamei, que lidera o Gaza Community Mental Health Program, não estava na mesa com os seus familiares quando um míssil atingiu o prédio de três andares, onde ele morava com os irmãos, os primos, os pais. Morreram 28. Desde então, ele não deixa mais Khan Yunis, mas ainda tem que sair de casa. Ele repete o que dizem os outros dizem: "Toda vez que eu vou, dirijo a todos um adeus. Não tenho certeza de reencontrá-los ou de sobreviver".
Os homens saem dos cômodos para recuperar o pão, horas de fila, como no forno de Al Jari, onde aqueles que ainda esperam, chegaram de madrugada e permaneceram do lado de fora do portão de ferro verde por seis horas.
Todos os preços aumentaram nesses 24 dias de guerra: um quilo de pão passou de quatro para sete shekels (de quase 90 centavos de euro a um euro e meio). Mais de 50% dos habitantes de Gaza vivem abaixo da linha de pobreza (dois dólares por dia) indicada pelas Nações Unidas. "Os gestores abriram apenas por alguns minutos e disseram que não distribuirão as pita até que paremos de gritar aqui fora", diz Rami.
Os homens saem dos cômodos para ir rezar na mesquita e aproveitam para carregar o celular. A luz dos celulares e a das velas tornam-se as únicas nas casas que ficaram no escuro. Na terça-feira, um bombardeio israelense atingiu os depósitos de diesel da única central elétrica. O sistema não funciona mais. Será preciso um ano para consertá-lo, dizem os técnicos.
Abu Safir, engenheiro da empresa, explica que, neste momento, a energia distribuída por Israel à Faixa de Gaza vai toda para o hospital Shifa, o maior. "Estamos trabalhando para reativar também as linhas que levam eletricidade a partir do leste". Sempre fornecida pelo outro lado da fronteira.
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''Coloco os filhos em quartos diferentes para salvá-los'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU