25 Julho 2014
O bispo Tony Palmer, pregador evangélico falecido no domingo e que se tornou amigo do Papa Francisco, foi descrito nesta terça-feira como um querido pastor que, nos últimos anos, era uma espécie de filho para o Papa Francisco.
A reportagem é de Sean Salai, jesuíta, publicada pela revista America, 22-07-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O bispo David Scott, da Comunhão de Igrejas Evangélicas Episcopais – CEEC (na sigla em inglês) à qual Palmer pertencia, disse em entrevista por telefone à revista America que o falecido religioso tinha desenvolvido um profundo vínculo paternal com o então cardeal Jorge Mario Bergoglio após um encontro com este numa viagem em missão à Argentina em 2008.
“Espiritualmente, eles se consideravam como ‘pai’ e filho’, muito antes de o arcebispo Bergoglio ter ascendido ao papado”, disse o bispo Scott à revista. “Esta relação bastante estreita era como um vínculo fraternal entre os dois e eu sei que a Sua Santidade se entristece com a gente pelo falecimento de seu filho”.
Palmer, que morreu no domingo após um acidente de moto na Inglaterra, era um prelado sul-africano de origem britânica da Comunhão de Igrejas Evangélicas Episcopais – CEEC, grupo celta anglicano que surgiu de dentro da Comunhão Anglicana em 1995 como parte do “Movimento de Convergência” de paróquias que buscam um meio-termo quanto à identidade anglicana.
“Ele era muito carinhoso e amável”, disse Scott a respeito de Palmer. Foi um bispo católico ou um bispo da CEEC? Eu diria que foi um bispo da Igreja de Deus, com uma fé apostólica, uma esperança, um batismo. Tony tinha um respeito muito profundo e permanente pela Igreja Católica e pelo seu credo”.
Durante um sínodo denominacional ocorrido no último mês de outubro em Orlando, EUA, Scott lembrou que Palmer havia partilhado um vídeo de seu recente ministério de rua na Ilha de Capri.
“Ele era muito bom em ser uma bênção às pessoas nas ruas e em ser um ministro de amor de forma tal que era muito bem-recebido”, disse Scott. “Podíamos ver o quão profundo a sua presença marcava os corações das pessoas. Foi um grande exemplo de liderança”.
A mensagem de Palmer de que a unidade ecumênica já era um fato de batismo, e não um quebra-cabeças teológico a ser montado em declarações oficiais, foi uma abordagem que parecia ecoar os sentimentos do Papa Francisco. Num artigo de 25 de junho de 2013, publicado no site Revival Magazine, Palmer escreveu que a unidade dependia, principalmente, daquilo que estava nos corações dos fiéis – e não na igreja cristã institucional.
“Não importa qual seja a doutrina que tenhamos, não importa a expressão ou denominação a que aderimos, nada substitui o chamado do Senhor para a unidade”, escreveu Palmer.
O arcebispo Charles Hill, amigo de longa data e chefe dos “Ambassadors for Christ Ministries of America”, em Atlanta, EUA, disse que a mensagem de Palmer adquiriu uma influência notável em círculos evangélicos americanos na última década.
“Durante os últimos sete ou oito anos, ele capturou verdadeiramente os corações das pessoas nos EUA”, disse Hill à revista America em entrevista por telefone.
“Ele sabia de seus dons, mas não os exibia de forma arrogante como alguns pregadores fazem. Tony Palmer sempre se manteve humilde e eu acho que este espírito único é o que lhe abriu muitas portas, especialmente em sua relação direta com o papa, que é algo que a maioria dos cristãos desejam e jamais terão”.
Hill disse que o espírito único de Palmer aproximou líderes católicos, protestantes e ortodoxos para debaterem o que os une – dando fim a 40 anos de diálogos ecumênicos difíceis que, muitas vezes, terminavam por causa de diferenças teológicas.
“O bispo Palmer era alguém muito especial que simplesmente trouxe pessoas singulares, de todo tipo, ao redor de uma mesa”, continuou Hill. “Sentiremos sua falta porque não creio que mais alguém tenha estes dons. A sua única missão era provocar a unidade no corpo de Cristo a partir de todas as denominações e de todas as esferas da vida. E estava fazendo um tremendo progresso”.
Hill estava entre os primeiros nos Estados Unidos a noticiar a morte de Palmer segunda-feira, informando em sua página no Facebook que Palmer tinha morrido após um acidente de moto na Inglaterra. Declarações posteriores confirmaram que o religioso havia se submetido a uma cirurgia antes de morrer em um hospital no domingo, dia 20 de julho.
Palmer fez as manchetes internacionais em janeiro durante uma visita ao lado do Papa Francisco no Vaticano, quando usou o seu iPhone para gravar um cumprimento improvisado do Santo Padre para um evento pentecostal que iria acontecer nos Estados Unidos. Num vídeo divulgado publicamente em fevereiro, o Papa Francisco disse aos presentes no encontro pentecostal: “Vamos nos dar um abraço espiritual”.
Ao apresentar o vídeo do papa durante a conferência evangélica (Ministérios de Kenneth Copeland), Palmer também disse ao grupo: “Irmãos e irmãs, o protesto de Lutero terminou. E o de vocês?”
No vídeo, que se tornou viral e inspirou uma série de respostas por parte de protestantes, o Papa Francisco chamou Palmer de “meu bispo irmão”.
Nesta terça-feira, em sua página no Facebook, Kenneth Copeland postou uma nota elogiando a influência de Palmer nas relações ecumênicas.
“O Senhor usou as muitas amizades ministeriais de Tony ao redor do mundo para pôr num um novo nível as relações entre evangélicos e católicos”, lê-se na publicação. “A sua relação pessoal com o Papa Francisco, Kenneth Copeland e com outros líderes cristãos resultou no fortalecimento da fraternidade dentro da igreja e na glória ao Senhor. Ele foi um instrumento neste chamado à unidade, e o impacto de sua fidelidade irá sentida nas gerações por vir”.
O bispo Scott da CEEC, amigo próximo de Palmer e colega, disse que o religioso se considerava “católico” num sentido universal.
“Na comunidade católica romana ele se sentia tão em casa quanto em nossa comunidade”, contou Scott à revista America. “Creio que era sabido e respeitado pelo Papa Francisco”.
Scott expressou a preocupação quanto às dificuldades que haverá para se substituir Palmer nos próximos diálogos. Palmer era o diretor ecumênico da denominação e havia intermediado uma série de encontros com o Papa Francisco.
“A nossa preocupação é que não se perca esta visão”, disse. “Esperamos que nada mude do ponto de vista do Papa Francisco e do Vaticano quanto aos nossos próximos debates em busca da unidade dos cristãos. Mas será bastante difícil para nós encontrarmos uma pessoa com as qualidades, com o caráter e com a natureza do bispo Tony Palmer”.
No entanto, acrescentou: “Estamos mais determinados do que antes de sua morte em alcançar o objetivo da unidade entre os cristãos e em construir pontes no mundo cristão. O que se iniciou com Palmer e com o Papa Francisco, e com outros líderes carismáticos evangélicos que estiveram com eles, está vivo em nossos corações”.
O bispo O Papa e o falecido bispo evangélico eram “pai e filho” disse ainda que levará um tempo para que o rebanho de Palmer se recupere da perda de seu líder, principalmente por causa do tamanho reduzido da denominação.
“Creio que isso seja parte do processo de luto. Quando perdemos alguém, lamentamos em muitos e diferentes níveis, e é assim dentro de nossa comunidade, que é uma comunhão baseada nas relações. Nossas dioceses não são geográficas, mas relacionais, e as relações são muito importante para nós. Assim, perdê-lo foi um verdadeiro golpe em nossos corações e para a nossa organização”.
No site da Ark Community que Palmer fundou, um comunicado incentivava os visitantes a gravarem mensagens de apoio e oração para a sua esposa e família numa página especial do site.
“Nós humildemente pedimos que seja dado à família de Tony espaço para o lamento nestes tempos incrivelmente difíceis, mas encorajamos a todos que deixem aqui suas condolências”, diz a mensagem.
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O Papa e o falecido bispo evangélico eram “pai e filho” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU