21 Julho 2014
O arcebispo Justin Welby escreveu aos parceiros de ecumênicos sobre a decisão do Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra de permitir que as mulheres tornem-se bispas, enfatizando que as Igrejas "precisam umas das outras".
O texto de sua carta foi publicado no sítio pessoal do arcebispo Justin Welby, Archbishop of Canterbury, 17-07-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Eis o texto.
Venho por meio desta com cordiais saudações cristãs e o desejo de comunicar-lhes pessoalmente a decisão do Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra a admitir mulheres ao episcopado.
Essa é uma ocasião de profunda alegria para muitos, especialmente para muitas das mulheres do clero na Igreja da Inglaterra. Elas sentem que essa decisão afirma o seu lugar e ministério na vida da Igreja. Para outros, na Igreja da Inglaterra, a decisão pode ser uma fonte de decepção e preocupação.
À medida que o Sínodo se conduzia para a decisão, muitos ficaram impressionados com o espírito do debate: franqueza, paixão e, fico contente em dizer, uma boa dose de caridade cristã. Tudo indicava uma intenção sincera e uma garantia de manter todos juntos em uma só Igreja. Não parecia uma determinação de que as diferenças sobre a questão da ordenação de mulheres ao episcopado deve se tornar um fator de divisão na Igreja da Inglaterra, e havia cuidado e expressões de amor para com aqueles preocupados com o resultado.
Os bispos têm procurado construir a confiança em toda a Igreja. Os cinco princípios apresentados por eles em sua declaração partem do pacote aprovado. Os princípios 3 e 4 são ecumenicamente relevantes.
Eu apresento a seguir estes princípios:
1. Agora que foi aprovada a legislação para permitir que as mulheres tornem-se bispas da Igreja da Inglaterra, esta está total e inequivocamente empenhada para que todas as ordens de ministério estejam abertas igualmente para todos, sem referência ao sexo, e sustenta que aqueles a quem ela devidamente ordenar e nomear ao ofício são os verdadeiros e legítimos titulares do cargo que ocupam e, portanto, merecem o devido respeito e obediência canônica;
2. Quaisquer ministros dentro da Igreja da Inglaterra devem estar preparados para reconhecer que a Igreja da Inglaterra chegou a uma decisão clara sobre o assunto;
3. Uma vez que continua a dividir o episcopado histórico com as outras Igrejas, incluindo a Igreja Católica Romana, a Igreja Ortodoxa e as províncias da Comunhão Anglicana que continuam a ordenar apenas homens como sacerdotes ou bispos, a Igreja da Inglaterra reconhece que sua própria e clara decisão sobre o ministério e gênero está definida dentro de um processo mais amplo de discernimento dentro da Comunhão Anglicana e de toda a Igreja de Deus;
4. Aqueles dentro da Igreja da Inglaterra que, em razão da convicção teológica, são incapazes de receber o ministério de mulheres bispos ou padres continuam a estar dentro do espectro do ensino e da tradição da Comunhão Anglicana, e a Igreja da Inglaterra continua empenhada em permitir-lhes florescimento dentro de sua vida e de estruturas; e
5. Provisões pastorais e sacramentais para a minoria dentro da Igreja da Inglaterra serão estabelecidas sem especificar um limite de tempo e de uma forma que mantenha o mais alto grau possível de comunhão e contribua para o florescimento mútuo em toda a Igreja da Inglaterra.
A Igreja da Inglaterra continua em sua busca de tornar a nossa unidade mais visível com as pessoas com quem estamos em comunhão e de uma maior unidade com aqueles com os quais ainda não estamos em comunhão. Algumas das nossas Igrejas irmãs em comunhão irão compartilhar a alegria de quem, na Igreja da Inglaterra, acolhe o desenvolvimento de permitir mulheres no episcopado. Mas também estamos cientes de que outros dos nossos parceiros ecumênicos podem achar isso uma dificuldade a mais no caminho para a plena comunhão. Há, no entanto, muito que nos une, e rezo para que os laços de amizade continuem a ser reforçados e que o entendimento das nossas tradições cresça.
Finalmente, é claro para mim que, embora o nosso diálogo teológico irá enfrentar novos desafios, há, contudo, muitas dificuldades em nosso mundo de hoje que o nosso testemunho comum do Evangelho é mais importante do que nunca. Há conflitos em muitas regiões do mundo, pobreza aguda, desemprego e um fluxo de pessoas oprimidas expulsas de seus próprios países que buscam refúgio em outro lugar. Precisamos uns dos outros, já que nós, Igrejas capacitadas pelo Espírito Santo, à altura do desafio, proclamamos as boas novas do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e nos esforçamos para uma comunhão mais estreita e uma maior unidade. Eu reconheço que existem questões que levantam dificuldades, mas eu também obtenho coragem pelas palavras transmitidas a um de meus antecessores por um significativo irmão ortodoxo que prezo muito:
Apesar de tais obstáculos, não podemos nos permitir congelar o amor entre nós, que também se manifesta no diálogo para "correr com perseverança a carreira que nos está proposta" com a boa esperança de que o Senhor poderoso e misericodioso "não permitirá que sejam tentados acima das forças que vocês têm. Mas, junto com a tentação, ele dará a vocês os meios de sair dela e a força para suportá-la" (1 Coríntios 10,13).
Por isso, é com esse espírito que eu os cumprimento e peço suas orações para o nosso ministério na Igreja da Inglaterra.
Reverendíssimo e honorável Justin Welby
Arcebispo de Canterbury
16 de julho de 2014
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Arcebispo de Canterbury escreve a seus parceiros de ecumenismo sobre as bispas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU