17 Julho 2014
Aos olhos do arcebispo Desmond Tutu ainda há "o sofrimento" de Nelson Mandela, o presidente e o mito da África do Sul, forçado a se arrastar de um hospital ao outro, submetido a tratamentos dolorosos até os 95 anos.
A reportagem é de Giuseppe Sarcina, publicada no jornal Corriere della Sera, 14-07-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Tutu, a consciência religiosa do povo sul-africano, escreveu no jornal britânico The Observer que aqueles tratamentos, aquela insistência dos médicos até o último dia devem ser considerados como uma "desgraça".
"Tive a sorte de passar a minha vida trabalhando pela dignidade do viver. Agora espero poder aplicar a minha mente à questão da dignidade do morrer. Eu reverencio a santidade da vida, mas não a qualquer custo."
As palavras de Tutu, 82 anos, estão alimentando o debate britânico sobre a eutanásia, já em pleno desenvolvimento. Na próxima sexta-feira, o Lorde Charles Falconer (trabalhista, 62 anos) vai apresentar à Câmara Alta um projeto de lei que permitirá apenas que o médico interrompa a vida de um paciente terminal que tem uma esperança de sobrevivência inferior a seis meses. Portanto, não se trata de um procedimento que legaliza a eutanásia como escolha voluntária do paciente.
O país inteiro se confronta com um dos temas-chave da modernidade, que põe em causa as liberdades pessoais, as convicções éticas e religiosas, os limites da ciência. O debate no parlamento promete ser um dos mais intensos. Já se inscreveram para falar 110 lordes de um total de 826 membros.
A Igreja Anglicana está atravessada por dúvidas que serão ampliadas depois das reflexões de Tutu e a recordação de Mandela forçado a posar para uma foto oficial poucos dias antes de morrer.
No sábado, o ex-arcebispo de Canterbury, George Carey, também havia se pronunciado em favor do projeto de lei, obrigando o chefe da Igreja Anglicana, Justin Welby, a reafirmar a doutrina tradicional, contrária a qualquer interrupção voluntária e "artificial" da vida humana.
No entanto, o bispo de Carlisle, James Newcome, propôs a criação de uma "comissão real" para examinar "a importante questão" em profundidade.
Portanto, o tema é "importante" demais para liquidá-lo, em um sentido ou em outro, com uma discussão superficial ou tendenciosa. A referência a uma personalidade como Tutu mostra como diante da morte até mesmo as hierarquias religiosas devem encontrar o tempo e o modo para parar e refletir. Não só sobre o mistério espiritual da morte, mas também sobre a sua dramaticidade e, muitas vezes, a sua desumana insustentabilidade.
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O fim da vida de Mandela: ''uma desgraça'', afirma Desmond Tutu - Instituto Humanitas Unisinos - IHU