16 Julho 2014
"O legado da Copa estava se consolidando e o mundo aplaudia o Brasil! Até mesmo os protestos esperados, vendo o que o país havia conquistado, foram cancelados", escreve Eloy Casagrande Jr., coordenador do Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em crônica publicada pelo portal EcoDebate, 15-07-2014.
Eis a crônica.
Dia 14 de julho de 2014, contrariando todas as segundas-feiras, foi a mais alegre do Brasil. As pessoas bem humoradas, dizendo bom dia a desconhecidos, rindo a toa, cantando nas ruas, a caminho do trabalho, da feira, da escola. Sim, esta tinha sido a Copa das Copas. Começando pelo transporte público que melhorou muito, os ônibus estavam mais confortáveis, trafegando em vias exclusivas, sem demora e com passagens mais baratas, sem falar dos cinco mil quilômetros de ciclovias construídos nas diversas capitais espalhadas pelo país. Isto dava orgulho! Ao se decidir que não se construiria mais doze estádios e sim oito, uma vez que ao menos quatro deles (Natal, Cuiabá, Manaus e Brasília) seriam sérios candidatos a “elefantes brancos”, pôde-se reverter este dinheiro para a construção das escolas, creches, postos de saúde e hospitais. Foram cerca de R$3.5 bilhões de investimentos para os setores que foram mais demandados nos protestos de rua de 2013, quando o “gigante acordou”. Já um acordo com FIFA permitiu que os impostos que seriam perdoados pelo governo brasileiro à instituição, cerca de R$1.1 bilhão somente de impostos federais, pudessem ser usados para a indenização e construção das casas de quase 200 mil pessoas desapropriadas para as obras da Copa.
Com ajuda do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), oito novos hospitais foram construídos para cada estádio erguido, assim como cem novas escolas. Todos os projetos executados dentro dos princípios da construção sustentável, com certificação ambiental, elogiados pela mídia internacional, mostrando que o Brasil também podia fazer parte do Primeiro Mundo. Outros R$500 milhões foram usados para construção de centros esportivos menores nas cidades que ficaram sem os estádios, incentivando assim o esporte na sua base, em diversas modalidades.
Os sistemas de energia solar colocados nos oitos estádios em parceria com as concessionárias, transformaram as arenas em mini-usinas. Sendo que somente 10% desta energia é utilizada nos estádios, os outros 90% alimentam residências a um custo menor. Somando cerca de 12 MWp (Mega-Watts), com cerca de 50 mil módulos fotovoltaicos instalados, os projetos injetam em média 8MW no sistema de distribuição de energia elétrica do país, o suficiente para abastecer cerca de 10 mil residências. Uma economia de energia nunca vista antes, diminuindo assim o risco de racionamento durante os períodos de pouca chuva.
Quanto a infraestrutura para a mobilidade, esta foi exemplar, pois estradas foram recuperadas, viadutos foram construídos, áreas de lazer, como praças e jardins foram estrategicamente implantados em áreas degradadas de centros urbanos e em áreas de estacionamentos desapropriados. Isto foi possível graças a redução do número de veículos nas cidades, já que o programa de incentivo ao uso das bicicletas e dos carros compartilhados foi um sucesso. Sem falar é claro, do aumento das linhas de metro e também dos sistemas de BRT (Bus Rapid Transit) que aumentaram em 600% seu atendimento ao público. Os ônibus elétricos ainda ajudaram a melhorar a qualidade do ar, pois caíram consideravelmente as emissões de carbono.
Na área de saneamento, pode-se perceber a volta da biodiversidade a Baía de Guanabara despoluída, assim como dava vontade até de pescar nos Rios Tiête e Pinheiros da cidade de São Paulo e nos Rio Belém e Barigui, em Curitiba, com águas cristalinas e cheias de peixes. A qualidade das obras e controle sob o uso do dinheiro público foram alcançadas graças as CMTs (Comissões Mistas Transparentes) formada por membros dos CREAs (Conselhos Regionais de Engenharia), das universidades e de representantes da sociedade civil organizada. Nenhuma obra foi atrasada, verba mal utilizada ou desviada, tudo era cuidadosamente publicado no portal da transparência.
Também foi significativa a redução de resíduos e as novas abordagens no tratamento, graças as parcerias com as universidades na busca de soluções inovadoras. O programa para diminuir o resíduo orgânico foi alcançado por meio de incentivos a compostagem e minhocultura, que foram conquistando a sociedade pouco a pouco, uma vez que se iniciou com dois anos de antecedência. Com orientação de professores e alunos, a população passou a criar hortas urbanas em seus quintais, áreas de jardins de prédios, praças públicas, terrenos abandonados, resolvendo ao mesmo tempo o problema do seu próprio lixo e o acesso a alimentos mais saudáveis. Estes novos hábitos, também ajudaram a criar um senso de comunidade nos bairros, aumentando a segurança e fazendo com as pessoas trabalhassem para o coletivo. O legado da Copa estava se consolidando e o mundo aplaudia o Brasil! Até mesmo os protestos esperados, vendo o que o país havia conquistado, foram cancelados.
A arte e a cultura não foram esquecidas devido a nova lei aprovada, que reservou 1% do PIB (Produto Interno Bruto) de cada Estado para o financiamento de mais de mil projetos de teatro, dança e audiovisual. É claro que o Brasil não ter sido hexa campeão deixou alguns tristes, mas também serviu para uma reformulação completa na CBF, profissionalizando a instituição e livrando a mesma dos “cartolas-políticos”, consolando assim o esperançoso povo brasileiro para 2018. Ah, sim, esta foi a verdadeira Copa das Copas. Anfitriões que receberam todos os povos de braços abertos e com alegria, afinal tinha seu legado: um país melhor! A derrota da seleção canarinha foi apenas um detalhe!
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Crônica do legado perdido da Copa das Copas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU