05 Junho 2014
A polêmica a respeito de possíveis erros no trabalho do economista francês Thomas Piketty, apontados pelo jornal britânico "Financial Times", vem gerando dúvidas dentro e fora da academia.
Pode ser difícil entender como dados aparentemente objetivos levam pesquisadores a conclusões distintas sobre "O Capital no Século 21".
A reportagem é de Paula Leite, publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 05-06-2014.
O que acontece é que os números não vão diretamente da realidade à teoria econômica: os pesquisadores têm que ajustá-los, corrigi-los e aplicar procedimentos matemáticos para extrair deles conclusões.
Dependendo das hipóteses que justificam essas correções, pesquisadores podem chegar a conclusões diferentes baseando-se nos mesmos dados.
"A pesquisa histórica, como a do Piketty, é diferente de uma pesquisa feita com dados atuais, que vêm mais prontos'. Com dados históricos você tem que fazer algumas hipóteses", diz Naércio Menezes Filho, economista e pesquisador do Insper.
No caso de Piketty, ele teve que fazer ajustes para comparar dados de países diferentes e "preencher" dados faltantes de períodos.
Segundo especialistas, o importante é deixar claro quais foram os critérios e fórmulas usadas para essas alterações nos dados.
Mas Rodrigo De Losso, economista e pesquisador da Universidade de São Paulo, diz que hoje é comum em artigos científicos de economia que os mesmos dados sejam submetidos a diferentes ajustes e diferentes tratamentos estatísticos para ver se as conclusões gerais se mantêm.
"Se você muda o método, os números vão ser um pouco diferentes, mas o resultado qualitativo não deveria mudar", diz ele.
Esse é um dos problemas apontados por Chris Gilles, do "Financial Times", a um dos capítulos do livro: se forem usadas outras séries históricas e alterados alguns ajustes, a conclusão de que a desigualdade está aumentando muda completamente.
Piketty respondeu ao "FT" dizendo que os dados usados por ele são mais confiáveis e explicou os ajustes que fez.
Pesquisadores lembram que o processo para publicar um artigo numa revista científica é mais rigoroso que para a publicação de um livro.
Na área econômica, revisores de revistas científicas podem pedir todos os dados e softwares estatísticos usados e tentar replicar os resultados. "Isso vai depender da reputação do pesquisador. Não se confere tudo", diz Samuel Pessôa, pesquisador da Fundação Getulio Vargas e colunista da Folha.
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Pesquisadores discutem possíveis erros de Thomas Piketty em livro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU