Por: André | 04 Junho 2014
Cerca de dez dicastérios encontram-se num clima de incertezas. Assim como seus atuais dirigentes. Entre eles, os cardeais Burke, Cañizares, Versaldi e Coccopalmerio. E os arcebispos Paglia, Celli e Fisichella.
A reportagem é de Sandro Magister e publicada no sítio italiano Chiesa, 03-06-2014. A tradução é de André Langer.
Fonte: http://bit.ly/1mQ2E4W |
“Reunir alguns dicastérios, por exemplo, para acelerar um pouco a organização”. Foi o que disse o Papa Francisco que pretende fazer na cúria romana, ao responder aos jornalistas no voo de volta da sua peregrinação pela Terra Santa.
Não é segredo que a fusão dos dicastérios seja uma das mudanças estudadas pelo Conselho dos oito cardeais – o chamado C8 –, escolhido pelo Pontífice para ajudá-lo na reforma da cúria e no governo da Igreja universal.
Mas, pela primeira vez foi o próprio Francisco quem indicou expressamente este objetivo. O Papa acrescentou que o C8 irá discutir esta questão tanto na reunião de quatro dias prevista para o mês de julho, como em uma reunião posterior agendada para setembro.
Jorge Mario Bergoglio não fez alusão a quais poderiam ser as fusões propostas.
Mas, se cruzarmos alguns dados, já é possível intuir desde agora quais são os dicastérios mais ameaçados.
Comecemos por uma primeira consideração.
Uma vez eleitos, os antecessores imediatos do Papa Francisco, ao curso de poucas semanas, já haviam confirmado em seus cargos os dirigentes de todos os dicastérios curiais que caducaram durante a sede vacante.
Francisco, ao contrário, não seguiu esta práxis. A prova disso é que quase 15 meses após sua eleição ainda há um bom número de dicastérios que não tiveram a confirmação da sua liderança, nem dos cardeais e bispos que os compõem.
Até hoje, o Pontífice confirmou a cúpula da Secretaria de Estado, da Prefeitura da Casa Pontifícia, da Oficina das Cerimônias Litúrgicas e de oito das nove Congregações existentes, ou seja, da Doutrina da Fé, das Igrejas Orientais, das Causas dos Santos, dos Bispos, da Evangelização dos Povos, do Clero, dos Religiosos e da Educação Católica. Mas não a cúpula da Congregação para o Culto Divino.
O Papa Francisco confirmou, além disso, as cúpulas de cinco Pontifícios Conselhos (Leigos, Unidade dos Cristãos, Justiça e Paz, Diálogo Inter-religioso, Cultura), mas não as dos outros seis: Família, Cor Unum, Migrantes, Textos Legislativos – para os quais foi nomeado um novo subsecretário –, Comunicações Sociais e Nova Evangelização.
Nem sequer foi confirmada a cúpula da Assinatura Apostólica – para a qual, de qualquer modo, foi nomeado um secretário adjunto –, nem a da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica, a APSA, nem da Prefeitura para os Assuntos Econômicos.
Ao passo que entre as Pontifícias Comissões foi confirmada somente a da América Latina, vinculada à Congregação para os Bispos, mas ainda não as três vinculadas à Doutrina da Fé (Ecclesia Dei, Comissão Bíblica e Comissão Teológica Internacional), nem a da Arqueologia Sacra, vinculada ao Conselho para a Cultura.
Dito isto, é interessante notar também o que aconteceu no dia 22 de maio passado, quando os novos cardeais criados em fevereiro passado pelo Papa Francisco foram nomeados para os dicastérios curiais. Nomeações que tiveram um apêndice no dia 28 de maio com a inclusão do novo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, na Congregação para a Doutrina da Fé.
O que em geral aconteceu é que os novos cardeais foram distribuídos única e exclusivamente nos dicastérios já confirmados pelo Papa Francisco, inclusive a Pontifícia Comissão para a América Latina, mas não nos outros ainda suspensos.
Nenhum novo cardeal, portanto, foi indicado para a Congregação para o Culto Divino, que até Paulo VI formava uma só com a Congregação para a Causa dos Santos, com o nome de Congregação para os Ritos.
Da mesma maneira, nenhum novo cardeal foi designado para os Pontifícios Conselhos para a Família, os Migrantes, os Textos Legislativos, as Comunicações Sociais, a Nova Evangelização e Cor Unum. Também não houve nomeações para a Assinatura Apostólica e a APSA.
Uma simples coincidência? Ou são justamente estes os dicastérios que passarão por fusões?
É preciso, em todo o caso, levar em conta o fato de que, na quase totalidade dos casos, os dirigentes do dicastério que o Papa Francisco confirmou em suas funções já ocupavam esses cargos antes que fosse eleito papa. Não obstante os julgamentos universalmente negativos que pesavam sobre a cúria que eles dirigiam e da demanda geral de uma mudança de homens antes mesmo das estruturas.
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Para comodidade dos leitores, apresentamos na sequência uma lista dos cardeais e bispos que atualmente estão na direção dos organismos da cúria romana propriamente dita.
Os eclesiásticos confirmados no cargo aparecem em negrito e sublinhados em negrito as novas nomeações feitas pelo atual pontífice.
A esta lista se acrescenta, obviamente, a Secretaria para os Assuntos Econômicos criada pelo Papa Francisco, que colocou à frente da mesma, como prefeito, o cardeal australiano George Pell, 73 anos de idade.
Secretaria de Estado
- Cardeal Pietro Parolin, 59 anos de idade, diplomata italiano, secretário de Estado
- Arcebispo Angelo Becciu, 66 anos de idade, diplomata italiano, substituto para os Assuntos Gerais
- Arcebispo Dominique Mamberti, 62 anos de idade, diplomata francês (Córcega), secretário para as Relaciones com os Estados
Congregações
- Cardeal Gerhard L. Müller, 67 anos de idade, alemão, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé
- Arcebispo Luis Ladaria, 70, jesuíta espanhol, secretário
- Arcebispo Augustine Di Noia, 71, dominicano estadunidense, secretário adjunto
- Cardeal Leonardo Sandri, 71, diplomata argentino, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais
- Arcebispo Cyril Vasil, 49, jesuíta eslovaco, secretário
- Cardeal Antonio Cañizares Llovera, 69, espanhol, prefeito da Congregação para o Culto Divino
- Arcebispo Arthur Roche, 64, inglês, secretário
- Cardeal Angelo Amato, 76, salesiano italiano, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos
- Arcebispo Marcello Bartolucci, 70, italiano, secretário
- Cardeal Marc Ouellet, 70, sulpiciano canadense, prefeito da Congregação para os Bispos
- Arcebispo Ilson de Jesus Montanari, 55, brasileiro, secretário
- Cardeal Fernando Filoni, 68, diplomático italiano, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos
- Arcebispo Savio Hon Tai-fai, 64, salesiano chinês, secretário
- Arcebispo Protase Rugambwa, 54, tanzaniano, secretário adjunto
- Cardeal Beniamino Stella, 73, diplomático italiano, prefeito da Congregação para o Clero
- Arcebispo Celso Morga Iruzubieta, 66, espanhol, da Opus Dei, secretário
- Arcebispo Jorge Carlos Patron Wong, 56, mexicano, secretário para os Seminários
- Cardeal João Braz de Aviz, 67, brasileiro, prefeito da Congregação para os Religiosos
- Arcebispo José Rodríguez Carballo, 61, franciscano espanhol, secretário
- Cardeal Zenon Grocholewski, 75, polaco, prefeito da Congregação para a Educação Católica
- Arcebispo Angelo Zani, 64, italiano, secretário
Tribunais
- Cardeal Mauro Piacenza, 70, italiano, penitenciário
- Cardeal Raymond Leo Burke, 66, estadunidense, prefeito da Assinatura Apostólica
- Arcebispo Frans Daneels, 73, premonstratense belga, secretário
- Bispo Giuseppe Sciacca, 59, secretário adjunto
Pontifícios Conselhos
- Cardeal Stanislaw Rylko, 69, polonês, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos
- Bispo Josef Clemens, 67, alemão, secretário
- Cardeal Kurt Koch, 64, suíço, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos
- Bispo Brian Farrell, 70, irlandês dos Legionários de Cristo, secretário
- Arcebispo Vincenzo Paglia, 69, italiano, presidente do Pontifício Conselho para a Família
- Bispo Jean Laffitte, 62, francês, secretário
- Cardeal Peter Turkson, ganês, 66, presidente do Pontifício Conselho Justiça y Paz
- Bispo Mario Toso, 64, salesiano italiano, secretário
- Cardeal Robert Sarah, 69, guineano, presidente do Pontifício Conselho “Cor Unum”
- Cardeal Antonio M. Vegliò, 76, diplomático italiano, presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e dos Itinerantes
- Bispo Joseph Kalathiparambil, 62, indiano, secretário
- Arcebispo Zimowski Zygmunt, 65, polonês, presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os Operadores de Saúde
- Cardeal Francesco Coccopalmerio, 76, italiano, presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos
- Bispo Juan Ignacio Arrieta, 63, espanhol, da Opus Dei, secretário
- Cardeal Jean-Louis Tauran, 71, diplomático francês, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso
- Cardeal Gianfranco Ravasi, 72, italiano, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura
- Bispo Carlos Alberto de Pinho Moreira Azevedo, 61, português, delegado
- Bispo Barthelemy Adoukonou, 72, beninense, secretário
- Arcebispo Claudio Maria Celli, 73, diplomático italiano, presidente do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais
- Arcebispo Rino Fisichella, 63, italiano, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização
- Arcebispo Octavio Ruiz Arenas, 70, colombiano, secretário.
Oficinas
- Cardeal Domenico Calcagno, 71, italiano, presidente da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica
- Cardeal Giuseppe Versaldi, 71, italiano, presidente da Prefeitura para os Assuntos Econômicos da Santa Sé
Outros Organismos
- Arcebispo Georg Gänswein, 58, alemão, prefeito da Casa Pontifícia.
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Cortes e fusões na cúria. Aqui apresentamos em quais organismos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU