Por: Jonas | 21 Mai 2014
Nos últimos dias, a moda dos autorretratos de políticos ganhou uma magnitude excepcional. Em alguns casos, com uma clara mensagem eleitoral, em outros, nem tanto. O jornal Página/12 consultou especialistas em comunicação política para analisar o fenômeno.
Fonte: http://goo.gl/xlq41S |
A reportagem é de Sebastian Abrevaya, publicada por Página/12, 18-05-2014. A tradução é do Cepat.
A moda dos autorretratos, mais conhecidos como selfies, começou a se aproximar do campo da política, em sintonia com o uso cada vez mais desenvolvido das redes sociais. Porém, esta prática habitual entre jovens e adolescentes, popularizada e massificada a partir de casos pontuais, como na foto de Ellen DeGeneres na entrega dos prêmios Oscar, assumiu nos últimos dias uma protagonismo excepcional na política doméstica, com as imagens de Mauricio Macri junto a Facundo Moyano e de Sergio Massa com Cristian Ritondo e Diego Kravetz, onde além da selfie havia também uma clara mensagem política, tanto para dentro como para fora de seus próprios espaços. “Uma selfie é a própria imediatez. É o hoje, com uma fragrância eleitoral e imanência muito forte. E esta surge quando se favorece de modo muito exagerado a transmissão de uma ideia espúria, pela facilidade com a qual a publicidade política provê soluções, ou quando se evidencia a substituição da liderança política por métodos estrondosos de marketing”, afirma Mario Riorda, consultor em estratégia e comunicação política e ex-decano da Faculdade de Ciência Política, da Universidade Católica de Córdoba.
Como fenômeno relativamente recente e em constante transformação, o uso das redes sociais por parte dos políticos foi mudando de uma presença mais formal, institucional, na qual apenas eram transmitidas atividades ou notícias de imprensa, para um uso mais desestruturado, informal e vinculado com situações da vida cotidiana. “As redes, em geral, permitem você expressar o que sente, o que acredita, com liberdade, e fundamentalmente, também, a se conectar com o que ocorre no mundo, conectar-se a partir da família, do pessoal, do cotidiano, e eu acredito que isto vale muito, muitíssimo”. A reflexão, neste caso, não pertence a um analista de novas tecnologias, mas ao mural do Facebook da presidente Cristina Fernández. O jornal Página/12 consultou especialistas em comunicação política para analisar um fenômeno que tem uma presença cada vez mais forte.
O sociólogo e diretor da área de Comunicação e Cultura da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), Luis Alberto Quevedo, diferencia três tipos de fotos políticas: a foto publicitária, aquela que é elaborada para um panfleto ou cartaz e que é administrada pelo político; a foto jornalística, uma foto inesperada e manejada pelo jornalista; e a foto produzida, na qual há uma negociação entre o político e o jornalista. “As três comunicam, têm seus efeitos políticos e seus objetivos”, destaca Quevedo, em conversa com este jornal. Nesse esquema, a selfie surge para Quevedo como uma técnica produto de uma prática social que não parece “mudar a história entre a política e as imagens”. No momento, não parece constituir uma “linguagem de comunicação nova em si”, já que, entre outras coisas e segundo a maioria das imagens conhecidas no momento, não se trata de uma mostra de intimidade como pode ser o caso de celebridades ou, inclusive, do usuário “comum” das redes sociais. A maioria das selfies políticas é “escolhida e selecionada pelo político, tanto em sua produção como em sua circulação”.
“Não se mostrou a eficácia política destas fotos ou que seja uma nova linguagem de comunicação. Não acredito que um eleitor que olhe um autorretrato [de um político] mude sua relação com o político a partir dele. Pode considerá-lo ridículo ou simpático, mas não pelo fato de que a foto foi tirada por ele próprio”, conclui Quevedo, restringindo o fenômeno a “uma novidade técnica e não política”.
Em outro ponto de vista, Riorda esclarece que desde que existem meios de comunicação massivos há uma “ritualização mutável” para adaptar a comunicação aos parâmetros estratégicos que, muitas vezes, [eles] estão “dispostos a satisfazer os padrões dos próprios meios de comunicação, mesmo que – em muitas circunstâncias – com consequências desafortunadas para a política”. Em sintonia com Quevedo, o especialista cordovês destaca que é muito difícil discernir que tipo de efeitos a comunicação política gera e no caso das selfies acontece o mesmo. Com uma visão crítica sobre os usos “inescrupulosos” dos postulados de “surpresa, ação e êxito”, que a comunicação política não pode evitar, Riorda sustenta que a aproximação da opinião pública não pode se dar “de modo exclusivo por meio de pseudo-acontecimentos ou priorizando exclusivamente os prazos curtos da comunicação, porque contribui para aumentar a “má fama” da comunicação política”.
Segundo Riorda, as selfies por si mesmas “não têm muito sentido”, caso não se expandam convergentemente para outros meios de comunicação massivos. “Que os famosos a façam como prática, não significa que os famosos tenham a expectativa das respostas públicas que um político possui. E nem toda selfie na política tem efeito viral. Aquelas que mais tiveram eco são as chamadas usies (derivado de “nós”, “us” em inglês) que são as selfies grupais, vale dizer, aquelas fotos grupais que um dos integrantes da própria foto tira”, detalha.
O consultor explica que este fenômeno se dá em um contexto onde os tuítes com imagem se expandem 60% e que existe a necessidade, por parte de candidatos ou políticos, de “descontrair sua imagem para diminuir a lacuna/fresta da representação” e os novos eleitores vivem paralelamente nas redes. E por isso, adverte Riorda, esta prática está cada dia mais forte, “mesmo com os enormes riscos de geração de perfis fúteis, ególatras, vaidosos ou, o que é pior, de se expor ao ridículo”.
Como advertência final, o ex-decano da Faculdade de Ciência Política, da Universidade Católica de Córdoba, sustenta que “toda vez que a política se viu colonizada por parte do sistema de meios de comunicação (os anos 1990 foram um claro exemplo), as consequências para a política não foram boas”. Quando a política cai na leviandade de argumentos e cede na agenda a uma mudança de estilo, “transforma-se em ‘politainment’”. “Quando isso acontece os beneficiários são os meios de comunicação, não a política”, conclui.
“A selfie é amadurecimento, paradoxalmente porque em algum ponto é uma prática infantil do uso dos meios sociais. Expressam o que tem desejo de expressar e não somente em termos políticos”, afirma o especialista em comunicação digital, Pablo Capurro, que como Quevedo adverte que muitos políticos não fazem um uso “genuíno” do recurso, ou seja, não se trata de uma foto espontânea, mas, sim, pensada e planejada pelo político. Porém, diferente da caracterização como uma mera técnica, Capurro sustenta que esta ferramenta pode ser assumida, também, como um conteúdo em si mesmo. “Uma selfie é uma técnica que também é uma mensagem, que entrou na moda na Internet, e que assim como um formato a mais que entra na moda, o político que quer falar o código da Internet, o do diálogo digital, procura isso. No entanto, não é algo novo, não é um fenômeno que nasceu com o Twitter e o Facebook”, sustenta Capurro.
Algumas concebidas com precisão cirúrgica, outras espontâneas, as selfies já integram a longa lista de ferramentas que a classe política local incorporou como próprias e cujo futuro é, como o de cada um de seus dirigentes, incerto.
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A política selfie - Instituto Humanitas Unisinos - IHU