22 Junho 2013
Uma nova forma de fazer política está se espalhando por todo o mundo, radicalmente diferente da que conhecemos até agora e de difícil compreensão e gestão para os velhos profissionais do ofício.
A reportagem é de Luís Bassets, publicada no jornal El País e reproduzida no Portal Uol, 21-06-2013.
Funciona sem líderes e sem contar com a infraestrutura, o dinheiro e o apoio de grandes partidos e sindicatos majoritários. Não se baseia em estruturas organizativas, centros de comando ou coordenadorias com as quais dialogar ou que possam ser desarticuladas mediante a detenção de seus componentes. Tampouco com programas que permitam respostas políticas, embora partam da centelha de uma reivindicação clara e popular.
Expressa-se em súbitas e maciças mobilizações urbanas, com ocupação de espaços simbólicos e centrais nas cidades, que quase sempre apanham as autoridades de surpresa e põem à prova a capacidade de articulação do sistema estabelecido, transformado no adversário designado pelos jovens decididos a expressar seu protesto.
Não importa que o regime seja uma ditadura ou uma democracia pluralista, que o país pertença à elite dos mais ricos ou seja um dos emergentes, que sua sociedade seja de cultura cristã ou islâmica. Em toda parte se evidencia a mesma distância entre a rua e as instituições; a mesma denúncia da corrupção e do enriquecimento de alguns às custas dos outros; o mesmo fastio diante de uma forma de tomar decisões que comprometem o futuro em detrimento da população.
A concatenação dos atuais protestos na Turquia e no Brasil ilumina um fenômeno que vem ocorrendo desde 2008 em todos os continentes e em uma longa lista de países, cada um por suas circunstâncias precisas, e que teve nas primaveras árabes de 2011 seu momento mais espetacular até conduzir à queda de três ditaduras na Tunísia, Egito e Líbia. Na lista estão Irã, Grécia, Portugal, Itália, Israel, Chile, México, Estados Unidos e Rússia, além dos indignados espanhóis.
Todos esses novos movimentos sociais, que vêm agitar as ideias recebidas e transformar a paisagem de nossas sociedades, fazem parte de uma transformação que afeta o planeta inteiro e encontrou nas redes sociais o instrumento organizativo mais bem adaptado às características dos novos tempos.
O poder está se deslocando a olhos vistos do velho mundo ocidental para a Ásia; mas também no interior das sociedades. Surgem em todo o mundo novas classes médias com demandas crescentes de riqueza, educação, moradia, consumo e, naturalmente, também de bem-estar e liberdade individual. O aumento de seu nível de vida, longe de moderar suas demandas, faz crescer as expectativas e, imediatamente, quando não são cumpridas, as exigências e a irritação.
Esses jovens que tiveram acesso à educação e ao trabalho, com frequência precário e mal pago, têm telefones celulares e tablets com os quais comunicar sua insatisfação e organizar a expressão de seu protesto. À diferença dos velhos meios de comunicação, lentos e pesados, essas ferramentas são instantâneas, atuam de forma viral, aceleram o protesto e são uma forma organizativa em si mesmas. Segundo seu melhor estudioso, o sociólogo espanhol Manuel Castells, criam "um espaço de autonomia", mistura do ciberespaço das redes e do espaço urbano que ocupam, que constitui "a nova forma espacial dos movimentos em rede" ("Redes de indignación y de esperanza", Alianza, 2012).
Tão interessantes quanto os novos movimentos são as respostas que lhes dão os governos. É aí que oferece o máximo interesse a comparação entre a Turquia de Erdogan e o Brasil de Dilma Rousseff. Enquanto o governo turco continuará a construção do centro comercial no parque Gezi, que provocou o protesto, muitas cidades brasileiras já diminuíram o preço da passagem do transporte público diante da pressão de um movimento que quer transporte grátis.
Em ambos os casos, a reivindicação concreta punha à prova a capacidade de absorção dos protestos por parte dos respectivos governos. Por enquanto, o primeiro-ministro turco lançou seus partidários a confrontar os manifestantes, os denunciou como terroristas e quer controlar as redes sociais, enquanto a presidente brasileira avaliou as manifestações como "a prova da energia democrática" de seu país e conclamou a "escutar essas vozes que vão além dos mecanismos tradicionais, partidos políticos e meios de comunicação".
Esses novos movimentos sociais organizados em rede demonstraram até agora uma grande capacidade para mover e transformar o tabuleiro de jogo, mas muito pouca para capitalizar seus êxitos em forma de um poder político que, afinal, é novamente disputado em um cenário eleitoral e em Parlamentos que lhe são alheios. Agora, por enquanto, serão determinantes para o rumo imediato da democracia na Turquia e no Brasil.
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Nova forma de fazer política encontrou nas redes sociais força para se organizar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU