Igreja e Governo argentinos. Relações cuidadas

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Por: André | 19 Mai 2014

A sucessão de acontecimentos que se desencadearam a partir do documento episcopal da semana anterior, as reações de todos os setores, o encontro da quinta-feira da Presidenta Cristina Fernández com a cúpula da Igreja católica e a forma e a celeridade com que o mesmo aconteceu, as declarações do arcebispo Victor Fernández e de seu colega Jorge Lozano na sexta-feira, dia 16, falam claramente da atenção que tanto o Governo como a Igreja estão dando à sua relação. Poder-se-ia dizer mais. Evidencia que interessa às duas partes que, mesmo mantendo suas posições e sem ceder nem espaços nem perspectivas, o diálogo entre a Igreja e o Governo se mantenha fluido e sem interferências. Também que se quer impedir que uma relação, para a qual existem canais diretos e aceitos, seja mediada pelos meios de comunicação que operam de maneira interessada para gerar entorpecimentos em um espaço que foi historicamente difícil e que passa por um momento de mútuo respeito institucional.

A reportagem é de Washington Uranga e publicada no jornal argentino Página/12, 17-05-2014. A tradução é de André Langer.

Também não é habitual que os bispos, como fizeram na sexta-feira Lozano y Fernández, saiam tão diretamente a desmentir o que alguns meios de comunicação e jornalistas afirmaram. Tampouco que o façam nos termos duros que, por exemplo, o reitor da UCA utilizou, tachando de “falsa” a informação prestada por um colunista do jornal La Nación. Embora seja frequente que, em relação a qualquer documento, os bispos afirmem que “não é contra ninguém” e que falam “para o conjunto da sociedade”, as categóricas declarações de Lozano para assinalar que não se trata de um texto “contra o Governo” em consonância com o que disse Fernández, constituem claros indícios de que o lado eclesiástico quer evitar um enfrentamento com o Governo.

Indo além do que diz o texto, será que os bispos não pensaram que o documento poderia ter a leitura e a repercussão que teve? É difícil dizê-lo, mas acreditar que a cúpula eclesiástica seja ingênua seria menosprezar os bispos e a instituição. Os bispos queriam dizer o que disseram e tinham consciência do alcance das suas palavras. Além disso, segundo Fernández, o documento foi aprovado por unanimidade. Mas está claro que mesmo assim o estilo eclesiástico é sempre ambíguo e pode dar lugar a leituras sempre ambíguas.

Esta é, na realidade, a principal crítica que se pode fazer (agora e sempre) aos documentos episcopais. Apenas pouquíssimas vezes utilizam uma linguagem precisa, referem-se diretamente a fatos concretos. Suas alusões costumam ser genéricas, referidas aos princípios. E com este método, os textos são inevitavelmente ambíguos. Há justificativas para isso, mas o certo é que, dado o estilo, as palavras assim pronunciadas abrem todo tipo de interpretações e até de manipulações.

Mas, além disso, o que agora fica claro é que ambas as partes – Governo e Igreja – ocupam-se, atualmente, de cuidar das relações institucionais. Quando em uma e outra trincheira se pergunta pelo estado da relação, a resposta reiterada é: “boa”. Acrescenta-se, “cordial” e “institucional”. Não se desborda em entusiasmo, mas tampouco há preocupação.

Há quem também se pergunte sobre o quanto incide nisso a presença de Jorge Bergoglio como Papa Francisco de Roma. É uma resposta que só com o tempo se poderá responder, mas o certo é que o pontificado de Francisco no Vaticano abriu também aqui a etapa das relações cuidadas.