24 Abril 2014
Marina Silva (PSB), a pré-candidata a vice-presidente na chapa encabeçada pelo ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, ampliou o espaço do centro nas eleições deste ano, na visão do ex-porta-voz da Presidência no primeiro mandato do governo Lula, o cientista político André Singer, professor na USP. Especialista na análise de posicionamentos ideológicos do eleitorado, Singer acredita que a disputa presidencial de 2014 será marcada pela insatisfação social desencadeada após as manifestações populares de junho do ano passado.
A reportagem é de César Felício, publicada pelo jornal Valor, 24-04-2014.
"Marina Silva ampliou significativamente sua aceitação e ganhou protagonismo depois das manifestações. As demandas que mobilizam a sociedade não estão mais ligadas ao atendimento de necessidades materiais básicas. Marina foi a única a ganhar capital político nos últimos meses por encarnar uma agenda centrista, em que o combate à corrupção e a questão do desenvolvimento sustentável ganham enorme relevância", disse Singer em entrevista ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor.
O cientista político afirmou que esta substituição de demandas em manifestações não é um fenômeno apenas brasileiro, mas aconteceu em outros países que passaram por transformações sociais rápidas e já foi conceituado como "pós-materialismo" pelo cientista político americano Ronald Inglehart.
O espaço da centro-esquerda, encarnado pelo PT da presidente Dilma Rousseff, começou a diminuir antes mesmo das revoltas do ano passado, quando o repique inflacionário fez com que a presidente começasse a fazer um ajuste econômico em doses homeopáticas. O marco inicial foi a reversão da política de juros baixos, com o aumento paulatino da taxa Selic do Banco Central a partir de abril de 2013 e passou pelo processo de concessão de aeroportos, de acordo com o cientista político. "Dilma teve um momento de política econômica mais audaz, depois nitidamente retrocedeu, em um contexto de diminuição da vitalidade da economia", apontou Singer.
O espaço da centro-direita, ocupado pelo PSDB do senador Aécio Neves (MG), encolheu por um movimento do presidenciável para o conservadorismo, classificado como "surpreendente" pelo cientista político. "Ele disse que não hesitaria em tomar medidas impopulares, em um encontro com empresários. O PSDB até então tinha tomado cuidado em não fazer isso", comentou. O cientista político interpreta a iniciativa como um gesto para cativar formadores de opinião críticos ao governo que sempre se mantiveram alinhados com a seção paulista do partido. "As posições de direita ainda não têm expressão eleitoral, mas entre não ser majoritário e não existir há uma grande diferença", disse.
Com Dilma enfraquecida e Aécio se deslocando para a direita, abre-se o caminho para o crescimento de Eduardo Campos. A debilidade do candidato do PSB, de acordo com o ex-porta-voz de Lula, é a diferença entre seu perfil e o de Marina, que pode enfraquecer o fenômeno de transferência de votos. "Algum grau de transferência haverá. Mas, apesar da pouca idade, Campos é um candidato de características muito tradicionais, o que contraria a visão que emergiu das manifestações do ano passado", disse Singer.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Marina abriu espaço no centro, diz André Singer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU