12 Abril 2014
"Um número crescente de instituições dos Estados Unidos, incluindo algumas igrejas protestantes históricas, vem debatendo os méritos do desinvestimento envolvendo Israel, que inclui cancelar investimentos em empresas que lucram com o controle israelense da Cisjordânia e Faixa de Gaza. O Conselho Mundial de Igrejas – CMI fez do desinvestimento em Israel uma posição oficial."
A reportagem é de Paul DeCamp, publicada pelo National Catholic Reporter, 09-04-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
No dia 18 de março, a Associação Governamental Estudantil Unificada (USGA, na sigla em inglês) votou (por 26 a 0, com duas abstenções) a favor da medida de “desinvestimento de empresas que lucram com a ocupação do território palestino a fim de garantir a coerência da política de investimento socialmente responsável da Universidade de Chicago.
Uma segunda rodada de votação, ocorrida em 25 de março, teve 12 votos a favor, 10 contra, com 9 abstenções.
O então presidente da USGA Pedro Guerrero vetou a resolução no dia seguinte. Seu mandato terminou logo após o veto por procedimentos padrão.
A resolução de desinvestimento apresentada à associação estudantil foi patrocinada por senadores estudantis afiliados ao Associação Loyola de Alunos pela Justiça na Palestina, o qual, segundo seu website, “busca lutar contra as violações dos direitos humanos, agressões, crimes de guerra e genocídio infligido ao povo palestino”.
A Associação Alunos pela Justiça na Palestina filia-se a um movimento mais amplo chamado “Movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções”, que demanda ações econômicas contra Israel “até que este país esteja em conformidade com o Direito Internacional e com os direitos dos palestinos”.
Um número crescente de instituições dos Estados Unidos, incluindo algumas igrejas protestantes históricas, vem debatendo os méritos do desinvestimento envolvendo Israel, que inclui cancelar investimentos em empresas que lucram com o controle israelense da Cisjordânia e Faixa de Gaza. O Conselho Mundial de Igrejas – CMI fez do desinvestimento em Israel uma posição oficial.
Tivesse a resolução de desinvestimento passado, ela teria feito o corpo discente da universidade Loyola ser a primeira entre as católicas a adotar esta posição.
Mas quando a organização estudantil aprova uma resolução, não quer dizer que a universidade vai necessariamente agir.
“A Associação Governamental Estudantil Unificada aprova e, às vezes, não aprova um monte de resoluções. Na verdade, a maioria delas não chegam a lugar algum. Elas são deliberações daquele organismo”, disse o presidente jesuíta da universidade Pe. Michael J. Garanzini. “Verdade seja dita, na maior parte do tempo eu não os vejo. Neste período letivo – desde setembro – não vi resolução alguma”.
Garanzini disse que pouco seria feito a partir de uma resolução.
“A Associação Governamental Estudantil Unificada não tem fundos para investir. A universidade tem, evidentemente, e nós ignoraríamos completamente esta resolução”, falou Garanzini. “Por um lado, é impossível que nós a implementemos. A maioria de nossos fundos de doação estão em fundos de fundos, e descobrir onde eles estão é quase impossível.
No entanto, não estaríamos interessados em participar desta iniciativa. Ela é parcial, estando centrada num lado de uma situação internacional complexa. Ela é vista como sendo extremamente injusta por nossos professores, funcionários e alunos judeus.
Segundo vários testemunhos de pessoas recolhidos no campus, Alunos pela Justiça na Palestina introduziu a medida de desinvestimento de forma rápida e sem comunicar aos demais, não permitindo tempo suficiente para o debate.
“Neste caso, um pequeno grupo de alunos com pouca atenção ou esforço em educar os outros usaram a organização estudantil para promover uma posição política anti-Israel”, disse o administrador da Loyola John Pelissero. “A ação foi nociva e divisionista, criando uma relação tensa entre nossos alunos judeus e os favoráveis à Palestina”.
A tensão fez com que a Associação Governamental Estudantil Unificada convidasse os alunos a debaterem os méritos da resolução antes da votação no dia 25 de março.
Entre os alunos convidados para discursar estava Talia Sobol, quem escreveu numa coluna no jornal Loyola Phoenix, publicação estudantil, que “os alunos pró-Israel não tiveram nem a oportunidade de debater a resolução tampouco foram informados da votação [inicial]”.
“Fico feliz que mudamos os corações e mentes. Acredito que o veto demonstra a complexidade do assunto”, disse Sobol.
Num comunicado em que anunciava o veto da resolução, Guerrero citou sua preocupação de que a “diversidade de pensamento no campus não foi levada em consideração”.
“Peço que os alunos utilizem isto como uma oportunidade para se unirem; se a missão desta iniciativa for responsabilizar nossa universidade para com o investimento socialmente responsável, devemos incluir uma variedade de situações nas quais isto não vem acontecendo”, acrescentou Guerrero.
Sobre a decisão de vetar a medida por parte de Guerrero, Garanzini disse que não a vê como sendo uma decisão difícil. Citando a falta de uma “maioria absoluta” na segunda votação, conclui: “Acho que é por isso que foi fácil para o presidente vetar”.
Após ao veto, o capítulo Alunos pela Justiça na Palestina escreveu em seu blog que seu grupo “se submeteu a obstáculos que nenhum outro grupo ou organização se forçaria a se submeter” e criticou Guerrero por manter encontros fechados com o Fundo Judaico Unido (Jewish United Fund, em inglês), grupo que Alunos pela Justiça na Palestina disse ser “conhecido por assediar e espiar alunos que defendem os direitos humanos palestinos”.
Nos últimos anos, o desinvestimento tem sido uma questão controversa em campus universitários em todo o território americano.
Em 2012, alunos da Universidade da Califórnia, em Irvine, aprovaram uma medida que recomendava à universidade a desinvestir em empresas que lucram em Israel, tendo corpo estudantil da Universidade da Califórnia, em Berkley, seguindo os mesmos passos em 2013. No mês passado, líderes estudantis na Universidade de Michigan rejeitaram uma resolução de desinvestimento com uma votação de 25 votos contra e 9 a favor, após uma semana longa de debates.
Garanzini disse que sua instituição é a favor de debates como estes, mas afirmou que a Universidade Loyola de Chicago não vai escolher ficar de um lado ou de outro numa “situação internacional complexa”.
“A universidade se distancia deste assunto, dizendo que Associação Governamental Estudantil Unificada pode tomar todas as posições que quiser sobre a Palestina e Israel”, disse Garanzini. “Mas a universidade é neutra e favorável ao diálogo, que é o que pedimos aos alunos para fazerem e, aparentemente, eles fizeram durante as últimas duas semanas”.
Se, por um lado, Garanzini se mostrou feliz ao ver o seu campus envolvido em questões políticas e sociais, por outro ecoou as opiniões tanto de Sobol quanto de Guerrero de que o assunto de desinvestimento não fora apresentado de forma que permitisse toda a comunidade universitária ter o tempo necessário para refletir.
“Queremos alunos envolvidos em assuntos como este, e estou feliz que assim eles estejam fazendo”, declarou Garanzini. “Diferentemente do que acontece nas Nações Unidas e em outros organismos, não houve muitas coisas acontecendo nos bastidores e corredores até que eles surpreenderam os alunos judeus com esta resolução. Aprendeu-se uma grande lição”.
“Continuo acreditando que devemos facilitar o diálogo entre os alunos de diferentes pontos de vista e que os efeitos nocivos da resolução estudantil permaneçam em nossa comunidade universitária”, disse Pelissero. “O administrador do campos e o decano dos alunos estão tomando medidas para promover o diálogo, o entendimento e a cura. É isso o que deveria ocorrer num campos universitário”.
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Desinvestimento e boicote a Israel em debate na Universidade Loyola de Chicago - Instituto Humanitas Unisinos - IHU