10 Março 2014
O Papa Francisco declarou um cessar de hostilidades nas guerras culturais sobre o casamento homossexual, contracepção e aborto, temas que haviam definido a Igreja Católica durante grande parte da era moderna.
A reportagem é de Joshua Norman, editor da CBS News, 05-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na quarta-feira, ele assinalou uma nova direção a esse respeito quando discutiu a união civil em uma entrevista curta, mas de grande alcance, na qual também falou sobre o seu desconforto com a adoração da figura de herói que tem surgido em torno dele. Embora ainda insistindo que o casamento é "entre um homem e uma mulher", ele explicou por que acha que as uniões civis foram criadas.
"Os Estados laicos querem justificar as uniões civis para regular diversas situações de convivência, impulsionados pela exigência de regular aspectos econômicos entre as pessoas, como por exemplo assegurar a assistência de saúde", disse o papa.
Quando perguntado até que ponto a Igreja poderia entender essa tendência, o papa respondeu: "É preciso ver os diversos casos e avaliá-los na sua variedade".
Uma matéria escrita por John Thavis, ex-chefe da sucursal de Roma do Catholic News Services, disse que isso indica que a Igreja "pode tolerar algumas uniões civis".
O Vaticano, em janeiro passado, disse que o papa e a Igreja Católica não estão abertos às uniões civis de pessoas do mesmo sexo, e Thavis disse à redação da CBS News que as palavras do papa foram deliberadamente vagas nessa recente entrevista.
"Ele parece sugerir que a Igreja não é simplesmente contrária a qualquer discussão sobre isso", disse Thavis. "Mas não está claro se isso incluiria a união civil gay. Talvez ele esteja pensando que ela poderia ser tolerada em termos de benefícios sociais ou conjugais para casais não casados, mas que vivem uniões civis".
Essas declarações recentes, contudo, estão alinhadas com uma filosofia clerical mais tolerante e pacífica pela qual o Papa Francisco ficou famoso por defender.
"O papa está dizendo que não é assunto da Igreja interferir nessas soluções jurídicas para problemas complexos", disse Massimo Faggioli, professor de teologia na Universidade de St. Thomas, em Minnesota, em uma entrevista à CBS News. "Ele está reconhecendo que certas coisas não fazem parte da competência da Igreja".
Como instituição, "eu não acho que a Igreja vai apoiar" as uniões civis de pessoas do mesmo sexo, disse Faggioli.
O professor de origem italiana também acrescentou que as declarações do papa estão bem alinhadas com a "trégua" que ele pediu nas guerras culturais sobre gays e aborto quando disse a famosa frase "Quem sou eu para julgar?", em referência ao clero gay.
A parte mais importante da entrevista do papa na quarta-feira é a parte em que ele tenta se distanciar dos pontos de vista passados da Igreja Católica sobre "valores inegociáveis", segundo Faggioli.
"É uma mudança de paradigma na forma como o papa vai abordar algumas questões", disse Faggioli.
Um sínodo de bispos que será realizado em outubro irá analisar muitas posições sobre questões sociais oficialmente defendidas pela Igreja, e assuntos como a contracepção e o casamento serão provavelmente discutidos. Embora o papa tenha ficado famoso por uma espécie de populismo pastoral, pelo tom tolerante em várias questões morais, ele tem consistentemente ficado aquém ao indicar qualquer grande mudança na direção da doutrina católica.
Em sua entrevista de quarta-feira, o Papa Francisco explicou: "A questão não é a de mudar a doutrina, mas sim de ir fundo e fazer com que a pastoral leve em conta as situações e o que é possível fazer pelas pessoas".
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Será que o Papa Francisco abriu as portas para as uniões civis gays? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU