Por: Caroline | 07 Março 2014
A Rússia tem um governo, um parlamento, comissões e comitês. O país também conta com um Conselho de Segurança Nacional. Entretanto todas as suas decisões chaves são tomadas por apenas um homem: o presidente Vladimir Putin (foto, a esquerda).
A reportagem é de Steven Rosenberg, publicada por BBC Mundo, 06-04-2013. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/jDuKZo |
Putin encontra-se sentado no alto de uma estrutura de poder vertical que ele mesmo construiu. Nestes momentos, é ele quem decide o caminho que a Rússia irá tomar.
E, justamente por isso, é tão difícil entender o que Moscou está pensando, para isso há que se colocar na mente do presidente.
Então, o que pensa nesse momento Vladimir Putin sobre a Ucrânia? O que motiva seus movimentos na política exterior? Afinal, qual é seu objetivo?
Enganado pelo Ocidente
Algo que enfurece Putin é a sensação de que está sendo enganado.
Já o vimos na Líbia, em 2011, quando Moscou foi convencida a não bloquear uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, sobre uma zona de proibição de voos que visava à proteção dos civis.
Contudo, a ação militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) terminou na mudança de regime e na morte do líder Muamar Gadafi. Em outras palavras, foi muito mais do que a Rússia estava esperando. Isto ajuda a entender porquê a Rússia não relutou em vetar as resoluções sobre a Síria.
Sobre a Ucrânia, o presidente Putin também considera que foi enganado pelo Ocidente. No mês passado, ele enviou um representante a Kiev, para participar das negociações de um compromisso entre o presidente Viktor Yanukóvich e a oposição.
Esse acordo, facilitado por ministros das relações exteriores europeus, propunha novas eleições, uma reforma constitucional e um governo de unidade nacional.
O enviado de Kremlin (sede do governo russo) não assinou o acordo, mas a Rússia pareceu aceitar que em um quadro ruim, essa era a melhor situação. Entretanto tudo ficou apenas no plano das palavras.
Menos de 24 horas depois, Yanukóvich havia fugido, o parlamento o havia destituído e nomeado um novo presidente em função, que pertencia a oposição.
A rapidez dos fatos tomou Moscou de surpresa.
Complô contra a Rússia?
O mundo segundo Vladimir Putin é um no qual os poderes ocidentais estão conspirando dia e noite para desestabilizar a Rússia e desestabiliza-lo pessoalmente.
Putin se lembra da Revolução das Rosas, na Geórgia, em 2003. Também se lembra da Revolução Laranja, que ocorreu no ano seguinte na Ucrânia. A Rússia suspeitava que o Ocidente havia planejado as duas. Mais recentemente, Kremlin acusou o Ocidente de financiar e alimentar os protestos antigovernamentais feitos nas ruas de Moscou.
E, na Ucrânia, a Rússia leva meses acusando os Estados Unidos e a União Europeia de interferir nos assuntos do país para obter benefícios geopolíticos.
Na terça-feira, o presidente Putin disse que a decisão de Yanukóvich, de não assinar o acordo de associação com a União Europeia, em novembro do ano passado, “foi simplesmente usada como uma desculpa para apoiar as forças da oposição em sua batalha pelo poder... não é a primeira vez que nossos sócios no ocidente fazem isto na Ucrânia”.
Além disso, permance a pergunta sobre a OTAN. Em uma entrevista ao jornal Kommersant, em 2010, Putin recordou como tal aliança lhe havia prometido que a União Soviética não se expandiria além de suas fronteiras atuais. “Decepcionaram-nos da maneira mais grosseira”, concluiu.
Poderia um governo pró-ocidental em Kiev abrir caminho para uma futura adesão da Ucrânia na OTAN? Moscou o consideraria uma ameaça direta a sua segurança nacional.
Cálculos
No Ocidente, a intervenção de Moscou na Criméia tem sido denunciada como uma “agressão brutal”. Na mente de Vladimir Putin, isso é hipocrisia. Ele nunca perde a oportunidade de recordar ao mundo a intervenção dos Estados Unidos no Iraque, Líbia e Afeganistão.
Em seu discurso na Conferência de Segurança de Munique, em 2007, Putin denunciou o que ele considera um “mundo unipolar”, isto é, um mundo no qual os Estados Unidos é a única autoridade.
Ele tem sido perseverante na defesa do que considera os interesses legítimos da Rússia no mundo, seja na Síria ou em lugares mais próximos, como a Ucrânia.
Mesmo assim, como boa parte da Europa dependente das importações energéticas russas e se beneficia do comércio com Moscou, Kremlin calcula que seus opositores no Ocidente não se atreverão a se meter em uma briga séria.
Putin mantém que não quer terminar em uma guerra com os ucranianos. Ele assegura que a intervenção russa é “humanitária” para proteger as pessoas do “caos”.
Todavia os interesses nacionais russos são fundamentais para ele. Ele quer ter certeza de que o novo governo de Kiev não poderá expulsar a Frota do Mar Negro da Criméia e que os novos líderes ucranianos pensem duas vezes antes de aproximar-se do ocidente e de rechaçar a Rússia.
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O que Putin planeja na Ucrânia? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU