Por: André | 24 Fevereiro 2014
“Tudo fica grande!”, exclamou Mario Aurelio Poli, olhando instintivamente para as vestes de cardeal. A cena ocorreu na tarde do sábado, 22, no mesmo dia em que recebeu o barrete vermelho das mãos do Papa na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Ele se referia não apenas à roupa, mas idealmente às suas responsabilidades eclesiásticas. Não é para menos. Há 11 meses foi escolhido pelo Papa para sucedê-lo à frente da Arquidiocese de Buenos Aires.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez e publicada no sítio Vatican Insider, 23-02-2014. A tradução é de André Langer.
Poli chegou a Roma para participar do Consistório Ordinário durante o qual Jorge Mario Bergoglio criou 19 novos cardeais com baixo perfil, próprio do seu estilo. Uma semana antes da sua viagem à “cidade eterna” preparou-se dedicando-se a atender pessoas com necessidades especiais e doentes em um lar da capital argentina, no mais estrito silêncio. Um gesto que não despertou clamor nem se converteu em notícia.
No Vaticano não ocupou um espaço especial. Para as visitas de cortesia depois do Consistório foi colocado com a maioria dos novos cardeais na Sala Paulo VI. Ali recebeu as saudações dos amigos e fiéis argentinos, particularmente afetuosos.
“Nunca pensei, nem mesmo busquei este serviço que agora a Igreja me pede, porque estas coisas não se pode buscar. Como conheço o Papa e fui seis anos seu bispo auxiliar, sei que ele trabalha muito e neste momento Deus lhe deu a cruz mais pesada de todas. Me somo aos cardeais para ‘cironear’ o Papa no que tiver que ajudá-lo; esse serviço me dá muita alegria e peço às pessoas para que rezem por nós, primeiro que rezem pelo Papa e se sobrar algum tempo que rezem por nós”, disse. Com “cironear”, referia-se a Simão de Cirene, que ajudou Jesus a carregar a cruz ao Calvário. Assim disse sentir-se, antes de destacar a “sabedoria” e a “fraternidade” do Colégio dos Cardeais.
Sobre o que Francisco quer dele, Poli foi prudente: “Não me encarregou de nada por enquanto, assim que eu fico quieto. Diz um adágio romano que ninguém se apresenta se não foi chamado”. De qualquer maneira, não negou o sentido da grande responsabilidade que experimenta desde sua transferência para Buenos Aires. “Deus ajuda muito, além dos sacerdotes e meus irmãos bispos”, esclareceu.
Simples e franco no trato, durante as visitas de cortesia e não obstante o protocolo do momento, o cardeal argentino não se subtraiu aos abraços e beijos. Mostrou-se próximo das pessoas, como quando andava de bicicleta pela diocese de Santa Rosa, em La Pampa, no centro da Argentina.
“As pessoas mais simples se alegram de ter um cardeal a mais nos diversos países da América Latina, e isso nos anima a nos colocarmos mais ao serviço deles. O Papa nos convidou, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, a nos somarmos a uma Igreja em saída, uma Igreja que sai às ruas. Os cardeais terão esse movimento de proximidade, de escuta do povo de Deus e de colocar-se a serviço”, acrescentou.
A posição de Poli não é simples. Com Bergoglio no Vaticano, a principal referência religiosa para políticos e líderes sociais de Buenos Aires parece estar em Roma. Todos querem viajar e conseguir uma fotografia com o Pontífice. Ao mesmo tempo, o arcebispo dedicou-se plenamente ao trabalho pastoral. O clero local demonstrou-lhe imediata estima; sua nomeação foi bem recebida. Ele conhece pessoalmente quase todos os sacerdotes, graças ao seu longo serviço anterior na Arquidiocese. E em seus primeiros meses como pastor já implantou mudanças, embora em privado tenha confessado a um dos seus sacerdotes: “Sinto o Bergoglio aqui...”, indicando com a mão direita aberta sobre a nuca.
A chegada do Papa argentino já deu seus primeiros frutos. No próximo dia 25 de maio, a presidente da República, Cristina Fernández de Kirchner, participará novamente do tradicional “Te Deum” pela festa da pátria na Catedral de Buenos Aires, após uma longa ausência do presidente do país em uma cerimônia que historicamente incluía sua presença.
Esse parece ser o selo definitivo de uma reconciliação gestada no dia 18 de março de 2013, quando Cristina e o Papa compartilharam a mesa durante um longo almoço na Casa Santa Marta. Como enviados da presidente à investidura cardinalícia de Poli participaram o secretário de Culto, Guillermo Olivieri; o padre Juan Carlos Molina, presidente da Secretaria de Programação para a Prevenção da Drogadição e a Luta contra o Narcotráfico (Sedronar) e o arcebispo de Luján-Mercedes, Agustín Roberto Radrizzani.
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“Tudo fica grande!”, disse o sucessor de Bergoglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU