19 Fevereiro 2014
Quando era estudante de Economia da USP, Aloizio Mercadante foi presidente do Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CACV) no atribulado ano de 1976, quando o "milagre econômico" da ditadura militar começava a dar sinais de fadiga.
A reportagem é de João Villaverde, publicada pelo O Estado de S.Paulo, 18-02-2014
O principal formulador econômico do regime, Antônio Delfim Netto, também havia sido presidente do CACV, em 1951. Ministro todo-poderoso de 1967 a 1974, Delfim Netto tinha em seu gabinete um grupo de economistas egressos da USP e da UFRJ, que o Estado apelidou de "Delfim Boys". Quarenta anos depois, uma nova equipe de jovens economistas se prepara para, na Casa Civil, ajudar o governo Dilma Rousseff a promover desenvolvimento.
Formado em economia pela USP, e com doutorado na disciplina pela Unicamp - onde teve Delfim Netto entre os examinadores -, Mercadante chega à Casa Civil com a missão de defender e aprimorar a política econômica do governo. Em sua equipe, o ministro conta com nada menos que dois ex-presidentes do mesmo CACV que ele e Delfim Netto presidiram - os assessores especiais Guilherme Penin Santos de Lima e Gabriel Ferraz Aidar.
Na Casa Civil desde 2012, ambos devem ganhar papel mais destacado. Penin presidiu o centro acadêmico dos economistas da USP em 2003, quando o PT de Mercadante assumiu o governo federal, e Aidar liderou o CACV dois anos mais tarde, quando a explosão do "mensalão" fez a então ministra de Minas e Energia do governo Lula, Dilma Rousseff, chegar à Casa Civil, para substituir José Dirceu. Quando Mercadante era o líder do PT no Senado, já no segundo mandato de Lula, Aidar estava concluindo seu mestrado em economia na UFRJ.
Além da equipe já formada, Mercadante trouxe para a Casa Civil mais dois jovens economistas oriundos da USP: Fernando Sakon e Marcus Aguiar. Antes de se tornar assessor especial do ministro da Casa Civil, Sakon trabalhou por cinco anos na Ideias Consultoria, fundada por Delfim Netto, em São Paulo. Aguiar, que foi do BNDES, estava com Mercadante no Ministério da Educação.
Desenvolvimentismo. Os novos "Mercadante Boys" não podem ser acusados de pensar diferente do chefe. Crítico do neoliberalismo implementado por Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o novo ministro da Casa Civil defendeu no doutorado a tese de que o governo Luiz Inácio Lula da Silva criara um "novo desenvolvimentismo", em que o Estado fazia a distribuição de renda, o que permitia, com certo grau de dirigismo estatal, acelerar o crescimento econômico.
Cartilha semelhante é defendida, em maior ou menor grau, por seus subordinados no Planalto. Aidar, por exemplo, escreveu um trabalho acadêmico ("paper", no linguajar universitário) em 2010 que destacava o papel da política fiscal e monetária como "instrumentos anticíclicos", isto é, que deveriam ser usados - como foram, no Brasil - para contrabalançar os efeitos de uma crise econômica.
O trabalho de Aidar, Auge e declínio da teleologia neoliberal, se apoia em textos de Celso Furtado e Dani Rodrik, passado e presente do desenvolvimentismo, além de destrinchar os trabalhos dos principais teóricos do que viria a ser chamado "Consenso de Washington" - John Williamson, economista, e Francis Fukuyama, historiador.
A teoria neoliberal, apoiada na ideia de Estado mínimo, privatizações e desregulamentação da economia, esteve presente na casa de Aidar - sua mãe, Ana Carolina Aidar, foi, nos anos 1990, diretora de privatização do BBA e depois responsável pelos negócios no Brasil de um dos maiores fundos de investimentos do mundo, o Chase Capital Partners.
Já Penin focou sua dissertação de mestrado na recuperação da indústria naval brasileira, fenômeno iniciado no fim dos anos 1990 que se acentuou a partir de 2004. O economista destacou casos de êxito, como o japonês e o sul-coreano, onde o Estado teve papel central ao direcionar a demanda e facilitar o modelo de negócios da indústria. Penin tem sido um dos principais e mais elogiados técnicos do governo na área portuária.
Em tempo: a alcunha "Delfim Boys" era uma referência aos famosos "Chicago Boys" - a turma de economistas liberais que orbitava em torno de Milton Friedman, nome maior da Universidade de Chicago, que levaria o Prêmio Nobel de Economia em 1974, auge do "milagre econômico" brasileiro.
Porém, os economistas que acompanham Delfim Netto no Brasil são desenvolvimentistas - entendem que o Estado tem papel central no desenvolvimento econômico.
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'Mercadante Boys' ganham destaque no governo Dilma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU