Por: André | 03 Fevereiro 2014
As crianças “sempre devem ser protegidas e apoiadas em seu crescimento humano e espiritual”. A afirmação é do Papa Francisco e feita aos participantes da plenária da Congregação para a Doutrina da Fé, recebidos em audiência na sexta-feira, dia 31 de janeiro. Jorge Mario Bergoglio destacou a necessidade de não considerar a doutrina católica “num sentido ideológico”, isto é, reduzi-la a “um conjunto de teorias abstratas e cristalizadas”; por isso exortou o dicastério dirigido pelo arcebispo Gerhard Müller a cuidar da integridade da fé, “sempre em colaboração com os Pastores locais e com as Comissões Doutrinais das Conferências Episcopais”. Por isso, em consequência, faz-se necessário, além disso, um aprofundamento da “relação entre a fé pessoal e a celebração do sacramento do matrimônio”.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada no sítio Vatican Insider, 31-01-2014. A tradução é de André Langer.
“Pensem no bem das crianças e dos jovens, que na comunidade cristã sempre devem ser protegidas e apoiadas em seu crescimento humano e espiritual”, disse o Papa Francisco fazendo referência muito clara aos casos de abusos sexuais contra menores, tema com o qual se ocupa, como responsável canônico, a Congregação para a Doutrina da Fé. “Neste sentido, estuda-se a possibilidade de unir seu dicastério com a específica Comissão para a Proteção das Crianças, que instituí e que quero que seja um exemplo para todos os que desejam promover o bem das crianças”. A comissão foi anunciada em dezembro pelo cardeal Sean O’Malley, arcebispo de Boston e membro do conselho dos oito cardeais (o chamado C8) que ajudam Francisco na reforma da cúria e do governo da Igreja universal.
O Papa Bergoglio destacou, retomando a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, que “desde os primórdios da Igreja existe a tentação de entender a doutrina num sentido ideológico, ou de reduzi-la a um conjunto de teorias abstratas e cristalizadas. Na realidade, a doutrina tem o único propósito de servir à vida do Povo de Deus e garantir um fundamento seguro para a nossa fé. Desde logo, é grande a tentação de apropriar-se dos dons da salvação que vem de Deus, para domesticá-los – talvez inclusive com boa intenção – seguindo a opinião e o espírito do mundo”.
O Papa disse aos membros do ex-Santo Ofício: “Seu trabalho trata de ter sempre presente inclusive as exigências do diálogo construtivo, respeitoso e paciente com os Autores. Se a verdade exige a fidelidade, esta cresce sempre na caridade e na ajuda fraterna para com aqueles que foram chamados a amadurecer ou esclarecer as próprias convicções”.
O Papa ofereceu uma reflexão sobre o método de trabalho do dicastério, que “se distingue pela prática da colegialidade e do diálogo”. A Igreja é o lugar da comunhão e, em todos os níveis, “todos fomos chamados a cultivar e promover a comunhão, cada um na responsabilidade que lhe foi designada pelo Senhor”. Proteger a integridade da fé “é uma tarefa muito delicada que lhes foi encomendada”, indicou Bergoglio. Além disso, destacou com ênfase, que “quando a fé brilha em sua simplicidade e pureza, a vida eclesial converte-se no lugar em que a vida de Deus emerge com todo o seu fascínio e dá fruto. A fé em Jesus Cristo, de fato, abre nossos corações para Deus”.
O Papa também falou sobre o tema Sínodo sobre a Família, ou seja, a relação entre a fé e o sacramento do matrimônio. A reflexão, disse, “coloca-se na esteira do convite que já Bento XVI havia formulado com respeito à necessidade de se interrogar mais profundamente sobre a relação entre a fé pessoal e a celebração do sacramento do matrimônio, sobretudo no contexto cultural transformado”. O Papa referia-se ao discurso que seu predecessor pronunciou em janeiro de 2013 ao Tribunal da Rota Romana, no qual destacou que não se deve “prescindir”, na hora de avaliar as causas da nulidade matrimonial, “da consideração de que pode haver casos em que, justamente pela ausência de fé, o bem dos cônjuges esteja comprometido e excluído do próprio consenso”. Bento XVI acrescentava: “com as presentes considerações não pretendo certamente sugerir nenhum automatismo fácil entre falta de fé e invalidade da união matrimonial, mas evidenciar como tal carência pode, embora não necessariamente, ferir também os bens do matrimônio, dado que a referência à ordem natural querida por Deus é inerente ao pacto conjugal (cf. Gn 2,24)”.
O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal nomeado Müller, afirmou que “diante do aumento da falta de compreensão sobre a santidade do matrimônio, a Igreja não pode responder com uma adequação pragmática ao que parece inevitável, mas apenas com a confiança plena no Espírito de Deus, para que possamos conhecer o que Deus nos deu”. Além disso, o prefeito recordou que “o verbo fundamental que qualifica o nosso trabalho é o verbo ‘promover’”, citando as palavras de Paulo VI: “hoje a fé é melhor defendida promovendo a doutrina”. E “justamente para permitir que a luz da fé brilhe com todo o seu esplendor – acrescentou Müller – é necessário promover, tutelar e guardar a integridade da doutrina, tanto na profissão da fé como na prática concreta da vida”.
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O trabalho da Congregação para a Doutrina da Fé deve “distinguir-se pela colegialidade e pelo diálogo”, diz o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU