31 Janeiro 2014
Em seu movimento mais recente para expurgar os escândalos que vêm assolando o Vaticano nos últimos anos, o Papa Francisco substituiu um cardeal que dirigiu a agência financeira lançada durante o papado de Bento XVI por um bispo associado a um esforço anterior para promover a reforma.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por National Catholic Reporter, 30-01-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Nesta quinta-feira (30-01-2014), o Vaticano anunciou que o cardeal italiano, de 76 anos, Attilio Nicora retirou-se do cargo de presidente da Autoridade de Informação Financeira, agência antilavagem de dinheiro lançada por Bento XVI em 2011.
Em seu lugar, Francisco nomeou o bispo italiano Giorgio Corbellini, de 66 anos, que também irá manter seu posto como dirigente do escritório de trabalho do Vaticano e da comissão disciplinar da Cúria Romana. A nomeação para a Autoridade de Informação Financeira foi feita ad interim, ou seja, Dom Corbellini não tem um prazo determinado previamente.
De 1993 a 2011, Corbellini foi um alto funcionário do governo do Vaticano, onde trabalhou com o arcebispo Carlo Maria Viganò, atual embaixador papal nos EUA.
Dom Viganò era visto como reformador, com um histórico de redução de custos, impondo procedimentos de licitação competitivos e criando um sistema centralizado de compras. Em somente 10 meses, Viganò teria economizado o suficiente na administração dos Jardins do Vaticano a ponto de poder financiar uma atualização do sistema de aquecimento do Vaticano.
Viganò também escreveu cartas ao Papa Bento XVI, narrando sua luta contra as várias formas do que ele descrevia como corrupção e clientelismo e, numa delas, afirmou que seus inimigos estavam tentando forçá-lo a sair a fim de darem um curto-circuito nas reformas. Esta correspondência veio à público como parte do escândalo de vazamento do Vaticano.
Corbellini era visto como um aliado de Viganò e, numa transmissão feita em janeiro de 2012 pela televisão italiana após Viganò ser removido, Corbellini essencialmente apoiou sua posição.
No geral, pode-se interpretar a mudança de Nicora por Corbellini como um afastamento da “velha guarda” vaticana assim como um movimento em direção a uma postura reformista mais robusta.
O abalo na Autoridade de Informação Financeira segue um movimento semelhante feito em meados de janeiro, quando o Papa Francisco reformulou uma comissão de cardeais que supervisiona o Banco do Vaticano, entre outras coisas removendo o cardeal italiano Tarcisio Bertone, ex-secretário de Estado em cuja gestão o banco viu-se mergulhado numa série de escândalos.
O especialista suíço em lavagem de dinheiro contratado pelo Vaticano em 2012 para gerenciar a Autoridade de Informação Financeira, René Bruelhart, permanecerá como diretor. Na verdade, a maioria dos analistas diz que o movimento de terça-feira fortalece a posição de Bruelhart ao deixar claro que o papa apoia a orientação geral na qual sua agência está se movendo.
Espera-se também que Francisco nomeie novos membros para o conselho formado por cinco membros da Autoridade de Informação Financeira, atualmente composto por financistas e advogados italianos. A maioria dos analistas espera que o pontífice nomeie um painel mais internacional.
Tal como Bertone, Nicora é um cidadão do Vaticano muito ligado ao establishment político e financeiro italiano.
Entre outras coisas, foi Nicora quem renegociou uma revisão da concordata, ou tratado, entre a Itália e o Vaticano em 1984, que regula o sistema pelo qual as verbas fiscais são confiadas à Igreja Católica, geralmente resultando em pagamentos anuais de aproximadamente 1 bilhão de dólares à Igreja italiana.
Nicora também trabalhou de 2002 a 2011 como presidente da Administração do Patrimônio da Santa Sé – APSA, o departamento que administra os investimentos e o patrimônio do Vaticano.
Recentemente, a APSA esteve no centro das atenções por causa dos escândalos envolvendo o monsenhor Nunzio Scarano, ex-funcionário do departamento preso em junho por envolvimento em um suposto esquema de contrabando de dinheiro e, mais recentemente, acusado por lavagem de dinheiro.
Em interrogatórios pela polícia italiana, Scarano denunciou que várias práticas suspeitas eram rotineiras na APSA durante a sua época, que incluíam a administração de um “banco paralelo”, ao permitir a pessoas físicas participarem nos investimentos do Vaticano por um determinado preço e por autoridades aceitarem férias luxuosas em hotéis cinco estrelas em troca de se depositarem fundos vaticanos em certos bancos.
Embora Nicora irá completar 77 anos em março e, portanto, já era esperado renunciar ao cargo, analistas veem a decisão do papa em aceitar sua renúncia como um sinal de que este quer romper com o passado.
Ao não nomear outro cardeal para servir como presidente, analistas dizem que o papa também sinalizou que vê o trabalho da Autoridade de Informação Financeira como uma atividade técnica, em vez de política. Ou seja, dizem que, para o pontífice, a competência no assunto é mais importante do que o status eclesiástico.
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Papa Francisco chama bispo reformador para trabalhar na limpeza financeira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU