Por: Cesar Sanson | 28 Janeiro 2014
Sem sair da aldeia Marmelos há 23 dias por orientação da Polícia Federal e da Funai (Fundação Nacional do Índio), Ivanildo Tenharim, 34, deixou a reserva indígena pela primeira vez na terça-feira (21), desde a revolta contra os tenharim em dezembro. Ele foi escoltado por dez militares e três veículos da Força Nacional de Segurança para resolver questões relacionadas ao cargo que ocupa na Prefeitura de Humaitá.
A reportagem é do portal Amazônia Real, 27-01-2014.
A proteção policial ao secretário municipal de Povos Indígenas gerou críticas de moradores nas ruas e nas redes sociais. “Fui muito xingado. Disseram que a polícia estava me protegendo porque sou bandido”, disse Ivanildo Tenharim ao portal Amazônia Real.
As críticas ao secretário Ivanildo Tenharim mostram o clima de tensão que continua aceso em Humaitá (a 591 quilômetros de Manaus). Até o momento, a Polícia Federal não divulgou o resultado das investigações sobre a morte do cacique Ivan Tenharim, o desaparecimento de Stef Pinheiro, Luciano Freire e Aldeney Salvador e a destruição dos bens públicos na cidade no mês de dezembro.
O Ministério Público Federal do Amazonas recebeu o inquérito da Polícia Federal na segunda-feira (20), mas não divulgou se a Justiça concedeu prazo para prorrogar as investigações e as diligências do caso. O motivo da prorrogação seria a demora no laudo da perícia em peças queimadas do veículo em que os homens viajavam, quando foram vistos pela última vez no dia 16 de dezembro na reserva Tenharim-Marmelos.
Ameaças
Durante a revolta em Humaitá no dia 25 de dezembro, o secretário municipal de Povos Indígenas de Humaitá, Ivanildo Tenharim ficou refugiado com mais 140 índios, das etnias tenharim, parintintin, jiahui e uru-eu-uau-uau, além de funcionários da Funai, no 4º. BIS (Batalhão de Infantaria de Selva) do Exército. Eles foram ameaçados de morte por manifestantes da cidade revoltados com os desaparecimentos.
Depois de seis dias de permanência no quartel, Ivanildo Tenharim e os outros indígenas foram levados às aldeias em ônibus escoltados pelo Exército e Polícia Federal. Desde então, nenhum tenharim sai das aldeias com medo de represálias de manifestantes na cidade. Cerca de 20 estudantes de cursos universitários e do ensino médio estão sem estudar pela falta de segurança.
Ivanildo Tenharim assumiu o cargo de secretário municipal de Povos Indígenas de Humaitá no mês de janeiro. Ele afirmou que, por medida de segurança, partiu da aldeia Marmelos, que fica a 123 quilômetros da cidade, na tarde de terça-feira (21) escoltado por dez militares da Força Nacional de Segurança. Na cidade, foi levado pelos militares ao quartel do 4º. BIS (Batalhão de Infantaria de Selva) do Exército, onde esteve reunido com o prefeito José Cidinei Lobo do Nascimento (PMDB). “Eu sou secretário e fui resolver algumas questões da secretaria com o prefeito. Para evitar problema de segurança na sede da Prefeitura, o prefeito foi ao meu encontro no quartel”, disse.
Ivanildo Tenharim afirmou que dormiu nas dependências do 4º. BIS. Na manhã de quarta-feira (22) seguiu escoltado para sua residência e depois foi ao banco. Foi nesse momento, segundo ele, que se deparou com intimidações de moradores da cidade de Humaitá.
“Eu senti que eles não querem ver os tenharim na cidade. Me xingaram de tudo. Disseram que eu protegia bandido. Também disseram que eu não ia ficar muito tempo com a escolta da polícia. Que eu estava lascado”, afirmou o secretário, que depois foi levado pelos militares de volta a aldeia Marmelos.
Na sexta-feira (24), os sites de notícias portalhumaitanews e acriticadehumaita divulgaram uma foto com as frases de protestos e um texto em que diz que a segurança da Força Nacional de Segurança ao secretário Ivanildo Tenharim “era um exemplo vergonhoso e humilhante para cidade de Humaitá”. A fotografia foi marcada por três setas vermelhas que apontam para cada veículo da escolta ao secretário.
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“Fui muito xingado”, afirma Ivanildo Tenharim ao circular em Humaitá - Instituto Humanitas Unisinos - IHU