27 Janeiro 2014
Na última quarta-feira (22-01-2014), há 245 anos, agindo sob as ordens do rei da França, Luís XV, o embaixador francês Aubeterre apresentou ao Papa Clemente XIII um exigência sumária para a supressão total da Companhia. Ele encontrou um papa inflexível. Luís XV já havia dado uma ordem real para que os jesuítas pudessem somente permanecer na França se eles elegessem um superior geral francês que seria independente do superior geral de Roma. Quando estes não cumpriram, ele os expulsou do país.
A nota é publicada por Jesuit Restoration, 22-01-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Isso é importante em nossa jornada a fim de compreender a Supressão e a Restauração da Companhia de Jesus. Este fato indica a pressão imensa a que Clemente XIII persistentemente teve que resistir em nome dos jesuítas.
Ele também leva à questão da sobrevivência dos jesuítas para se tornarem peça-chave no conclave e eleger seu sucessor.
Clemente XIII estava para ser sucedido por Clemente XIV, o qual finalmente cedeu a tal pressão e promulgou a bula que suprimiu a Companhia. Quatro anos antes Clemente XIII havia acolhido calorosamente a ordem jesuíta em uma bula papal chamada “Apostolicum Pascendi”, publicada em 07-01-1765, que destituiu as críticas aos jesuítas como calúnias e louvou a utilidade da ordem; em grande medida isso era ignorado pelos Bourbons: por volta de 1769 os jesuítas foram expulsos da França, das Duas Sicílias e de Parma.
A história tende a julgar o reinado de Luís XV de forma muito severa. Muitos dos pesquisadores acreditam que as decisões de Luís XV causaram danos ao poderio francês, enfraqueceram o tesouro do país e o fez mais vulnerável à desconfiança e à destruição. Um reinado tão longo como este, de quase 60 anos, é retratado como um período de estagnação que enfraqueceu a monarquia e a aristocracia, levando à Revolução Francesa, que eclodiu 15 anos depois de sua morte. “O Terror” que se seguiu à revolução, um período de lutas internas entre os girondinos e os jacobinos e que foi marcado por execuções em massa dos “inimigos da revolução”, conduziu às condições políticas e castigou a Casa dos Bourbons, que permitiram a restauração dos jesuítas.
23-01-1789: John Carroll obtém escritura para a Universidade de Georgetown
Enquanto a bula de supressão era promulgada, ao redor do mundo muitos jesuítas encontravam-se absorvidos em diferentes funções da vida da Igreja. Um excelente exemplo disso é John Carroll, que se tornaria o primeiro arcebispo da América do Norte. Nascido no seio de uma família irlandesa que tinha uma plantação no estado de Maryland, ao manifestar interesse em se tornar jesuíta, foi enviado a um colégio administrado pelos jesuítas ingleses exilados em St. Omer, na Bélgica (atual Colégio Stonyhurst, em Lancashire, Inglaterra). Após sua ordenação, permaneceu na Europa e retornou à Maryland na supressão da Companhia de Jesus. Aos 38 anos de idade, ele era jesuíta havia 20 anos.
O seu apostolado na América do Norte teve seus altos e baixos. Enquanto os EUA esteve sob o domínio inglês, era difícil encontrar espaço no qual trabalhar, pois havia um anticatolicismo violento.
No entanto, quando a Revolução Americana (1756-1783) forçou os a saída dos ingleses, tornou-se mais fácil estabelecer uma infraestrutura eclesial para a Igreja Católica. Após convencer o papa da necessidade de um novo bispo neste novo ambiente, e também o medo de ter um bispo estrangeiro imposto sobre o povo, Carrol foi ordenado bispo de Charles Walmesley, em 15-08-1790 (a Festa da Assunção) na capela de do Castelo Lulworth, em Dorset, na Inglaterra.
John Carrol parece ter vindo de uma família especial. O seu primo Charles tornou-se o primeiro senador representando o estado de Maryland e foi o único signatário católico da Declaração de Independência. O seu irmão mais velho, Daniel, foi um dos cinco homens que assinaram tanto os Artigos da Confederação quanto a Constituição dos Estados Unidos. Ambos tiveram um papel-chave na construção das realizações dos EUA que acabaram sendo espelhados por John na Igreja. John, o primeiro bispo e arcebispo, construiu a catedral e fundou a Universidade Católica nos Estados Unidos. Será que a supressão lhe deu liberdade para realizar estas importantes tarefas?
Eurocentrismo e inculturação
Embora a maior parte dos políticos e protagonistas da Supressão e da Restauração da Companhia de Jesus se encontravam na Europa, o seu impacto foi sentido em tantos outros lugares. Este era um período de expansão sem precedentes na história da Igreja Católica. Missões estrangeiras estavam florescendo, às vezes sob a proteção das potências coloniais, às vezes sem esta proteção. É irônico quando se considera que o termo católico significa “universal”, que por muito tempo o catolicismo, muitas vezes na esteira do colonialismo, exportava a hegemonia cultural e emissários hierárquicos aos cantos mais distantes do mundo, frequentemente sem preocupação com o processo de “recepção” da fé. A arquitetura, a literatura e tradições muitas vezes suplantadas na Espanha, em Portugal e na Inglaterra (neste caso, o anglicanismo) se instalaram com pouco respeito à distinção das terras para as quais estavam sendo enviadas, para o bem ou para o mal.
O eurocentrismo é uma questão polêmica. O modelo de estado-nação, o liberalismo, a ciência moderna, a pontualidade e o mapeamento do mundo e muito mais estiveram fortemente influenciados pelas sociedades europeias. A Igreja Católica centrada em Roma – no túmulo do primeiro papa, Pedro, e do grande missionário Paulo – contribuiu para este eurocentrismo. O quão consolidado isso tem sido ficou evidente na eleição do Papa Francisco; claro, é o primeiro papa jesuíta mas também o primeiro papa não europeu em cerca de 1300 anos.
No entanto, é interessante observar que, muitas vezes, foram os missionários jesuítas – em países sem pegadas coloniais em níveis significativos – que se constituíram pioneiros na inculturação.
Na Índia havia uma colônia portuguesa em Goa, porém muito do trabalho que Xavier e Nobili fizeram estava bem distante das bases coloniais.
De modo semelhante ocorreu na China com Matteo Ricci. Ambas as missões estavam para cair em desgraça nas mãos do cardeal De Tournon e pelas investigações feitas por Roma. Notoriamente, De Tournon exasperou, irritou, os jesuítas na China com sua falta de vontade a ir ao encontro das autoridades chinesas.
As controvérsias envolvendo os ritos chineses e malabares caíram nas mãos dos julgamentos eurocêntricos, muitos dos quais seriam rescindidos posteriormente. Estas “batalhas de inculturação” serviram apenas para enfurecer a oposição aos jesuítas em Lisboa, Madri, Paris e, de modo mais importante, em Roma.
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Luís XV pressiona Papa para suprimir jesuítas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU