15 Janeiro 2014
Não passou tanto tempo, nem dois anos desde o tsunami, no entanto, olhando para trás, certas passagens permanecem no fundo. Incompreensíveis. Tanto para conciliar aqueles 23 milhões de euros feitos sequestrar em 2010 da Procuradoria de Roma numa conta do Crédito Artigiano encabeçada pelo IOR (dinheiro só recentemente recuperado), depois a sucessiva batalha para o controle do Instituto e, enfim, a marcha para trás feita fazer à lei promulgada por Bento XVI para introduzir sérios controles nas finanças. Pena, no entanto, que logo depois daquela lei ela foi rapidamente modificada por outras; e somente com a chegada de Francisco reencontrou a estrutura inicial. Em suma, um emaranhado que está se deslindando lentamente graças à firmeza de Bergoglio, decidido mais do que nunca de levar em frente o processo de transparência iniciado a seu tempo por Bento XVI. Ettore Gotti Tedeschi, até 24 de maio de 2012 presidente do Ior, decidiu romper o longo silêncio que se impusera para lançar , através do Il Messaggero, um apelo ao Papa. Gostaria de encontra-lo e contar-lhe pessoalmente o que acontece. As feridas são sanadas e a verdade pode servir ao caminho empreendido pelo Pontífice.
A entrevista é de Franca Giansoldati, publicada no portal “Il Messaggero”, 10-01-2014.
A tradução é de Benno Dischinger.
Eis a entrevista.
O que se espera da Igreja?
2013 foi um ano de grandes eventos. Refiro-me à renúncia de Bento XVI e à eleição de Francisco, em suma, falo de eventos de enorme alcance, que impuseram profundas reflexões. É difícil não pensar, por exemplo, na grande questão da transparência financeira. Uma reflexão que, com o Papa Francisco, é destinada a prosseguir de modo coerente, exatamente como tinha sido iniciada quando foram chamados por Bento XVI à direção do IOR.
Passou bastante água debaixo das pontes...
Sim, passou. Muita. E tantas coisas tem sido ditas, mas tantas outras ainda não, e estou seguro que o Papa está fazendo de tudo para compreender melhor a sucessão daqueles eventos. Estou sereno, sempre servi a Igreja com lealdade e honestidade e continuarei a fazê-lo.
O que significou para você a destituição da chefia do IOR?
É difícil sintetizar em poucas linhas um terremoto de tal monta, não só do ponto de vista profissional, mas, sobretudo humano. Na minha vida foi como ser investido por um tsunami, um ciclone inesperado, não previsto, de uma violência inaudita. Em consciência posso afirmar que trabalhei de modo reto e transparente, para o bem da Igreja, para seu futuro, em total espírito de serviço, com todo o amor possível por Bento XVI, que eu considero um dom de Deus. Ser destituído daquele modo, injusto e brutal, também causou tanto mal à minha família: este é um aspecto que ainda me causa dor.
Que repercussão teve sobre sua família aquele licenciamento?
Minha esposa, não obstante os sofrimentos que experimentava, foi a pessoa que mais do que todos me impelia a observar os fatos que entrementes se desenvolviam, fazendo-me entrever o bem que no entanto podia fazer e o sacrifício que me era solicitado, me encorajava a suportar tanto mal por amor da Igreja. Os meus cinco filhos, ao invés, viveram de modo indireto e diverso os acontecimentos, sempre permanecendo unidos na certeza que estava se consumando uma arbitrariedade. A coisa mais devastante tem sido, em todo caso, a vontade de caluniar-me e difamar-me, através de uma operação sistemática que lançou descrédito sobre minha vida profissional e pessoal. Sofri devido a tantas relações profissionais que foram interrompidas por causa disto. E tantos amigos, também no mundo católico, me viraram as costas. Foi como se de repente a minha vida não me pertencesse mais”.
Foi até comissionada pelas cúpulas do IOR uma perícia psiquiátrica para afastá-lo, da qual emergiu que você sofria de disfunções psicopatológicas. Quer falar disso?
A minha vida foi picotada com uma crueza inimaginável. Mas, a fé me ajudou tanto. As feridas obviamente permanecem, mas se deve olhar em frente com confiança. O Papa Francisco nos guia cada dia nesta direção”.
Se amanhã devesse encontrar o Papa, o que lhe diria?
Eu lhe tomarei a mão e a apertarei com força, agradecendo por aquilo que está fazendo pela Igreja. Também lhe solicitarei que escutasse aquilo que tenho para contar-lhe, também em confissão, se considerar que seja o caso. Hei de querer estar seguro que conheça também a minha verdade.
Quanto esta experiência modificou a sua relação com a Igreja? Quanto influiu sobre a sua fé?
Não quero mentir, pois sob certos aspectos influiu. Sabe quantas noites insones passei? Sabe quantas vezes segurei as lágrimas ante a dor que a situação tinha sobre os meus filhos? Graças a Deus, tenho um bom diretor espiritual e hoje rezo muito mais pela Igreja e pelo Papa. Escolhi o beato Rosmini como meu protetor celeste. Rezo sobretudo pelos meus perseguidores, os meus detratores, aqueles que me fizeram mal. A misericórdia de Deus é infinita e espero que em seu coração se reencarem, reconhecendo os erros cometidos. Não só contra mim. A minha fé se fortaleceu, embora não mais aquela fé inocente que possuía antes. Sou um homem sereno, confiante no Papa Francisco.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“O Papa deve conhecer a minha verdade sobre o IOR” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU