14 Janeiro 2014
No último domingo, sentado na mesa de trabalho em Ca'Maitino (Sotto il Monte, Bergamo), a residência de verão de Angelo Roncalli antes de ser eleito Papa, Loris Capovilla, seu ex-secretário, almoça enquanto acompanha na TV o Ângelus, quando ouve Francisco pronunciar o seu nome. Capovilla, cardeal aos 98 anos de idade.
A entrevista é de Paolo Rodari, publicada pelo jornal La Repubblica, 13-01-2014. A tradução é de IHU On-Line.
"Eu não sabia de nada. Quando ouvi que o Papa dizia "Loris...", fiquei atento. Pessoas amigas haviam ouvido boatos sobre mim. E acreditavam que eu falara nada manter um segredo".
Mas há alguns meses, numa noite da segunda-feira de Páscoa, o Papa lhe telefonou.
"Disse-me que conhecia todas as obras de Papa João. E também muitos dos meus escritos. Mandei-lhe, pelo correio, "Pur che l'alba nasca", um colóquio com João XXIII onde descrevo como era estar junto dele."
Um Papa vindo da terra, do povo, como Francisco.
"Um Papa com os sinais característicos das boas famílias bergamascas; o rosto aberto, o sorriso encorajador, a palavra cordial, os gestos como que instintivos".
O senhor pensa nele nesta hora?
"Sempre penso nele, mas também no último cardeal bergamasco Gustavo Testa. Douto, humanista, reservado. Voltado para os estudos. Quando Roncalli subiu à sé de Pedro lhe escreveu: "O Papa lhe espera". Mandou para o Vaticano o seu escudo vazio e dentro, escrito em vermelho: "Sola gratia tua", por teu dom. Uma anomalia arádlica na qual me revejo".
Mas o senhor não é de Bergamo.
"Sou vêneto, mas bergamasco por adoção. E também eu digo: "Sola gratia tua".
Roncalli renovou a Igreja abrindo o Concílio. Francisco lhe fez cardeal porque vê no senhor a mesma sensibilidade?
"Não interpreto as suas escolhas. Somente digo que a Igrja hoje é melhor do que era antes do Concílio. Não se volta para trás. Basta o espírito missionário e ecumênico. Não gosto falar de conservadores e inovadores. Eu, por exemplo, sou o quê? Um conservador porque sou fiel à tradição e um inovador porque olhe sempre para a frente?"
Francisco promove os pastores e não os carreiristas.
"Carreiristas é um termo que não quero usar. Inclusive porque cada pessoa é perfectível e capaz de se redimir. Certamente, Francisco quer padres que priorizem a oração e a alegria do Evangelho. "Gaudet Mater Ecclesia" disse Papa João abrindo o Concílio. E "Evangelii Gaudium" diz Francisco. A estrada é a mesma. O Concílio surgiu como um dia fulgurante de luz esplendorosa. Era apenas a aurora. E hoje, como agora, "tantum aurora est!". É a primeira hora da evangelização. E Deus concede, também a mim, de vivê-la".
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"Estava vendo a TV quando ouvi o meu nome" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU