06 Janeiro 2014
A profecia do Reino de Deus não é negociável. Ou somos proféticos de verdade ou não podemos fazer de conta de sê-lo. "Não se pode jogar com o futuro". Caso contrário, há o risco de "criar monstros", ou religiosos ou religiosas pouco motivdos e com coração "cheio de vinagre".
A reportagem é de Franca Giansoldati e publicada pelo jornal Il Messaggero, 04-01-2014. A tradução é da IHU On-Line.
Desta vez os esforços do Papa Francisco se concentram no vastíssimo arquipélafo das ordens religiosas (tanto masculinas como femininas), todos unidos pela mesma preocupação: a crônica falta de vocações, a secularização galopante, o individualismo e, sem omitir, a presença de pessoas com graves problemas psicológicos.
Estes problemas não são novidade, tanto que já tinham sido analisados em 1994, durante um dos tantos Sínodos dedicados à vida religiosa, quando os bispos das Filipinas escreveram ao Papa Wojtyla uma longa carta para denunciar o "tráfico de noviças", ou seja, o recrutamento de moças muito pobres às quais se oferecia um futuro cômodo fugindo da miséria, ainda que subordinado às regras da vida claustral da obediência e da castidade.
Este estratagema salvou, algumas vezes, da extinção algumas congregações religiosas, muito antigas, que ficaram com pouquíssimas irmãs em atividade. Na Congregação para os Religiosos sempre se fez de conta de que o problema não existia já que o ingresso de noviças estrangeiras constituia uma 'saída' para tantos países europeus.
O apelo para acabar com esta prática ("É necessário ter os olhos abertos para estas situações") chegou vinte anos depois. Papa Bergoglio, falando aos Superiores Gerais das Ordens Religiosas recordou que certas práticas constituem um perigo potencial para a Igreja. "Não se pode brincar com estas coisas", afirmou no longo colóquio publicado pela revista Civiltà Cattolica que focaliza diversos problemas, inclusive o dos abusos sexuais, cuja batalha levada à frente por Bento XVI continua firme no atual pontificado.
Papa Francisco pede coerência e seriedade na avaliação dos candidatos para que não sejam admitidos nas estruturas religiosas jovens não idôneos, muitas vezes excluídos dos seminários diocesanos.
"Devemos formar o coração. Caso contrário, formamos pequenos monstros, e depois estes monstros formam o povo de Deus", disse o Papa.
O colóquio com os superiores gerais aconteceu sem discursos préviamente elaborados, nem esquemas, nem um protocolo específico. O Papa quis falar livremente, interrompido por perguntas e respostas, de modo a fazer emergir as dúvidas e as questões mais graves. "Não devemos formar religiosos com o coração azedo como o vinagre". Nem mesmo devemos formar administradores, mas pais e irmãos".
Os religiosos, missionários, irmãs de clausura, monges, deveriam ter a coragem de "fazer barulho" ('fare casino" é a expressão italiana usada pelo Papa), de "despertar o mundo", de narrar para as pessoas a esperança do Evangelho e ajudá-las a percorrer o caminho com coragem. "Deveis testemunhar um mundo diferente, no modo de fazer e de se comportar". E isto, segundo o Papa, unido a um modo mais simples e menos auto referencial de falar às pessoas. "Este é o melhor caminho para chegar às periferias, também aquelas existenciais". Enfim, uma outra recomendação. "O Evangelho se difunde com a doçura e não com porretadas".
Nota da IHU On-Line:
Para ler a íntegra, em espanhol, da reportagem sobre a Conversa do Papa Francisco com os Superiores Religiosos, clique aqui.
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"Não ao tráfico de noviças". O apelo do Papa às religiosas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU