A abertura, de surpresa, de Papa Francisco. "Os casais gays um desafio para quem educa. Não afastemos seus filhos da fé"

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

06 Janeiro 2014

"Lembro do caso de uma menina muito triste que no fim confessou para a professora o motivo do seu estado de ânimo: "A namorada da minha mãe não gosta de mim". A porcentagem de crianças que estuda nos colégios e quem têm pais separados é muito alto - acrescentou. As situações que vivemos hoje, portanto, nos colocam novos desafios que para nós, muitas vezes, são difíceis de compreender. Como anunciar Cristo a estes meninos e meninas? Como anunciar Cristo a geração que muda?"

São palavras do Papa Francisco, pronunciadas na conversa com os superiores gerais, no Vaticano, dia 29 de novembro de 2013. A conversa foi sintetizada e publicada pela revista La Civiltà Cattolica, dia 03-01-2014.

A reportagem é de Paolo Rodari e publicada pelo jornal La Repubblica, 05-01-2014.

O Papa mostra como na Igreja existe uma consciência não banal a respeito da realidade familiar hoje. Ao lado das famílias tradicionais, há casais formados por pessoas hetero e homossexuais. E este dado de fato, diz subsntancialmente o Papa, não deve ser eludido. É o que repete sempre o cardeal de Viena, Christoph Schönborn: a Igreja deve dar-se conta que "hoje a família é patchwork, é uma família feita de divorciados, recasados etc".

Francisco diz aos superiores gerais: "É preciso estar atentos para que não se dê a estas novas gerações uma "vacina contra fé". Para Bergoglio, "o educador deve estar à altura das pessoas que educa, deve se perguntar como anunciar a Jesus Cristo para uma geração que muda". E ainda: "A tarefa educativa hoje é uma missão chave, chave, chave".

Não há como não constatar que o Papa chega onde os seus predecessores nunca chegaram.

Ontem foi o jornal católico Avvenire a jogar água fria nos entusiasmos que o Papa suscita, escrevendo num editorial que "prioridades são trabalho e família, e não casais gays". O Papa, contudo, não parece querer ceder sobre o leitmotiv do pontificado: a Igreja deve acolher a todos e não fechar portas.

Recentemente, Víctor Manuel Fernández, reitor da Universidade Católica da Argentina, e amigo do Papa, explicou: "Deve haver uma proporção adequada na frequencia com a qual alguns argumentos são inseridos na pregação. Se um pároco durante o ano litúrgico fala dez vezes de moral sexual e somente duas ou três do amor fraterno ou da justiça, há uma desproporção. Igualmente se fala muitas vezes contra o casamento de homossexuais e pouco da beleza do matrimônio".

Não é por acaso que o padre Antonio Spadaro, diretor da revista La Civiltà Cattlolica: "Papa Francisco quer se entenda que estamos ante um mundo em mudança e a Igreja deve compreender como anunciar o Evangelho num mundo que muda. O Papa não quer definir mas abrir as janelas. A situação de um casal gay deve ser vivida como um desafio, porque o Evangelho deve ser anunciado a todos".

E as palavras do Papa são aplaudidas pelas associações gays. O portavoz do Gay Center, Fabrizio Marrazzo, diz: "Seria um fato histórico se o Papa se encontrasse com famílias de casais gays. De Bergoglio vem uma reflexão que contrasta com a cultura filha da homofobia. A sua é uma atenção inédita de um pontífice para quem se deve olhar com confiança".