O escândalo dos camilianos

Mais Lidos

  • O “non expedit” de Francisco: a prisão do “mito” e a vingança da história. Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS
  • "A ideologia da vergonha e o clero do Brasil": uma conversa com William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • A luta por território, principal bandeira dos povos indígenas na COP30, é a estratégia mais eficaz para a mitigação da crise ambiental, afirma o entrevistado

    COP30. Dois projetos em disputa: o da floresta que sustenta ou do capital que devora. Entrevista especial com Milton Felipe Pinheiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

10 Novembro 2013

Dinheiro, encargos, contratações e contratos. Eis a figura do "sequestro" organizado pelo contador Paolo Oliverio em detrimento dos religiosos Rosario Messina e Antonio Puca, para impedir que votassem e que o padre geral da ordem dos camilianos, Renato Salvatore, preso há três dias, perdesse a gestão de 200 hospitais em todo o mundo.

A reportagem é de Valentina Errante, publicada no jornal Il Messaggero, 09-11-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Cifras de seis zeros, com 17 milhões de euros anuais que a região de Campania transferia apenas para o hospital de Santa Maria della Pietà, em Casoria. Outros 29 milhões de euros teriam ainda entrado nos cofres da estrutura para a realização do pronto socorro.

Está apenas no início a investigação coordenada pelo promotor Giuseppe Cascini e ela logo poderia revelar um novo escândalo na sombra do Vaticano. Até mesmo para Alessandro Di Marco e Mario Norgini, presos por terem simulado um interrogatório contra os religiosos, afastando-os assim do conclave, perfilam-se mais problemas.

Das escutas, surge que ao menos em outro caso os militares executaram um interrogatório falso, e desta vez a vítima era um comerciante. Fala-se de contratações dirigidas, enfermeiros sem título e do serviço de farmácia do hospital de Casoria confiado à amante de um sacerdote. Mas as cifras de seis dígitos vêm do erário público. Em 2011, a região da Campânia reconheceu à província da Sicília e de Nápoles da ordem dos camilianos, confiada justamente a Oliverio, e particularmente ao hospital de Santa Maria della Pietà de Casoria créditos de 17,5 milhões de euros, a mesma soma para o ano seguinte. O decreto previa que a administração assumisse as dívidas da estrutura gerida pelo negociador.

Os favores

Nos projetos de Oliverio e dos seus amigos, também havia a gestão do contrato para o pronto socorro. Lê-se no informativo do núcleo da Polícia Tributária de Finanças: "Di Marco foi bem sucedido na sua intenção, favorecendo os empresários Cricchi na alocação dos trabalhos de reestruturação e realização de estruturas sanitárias especializadas como o pronto socorro e as salas de operação, a serem realizadas junto ao citado Hospital Santa Maria della Pietà de Casoria".

As interceptações confirmam. No dia 6 de março, o padre Salvatore telefona para Oliveri, o negociador conta que foi ao encontro de Morlacco (Mario, sub-comissário de Saúde da região da Campânia): "Ele disse que o ponto socorro estará ativo em breve: 29 milhões de euros de orçamento. Tudo pronto. O dinheiro chegará à repartição de saúde, e todos serão pagos. Paolo está seguro de que tudo irá bem".

Depois diz que, em Messina, "onde eles tinham o documento de unidades de contribuição negativo, eles tinham capturado um milhão e meio ao padre Mario, mas ele recorreu. Enquanto isso, foi aplicada uma lei para os contratos públicos ao invés da saúde e, portanto, eles voltarão à posse do milhão e meio. O padre Renato agradece Oliverio".

No dia 14 de maio, Oliverio telefona para o empresário Patrizio Cricchi para lhe dizer que, no dia seguinte, ele "foi convocado pelo 'grande chefe'. Portanto, se ele quiser, podem fazer na quinta-feira, visto que, depois, ele estará em Casoria. Paolo especifica que gostaria de lhe fazer ver coisas, também com o diretor sanitário [Domenico Maglione]".

O interrogatório fingido

Das atas da investigação, vem à tona que, nos dias 23 e 24 de julho passado, um empresário de Palestrina foi convocado aos escritórios de Finanças. Outro interrogatório simulado organizado por Oliverio e por Di Marco, que depois também contata o seu colega Norgini. Franco é o nome do empresário, que, presumivelmente, tem uma conta aberta junto à Equitalia. No dia 24 de julho, Di Marco pergunta a Oliverio por telefone "quando eu devo chamar Francuzzo. Pensemos um pouco antes de eu começar tudo".

O empresário é convocado efetivamente aos escritórios de Finanças e interrogado por Norgini. Di Marco está na sala ao lado e se comunica com Oliverio por SMS. "Você deve perguntar a Norgini como ele riu, ele estava se sentindo mal", escreve. Mas sobre esse episódio as investigações ainda estão em andamento.