08 Novembro 2013
Aproximadamente uma semana após o Vaticano ter pedido aos bispos do mundo que distribuíssem um questionário entre os católicos, acerca de questões como contracepção, casamento entre pessoas do mesmo sexo e divórcio, “imediatamente” e “tão amplamente quanto possível”, não há consenso sobre o que essa diretiva significa.
O artigo é de Joshua J. McElwee e publicado por National Catholic Reporter - NCR, 05-11-2013. A tradução é de Gabriel Ferreira.
Além disso, comparando as notas das recentes declarações do Vaticano, é difícil decifrar se o convite para a consulta é sem precedentes ou algo que acontece há décadas.
O principal porta-voz do Vaticano disse em uma entrevista na última semana, que o pedido do Vaticano para os bispos do mundo, para que pesquisasse os católicos acerca de certos tópicos relacionados às suas vidas, era parte de uma práxis habitual.
No entanto, o responsável que enviou o questionário disse, na terça, que tal pesquisa era parte de um amplo projeto para reformar o modo como o Vaticano atinge os bispos e os fiéis ao redor do mundo.
O questionário foi enviado dia 18 de outubro pelo Sínodo dos Bispos no Vaticano, que está preparando um encontro global de prelados para o próximo outubro. Convocado pelo Papa Francisco no último mês, o encontro que se dará durante os dias 5 a 19 de outubro de 2014 deverá ter como ponto central o tema “Desafios Pastorais da Família no contexto da Evangelização”.
Francisco e seu Conselho de Cardeais, um grupo de oito cardeais que está assessorando o Papa nas reformas da burocracia central do Vaticano, discutiram o sínodo sobre a família em seu encontro ocorrido entre primeiro e três de outubro. Fontes no Vaticano disseramapós o encontro que o sínodo sobre a família não será burocrático como de costume.
O próximo sínodo, segundo essas fontes, seria alimentado pela consulta substancial em nível local, envolvendo dioceses e paróquias. À NCR foi comunicada, no início de outubro, que os colaboradores do Vaticano discutiram o uso da Internet a fim de permitir que católicos atuantes ofereçam ideias e reações durante o processo.
Parece que os bispos da Inglaterra e do País de Gales tiveram esta ideia: eles colocaram o questionário de 18 de outubro, enviado pelo Vaticano, online.
Mas quando o arcebispo Lorenzo Baldisseri foi questionado na coletiva de imprensa no Vaticano, na terça-feira, se essa ação era algo que as outras conferências episcopais deveriam imitar, ele disse que a “questão respondia-se a si mesma” e não “valia a pena ser considerada”.
Baldisseri, o secretário-geral do sínodo dos bispos do Vaticano, foi o autor da carta de 18 de outubro.
A carta pede às Conferências que questionem suas populações acerca de tópicos por vezes controversos, em vista de um sínodo do Vaticano sobre a família no próximo outubro.
Um sínodo é um encontro global de bispos católicos, dedicado normalmente a um tema em particular.
Baldisseri, que foi apontado para seu cargo em 21 de setembro, falou publicamente pela primeira vez sobre o sínodo e seu pedido às Conferências Episcopais na coletiva de imprensa, conjuntamente com dois outros prelados mais velhos.
Referindo-se ao fato de espera-se que seu cargo seja submetido à uma revisão, com as reformas da burocracia vaticana que está sendo empreendida por Francisco, ele disse que o papa desejava fortalecer seu posto a fim de melhor promover a colegialidade e a consulta entre o pontífice e os bispos do mundo.
O documento referente ao sínodo do próximo ano, afirmou ele, foi enviado “para iniciar o processo de consulta”. Em suas palavras, o documento foi enviado às dioceses de todo o mundo “com o objetivo de obter dados concretos e reais sobre o tema do sínodo”.
O jesuíta Pe. Federico Lombardi, entretanto, declarou em uma entrevista à Catholic News Agency no sábado, que as questões serão utilizadas pelo sínodo apenas num sentido de aconselhamento. Lombardi é o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé.
Na carta enviada às Conferências Episcopais em outubro, Baldisseri instruiu os prelados a distribuírem o questionário “imediatamente e tão amplamente quanto possível aos decanatos e paróquias de forma que as contribuições das fontes locais possa ser recebida”.
Uma questão surgida aí é se o arcebispo e o Vaticano quiseram dizer aos bispos do mundo que conduzissem uma pesquisa de suas populações usando o questionário. A Conferência dos Bispos dos Estados Unidos não solicitou ao episcopado norte-americano que prosseguisse com uma pesquisa de tal amplitude, dizendo aos bispos, em um memorando datado de 30 de outubro enviado junto com a carta de Baldisseri, que fornecessem apenas suas próprias observações.
Falando nos bastidores à NCR sobre a última semana, vários bispos dos EUA, bem como antigos membros da Conferência Episcopal, disseram que acharam as instruções da carta de Baldisseri, de 18 de outubro, e o memorando de 30 de outubro de Jenkins, conflitantes entre si. A partir dos dois documentos, disseram os bispos e membros, não era claro que tipo de consulta esperava-se dos bispos.
Dolores Leckey, que dirigiu o secretariado dos bispos norte-americanos para a Família, Laicato, Mulheres e Jovens, de 1977 a 1997, disse em entrevista que ela jamais havia visto um pedido similar do Vaticano durante todo tempo em que esteve com os bispos dos EUA.
Leckey afirmou que seu secretariado na Conferência Episcopal empreendeu um processo consultivo de dois anos para o sínodo de 1987 sobre os leigos, mas que o processo surgiu de uma iniciativa dos bispos dos EUA e não de um pedido do Vaticano.
Os bispos norte-americanos escolhidos para comparecerem àquele sínodo decidiram que eles “queriam ouvir o que o povo tinha a dizer”, disse Leckey.
Enquanto o Vaticano não havia disponibilizado inicialmente o documento de 18 de outubro, ele foi postado na terça no site do sínodo dos bispos e foi distribuído através da Sala de Imprensa do Vaticano.
Baldisseri disse que esperava que os padres fornecessem resumos das visões e das experiências de paroquianos e seus resultados seriam “canalizados”, por sua vez, através das Conferências Episcopais para a consideração última pelo sínodo.
Indivíduos católicos são bem-vindos para expressarem suas visões diretamente aos escritórios do sínodo no Vaticano, segundo Baldisseri. Sua equipe está preparando o documento de trabalho do sínodo, que deve ser publicado em maio.
O arcebispo Bruno Forte, um italiano que deve trabalhar como o secretário do próximo sínodo disse no comunicado da terça do Vaticano, que o processo para esse sínodo é um “amplo e profundo processo de escuta da vida da Igreja e dos mais prementes desafios colocados a ela”.
Forte declarou que gostaria de enfatizar o “viés pastoral” do tema, como “uma perspectiva através da qual o Santo Padre nos convida a olhar para o valor da família e dos desafios que ela enfrenta hoje”.
“Não se trata, entretanto, de se debater questões doutrinais”, segundo o arcebispo italiano. “Mas de como entender o modo de efetivamente proclamar o Evangelho da família nos tempos em que estamos vivendo, caracterizado por uma clara crise social e espiritual”.
Entre as questões postas pelo documento de 18 de outubro, estão tópicos que por vezes têm dividido claramente a igreja dos EUA, como o ensinamento católico proibindo o uso de métodos artificiais de contracepção, a possibilidade de católicos divorciados casarem novamente ou receberem a Eucaristia, e o número de casais que escolhem viver juntos antes do casamento.
Baldisseri disse na terça que estava pedindo às Conferências Episcopais para que respondessem por volta do fim de janeiro, para que assim seu secretariado pudesse utilizar o material nos encontros previstos para fevereiro.
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Questionário do Sínodo em discussão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU