24 Outubro 2013
A um ano de distância, depositadas as poeiras da batalha, surgem incidentalmente fragmentos significativos, pedaços de história e outros particulares desconhecidos de uma guerra sem fronteiras que se realizaram à sobra do Torrião de Nicolau V, a sede do Instituto para as Obras de Religião (IOR), entre 2011 e 2012, pela lei contra a lavagem de dinheiro. Um braço de ferro que, como se sabe, culminou com o brutal afastamento do então presidente, Ettore Gotti Tedeschi.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 23-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A expulsão do professor ocorreu com modalidades e circunstâncias totalmente inéditas na história do Vaticano. Porque o economista, chamado ao IOR pelo Papa Ratzinger para levar adiante o desafio da transparência financeira, não só foi desautorizado da noite para o dia, mas também, contra ele, moveu-se uma pesada campanha de deslegitimação pessoal.
Uma espécie de legal thriller dentro dos muros leoninos com muitas reviravoltas, como o estudo de um psicoterapeuta encarregado de elaborar um diagnóstico sobre Gotti Tedeschi, depois de tê-lo observado sem o seu conhecimento sob o perfil médico durante uma festa em dezembro de 2011. A conclusão é que Gotti sofria de "distúrbios psicopatológicos", e esse surpreendente diagnóstico foi utilizado depois pelo conselho do IOR para desautorizá-lo em maio de 2012.
Mais do que um complô. Ao contrário do que sempre se soube, o Papa Ratzinger foi mantido às escuras sobre a expulsão do presidente Gotti Tedeschi, como também atesta Dom Georg Gänswein, prefeito da Casa Pontifícia e secretário do Papa Ratzinger.
Em uma entrevista com o jornal Il Messaggero, publicada nessa terça-feira, quando perguntado se Bento XVI estava ciente do que estava acontecendo, Dom Gänswein respondeu assim: "Eu me lembro bem desse momento. Era o dia 24 de maio. Naquele dia, houve também a prisão do nosso mordomo Paolo Gabriele. Ao contrário do que se pensa, não houve nenhum nexo entre os dois eventos, mas sim apenas uma infeliz coincidência, até mesmo diabólica. Bento XVI, que tinha chamado Gotti para o IOR, para levar adiante a política da transparência, ficou surpreso, muito surpreso pelo ato de desconfiança para com o professor. O papa o estimava e o queria bem, mas, por respeito às competências de quem tinha responsabilidade, ele optou por não intervir naquele momento. Depois da desconfiança, o papa, por motivos de oportunidade, embora nunca tenha recebido Gotti Tedeschi, manteve os contatos com ele de modo adequado e discreto".
Ratzinger estava tão ferido que, mais tarde, em dezembro de 2012, pediu ao secretário de Estado, Bertone (à frente também do conselho de cardeais de vigilância do IOR) que reabilitasse o professor de algum modo, que estudasse uma forma adequada para reparar Gotti do mal feito a ele. Mas o desejo do papa emérito foi desatendido.
Enfim, outro particular deixa claro que o episódio de Paolo Gabriele não tem nada a ver com Gotti, apesar do fato de que o conselho do IOR motivou a desconfiança também com base na publicação de um memorando anônimo sobre os retoques feitos à lei contra a lavagem de dinheiro.
Em todo esse tempo, Gotti permaneceu em silêncio e nunca foi ouvido pela comissão encarregada por Francisco de adquirir informações sobre a gestão do IOR. Neste ponto, porém, podemos apostar, a audiência será feita.
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Caso IOR: Bertone desobedeceu Ratzinger sobre Gotti Tedeschi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU