23 Outubro 2013
A controvérsia em torno da deportação de uma menina cigana de 15 anos e de sua família continua minando o governo do presidente francês François Hollande. O escândalo é a mais recente inflamação do debate profundamente divisor da imigração no país.
A reportagem foi publicada na revista Der Spiegel e reproduzida no Portal Uol, 22-10-2013.
O ministro do Interior francês, Manuel Valls, defendeu no domingo sua decisão de deportar uma menina cigana de 15 anos e sua família para Kosovo, depois que o pedido de asilo deles não foi atendido. A deportação provocou pedidos de estudantes e de grupos esquerdistas para que o ministro renuncie.
Valls, o encarregado pela política de imigração do governo socialista de François Hollande, é atacado pela mídia francesa desde que a polícia deteve Leonarda Dibrani em frente aos seus colegas de classe enquanto realiza um passeio escolar em 9 de outubro. Dibrani e o restante de sua família, que viviam em Levier, no leste da França, foram enviados para Kosovo naquele mesmo dia.
Milhares de estudantes do ensino médio realizaram protestos contra o governo em Paris e por todo o país na semana passada, enquanto alguns políticos apoiaram a exigência dos estudantes para que Valls renuncie, segundo a mídia francesa.
"Nós devemos nos orgulhar do que estamos fazendo, em vez de sentirmos pena de nós mesmos", Valls disse ao semanário francês "Journal de Dimanche". Ele acrescentou: "Nada me fará desviar do meu caminho. A lei deve ser aplicada e essa família não deve voltar à França".
O ministro do Interior assumiu uma posição linha-dura em relação à imigração ilegal, causando um racha dentro de seu próprio partido de centro-esquerda. Valls argumentou no mês passado que os 20 mil imigrantes ciganos na França eram "diferentes" e incapazes de se integrarem na sociedade francesa, sugerindo que deveriam ser devolvidos aos seus países de origem.
Críticas da esquerda e da direita
Os comentários mais recentes de Valls ocorreram um dia após uma investigação interna pelo Ministério do Interior ter apontado que a deportação da família Debrani foi legal, apesar do modo como foi conduzida carecer de bom senso. Hollande repetiu as conclusões do relatório após sua divulgação no sábado, apesar de ter indicado que Leonarda Dibrani poderia voltar à França para dar continuidade aos seus estudos. "Se ela fizer o pedido, e se quiser dar continuidade aos seus estudos, ela será bem-vinda, mas apenas ela", disse Hollande ao vivo pela televisão francesa.
Hollande foi criticado tanto pela esquerda quanto pela direita pela decisão. O líder da oposição de centro-direita, União por um Movimento Popular, acusou o presidente de minar a "autoridade do Estado", enquanto o Partido de Esquerda chamou a decisão de não permitir que a família dela a acompanhe de uma "crueldade abjeta".
Por sua vez, foi noticiado que Leonarda rejeitou a oferta. "Eu não irei à França, eu não vou abandonar minha família. Eu não sou a única que precisa ir à escola, também há meus irmãos e irmãs", ela disse, segundo a agência de notícias francesa "AFP". O pai da menina, Resat Dibrani, acrescentou que sua família, que vivia na França desde 2009, lutaria junta pelo retorno, dizendo que seus filhos "estavam integrados na França".
O relatório do Ministério do Interior, entretanto, determinou que o pai não demonstrou "interesse real em se integrar à sociedade francesa". Ele aparentemente também recusou ofertas de emprego, foi preso, abusou fisicamente de Leonarda e de sua irmã mais velha, segundo o site de notícias "France 24".
Além disso, Resat Dibrani confirmou à "AFP" que enganou as autoridades francesas ao dizer que toda sua família nasceu em Kosovo para melhorar suas chances de receber asilo. Na verdade, apenas ele nasceu em Kosovo, enquanto sua esposa e cinco de seus seis filhos nasceram na Itália.
O caso Dibrani parece ter prejudicado ainda mais a popularidade do sitiado Hollande. Uma nova pesquisa publicada no domingo pelo "Journal de Dimanche" lhe deu a aprovação baixa recorde de 23%. Mas uma pesquisa realizada pela empresa francesa de pesquisa BVA, publicada no sábado pelo "Le Parisien", mostrou que 77% da população francesa apoia a posição de Valls no caso, indicado a continuidade do desconforto dos franceses com a imigração.
Mais de 10 mil ciganos --a maioria da Romênia, Bulgária e da antiga Iugoslávia-- foram expulsos à força de assentamentos informais na França durante a primeira metade de 2013, segundo um relatório recente da Anistia Internacional
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Deportação de jovem cigana inflama debate sobre imigração na França - Instituto Humanitas Unisinos - IHU