Por: André | 22 Outubro 2013
Prossegue, com mais força, a oposição ao Papa Bergoglio. Uma crítica cada vez menos silenciosa, em que os setores mais conservadores questionam abertamente o Papa por sua predisposição ao diálogo e sua abertura aos homossexuais, os divorciados em segunda união, a defesa de uma participação mais efetiva da mulher na Igreja e seu contato, de igual para igual, com outras confissões.
Fonte: http://bit.ly/19YTey1 |
A reportagem está publicada no sítio Religión Digital, 21-10-2013. A tradução é de André Langer.
A preocupação entre os tradicionalistas começou a se gestar logo depois da eleição de Francisco, como destaca The Washington Post. Quase imediatamente depois, o Papa disse aos jornalistas não católicos que os abençoaria em silêncio, por respeito às suas convicções. Pouco depois, alterou uma das práticas do Vaticano, ao incluir mulheres – uma delas muçulmana – no Lava-pés da Quinta-Feira Santa.
Incomodados, os tradicionalistas começaram a criticá-lo quando, em uma entrevista, Francisco disse que os católicos não deveriam ficar “obcecados” em impor sua doutrina, inclusive em relação ao casamento gay e ao aborto. Depois, no começo deste mês, Francisco disse ao diretor do jornal La Repubblica, Eugenio Scalfari, que as pessoas deveriam seguir o caminho do bem e lutar contra o mal “como cada qual o entender”. Esses comentários foram feitos depois de uma entrevista com jornalistas a bordo do avião papal que o trouxe de volta da Jornada Mundial de Juventude do Brasil, onde declarou que seu papel não é julgar os gays, “caso estes aceitarem o Senhor”.
Pouco importou que Francisco também deixasse claro seu apego à doutrina da Igreja. Por trás do crescente ceticismo, em alguns ambientes aninha-se o temor de que a abertura do Papa Francisco para todos e sua linguagem espontânea, tão aberta a todo tipo de interpretações, acabem jogando por terra as décadas de esforço da Igreja para demarcar claramente a doutrina católica. Alguns conservadores também sentem que o Papa está socavando essa doutrina, em momentos em que se vê ameaçada como nunca por uma crescente cultura laica.
“Quando um grupo abortista te envia uma nota de agradecimento, fica claro que algo foi comunicado de maneira errada”, disse Robert Royal, presidente do grupo de estudos Faith & Reason.
“Francisco é um homem notável, ninguém pode negá-lo – disse Royal. Mas não estou certo de que esteja muito preocupado com a precisão das suas palavras. Entra em uma dinâmica de evangelização com as pessoas, e será que isso é o mais importante? Mas de alguma maneira inquieta as pessoas. Se agora faz isto, o que fará depois?
Durante as três décadas passadas, os Papa João Paulo II e Bento XVI compartilhavam um mesmo enfoque: que os ensinamentos da ortodoxia ficassem claras como a água, para que os católicos não se perdessem em um mundo cada vez mais relativista.
Os católicos também se acostumaram com papas que falavam preferencialmente “à Igreja”, mais que às pessoas em geral. Esses homens costumavam falar na linguagem da teologia católica e por meio de livros, não através de longas entrevistas de temática livre, como faz o Papa Francisco.
“No passado, tudo o que se escutava de um papa era preparado previamente e era comunicado por canais formais. E isso era deliberado, para não dizer nada ad hoc. E também é deliberado o que faz este papa”, disse Phil Lawler, editor da agência de notícias conservadora Catholic World News. “Creio que todo o seu enfoque está posto fora da Igreja, e isso é grave”.
Muitos conservadores acreditavam saber o que faz um “bom católico”. Isso porque os últimos dois papas deixavam claro que era essencial seguir a doutrina da Igreja, com especial ênfase na necessidade de opor-se ao aborto e à igualdade homossexual. Agora, muitos destes mesmos tradicionalistas tentam conciliar as declarações de aparente abertura de Francisco com esse sentido do que implica ser católico. As conclusões a que chegam diferem enormemente entre si.
Alguns dizem ter rezado profundamente sobre esses temas e ter descoberto que confrontar-se com essas dissonâncias fortaleceu sua conexão com a sua fé. Divulgam pela internet ensaios com títulos como “O Papa Francisco me mata” e “Por que o Papa Francisco me perturba tanto”.
Mary Ellen Barringer, moradora de Silver Springs, de missa diária, disse que sente “desesperadamente” saudades do Bento. Afirma que Francisco imediatamente desafiou os católicos a irem além. Além disso, assinala ter sentido que o Papa dizia a pessoas como ela que assinar cheques para causas a favor da vida não era suficiente e que era preciso aproximar-se mais dos desprotegidos e dos pobres. Disse ter se sentido menosprezada em relação aos católicos menos tradicionais. “Está chamando a todos e a cada um de nós a amar o nosso próximo como a nós mesmos, algo realmente difícil de fazer”, disse.
Gregory Popcak, conselheiro de casais e famílias e terapeuta de Ohio, relata ter tido que rezar profundamente quando vários de seus pacientes usaram as palavras de Francisco para retrucar sua explicação dos ensinamentos da Igreja em matéria de sexualidade.
Primeiro, sentiu frustração, depois vergonha. Foi quando lhe veio à mente a parábola do filho pródigo, na qual se identificou com o filho bom. “O filho bom ficou em casa, fez tudo o que seu pai lhe pediu”, escreveu Popcak em um ensaio recente que publicou on-line e com o qual muitas pessoas se sentiram imediatamente identificadas. “As pessoas que abandonaram a Igreja, que odiavam a Igreja, de repente se deram conta de que Deus as amava, que a Igreja abria os braços para elas, e não pude senão sentir ressentimento”.
Alguns católicos sentem que Francisco está reavivando as brigas que se seguiram ao Concílio Vaticano II. Nesse momento, os conservadores sentiram que os católicos progressistas interpretavam mal a intenção do Concílio e levavam a “abertura” muito longe.
Os últimos dois papas pareciam estar de acordo em priorizar o estabelecimento da “identidade católica” entre as pessoas e as instituições, enfatizando a importância de uma doutrina clara que não deixe lugar a dúvidas, em especial em temas relacionados com a reprodução humana e o matrimônio.
“Aquelas acaloradas discussões nas paróquias? Não quero passar por isso novamente – disse Lawler. As coisas, finalmente, estavam se acalmando”.
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Setores tradicionalistas questionam abertamente o Pontificado de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU