20 Outubro 2013
Franz-Peter Tebartz van Elst, bispo de Limburg, não entendeu bem o apelo do Papa Francisco (logo depois da sua eleição) por uma "Igreja pobre e para os pobres". Na Alemanha, os fiéis da sua diocese estão furiosos pelos gastos astronômicos para a construção da sua nova residência: 31 milhões de euros.
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 18-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Pouca coisa, talvez, para certos clãs políticos italianos, mas, na Alemanha, são perfeccionistas, e para os fiéis e para muitos homens da Igreja não desce que o bispo de 54 anos tenha gastado 15 mil euros com a banheira, 350 mil euros com os armários e outros 783 mil com um "jardim mariano". Coisas para enviar ao Papa Bergoglio para quem até os carros oficiais incomodam.
Mas a história não termina aqui. O jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung afirma que, no verão de 2011, as estimativas para a nova residência – que então chegavam a 17 milhões euros – foram divididas em 10 projetos para não incorrer nas necessárias autorizações vaticanas, indispensáveis quando se trata de somas superiores a 5 milhões de euros. A fermentação dos custos agora parece que pode chegar a 40 milhões.
E nem aqui acabam os problemas do bispo esbanjador. A Procuradoria de Hamburgo abriu um processo por "perjúrio" com relação a um voo feito pelo prelado para a Índia. Ele tinha declarado que havia comprado um bilhete na classe executiva, mas, ao contrário, tratava-se de um bilhete de primeira classe. Um pecado mortal – a mentira de um expoente público – para a opinião pública alemã e ainda mais para as autoridades judiciais. Na Itália, os críticos seriam chamados de "populistas judiciais". Do outro lado dos Alpes, não funciona assim.
O presidente da Conferência Episcopal Alemã, Dom Zollitsch, decidiu instituir uma comissão de inquérito e, na manhã dessa quinta-feira, Zollitsch reportou o caso diretamente ao papa. Que, entretanto, já tinha se organizado para coletar notícias em primeira mão. Francisco tinha enviado para a Alemanha em setembro o cardeal Lajolo, conhecedor da situação na República Federal por ter vivido lá como núncio. Zollitsch e o papa concordaram em dar início à comissão a partir dessa sexta-feira, da qual também participarão especialistas externos à Igreja.
Dom Tebartz havia corrido no fim de semana para Roma, esperando poder falar com o pontífice, mas Francisco quis encontrar antes o presidente da Conferência Episcopal Alemã. Enquanto isso, Tebartz declarou que o seu cargo está "nas mãos" do pontífice.
Com o pontificado de Bergoglio parecem ter desmoronado os tempos em que os bispos podiam administrar os bens da diocese a seu bel prazer como pequenos soberanos. Francisco já disse que os bispos não devem ter a atitude de "príncipes do Renascimento" e que os sacerdotes, quando pensam em comprar um carro, devem refletir bem sobre o modelo a ser adquirido: "Porque no mundo há crianças que morrem de fome".
Francisco tem pouca simpatia por desperdícios, malversações ou investimentos imprudentes. Nesses primeiros sete meses, já caíram algumas cabeças. Os bispos eslovenos de Maribor (Dom Turnsek) e de Liubliana (Dom Stres) foram forçados a renunciar por uma dívida de 800 milhões de euros. No Camarões, saiu de cena o ex-arcebispo de Yaoundé, Dom Tonye Bakot, depois dos protestos dos fiéis por má administração.
A história Tebartz se insere na estratégia do novo pontificado entre cujos pontos principais está o imperativo da transparência e uma extrema atenção ao uso cuidadoso dos bens eclesiásticos. O novo curso assusta os setores mais conservadores da Cúria e da Igreja, porque deriva daí também o reconhecimento do direito dos fiéis (e da opinião pública) de verificar a coerência entre práxis administrativas eclesiásticas e a retórica dos sermões.
O argumento de que os meios de comunicação "incitam contra a Igreja" podia funcionar durante o pontificado de Ratzinger. Agora não cola mais. Francisco sabe que a coerência é a virtude máxima: a operação limpeza não pode parar.
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Francisco e o bispo esbanjador: punir um para educar cem - Instituto Humanitas Unisinos - IHU