Por: Cesar Sanson | 17 Outubro 2013
Aos 26 anos, M* convive com as lembranças do estupro que sofreu em 2007, quando tinha 19 anos. Ela foi forçada a manter relação sexual com seu ex-namorado. “Durante três semanas, eu não era ninguém. Fiquei muito abalada”. Na época, ela era estudante de História da Universidade Federal Fluminense (UFF). Por medo da pressão familiar, M* não registrou boletim de ocorrência (BO). A história de M* comprova os resultados do Dossiê Mulher 2013, produzido pelo Instituto de Segurança Pública (ISP).
A reportagem é de Vivian Virissimo e publicada por Brasil de Fato, 17-10-2013.
Segundo o relatório, a maioria dos agressores é conhecida da vítima. “Eu gritava, mas ninguém ouvia. Ele viu que eu estava chorando e continuou. Depois, ele agiu como se nada tivesse acontecido. Ainda tivemos de conviver até 2010”, contou.
Conforme o dossiê, 51,2% das vítimas conheciam o agressor. Deste número, 11,5% eram conhecidos em geral, 29,7% tinham algum grau de parentesco e 10% eram companheiros ou ex-companheiros.
“Como feminista, minha função é dar o depoimento e ajudar as mulheres a superar esse trauma” , fala M*, que atualmente milita na Casa da Mulher Trabalhadora (CAMTRA) e no Coletivo de Mulheres da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). “Posso garantir que a maioria já sofreu algum tipo de violência sexual, mas não consegue falar”, completa. Na madrugada da última sexta-feira (13), M* foi vítima de abuso sexual mais uma vez.
Moradora de Irajá, ela foi abusada dentro do ônibus, quando voltava para casa. “Estava muito cansada e peguei no sono. Quando acordei um cara pegava na minha mão e se masturbava. Ele gozou e respingou na minha perna e no vestido”, descreveu. “Não faço a ideia de quem ele era. O trocador estava olhando e não fez nada”.
Quase 5 mil foram estupradas em 2012
O último Dossiê Mulher aponta que 4.993 mulheres foram estupradas no estado, em 2012. Em comparação com 2011, representa um aumento de 23,8%.
Neste ano, vários casos de estupro tomaram as páginas dos jornais no Rio. Um dos casos que mais repercutiram foi o da turista estuprada por três homens em uma van.
“Ao serem estupradas, as mulheres se sentem culpadas. O primeiro sentimento é de muita vergonha. O mais grave é que, por falta de informação, isto acaba criminalizando a mulher. Como consequência, dificilmente ela registra a ocorrência e não toma a pílula do dia seguinte”, comentou Rogéria Peixinho, da Associação das Mulheres do Brasil (AMB).
Condenação de Pastor Marcos é emblemática
O pastor Marcos Pereira da Silva, da Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias, foi condenado a 15 anos de prisão por estupro recentemente.
Os crimes foram cometidos em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Uma das testemunhas contou que foi estuprada dos 14 aos 22 anos. Este é outro resultado do Dossiê Mulher: a maioria das vítimas, 51,4%, é de crianças de até 14 anos.
“É uma condenação emblemática, eu acho que ele mereceria muito mais que 15 anos. Essas punições ajudam muito, mas junto com isso tem de ter conversas nas escolas e mais políticas de segurança para mulheres”, disse Rogéria.
O pastor está preso desde o dia 8 de maio em Bangu 2. A polícia ainda investiga se outras 20 mulheres que moravam na igreja também foram estupradas. Como essa decisão foi tomada em primeira instância, ainda cabe recurso.
Em caso de estupro: o que fazer?
1. Não tomar banho (para garantir provas para exame de corpo delito)
2. Ir à Delegacia da Mulher, ou qualquer delegacia, registrar BO.
3. Ir a uma Unidade de Saúde para tomar a pílula do dia seguinte e um coquetel de remédios que previne doenças. (Não precisa de BO)
Fonte: Ministério da Saúde
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Por dia, 13 mulheres são estupradas no Rio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU