''O papa quer mudar a Igreja como São Francisco''. Entrevista com Jacques Le Goff

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07 Outubro 2013

"Antes de ser o autor do Cântico das Criaturas, São Francisco é o homem que diz não ao dinheiro". Para Jacques Le Goff, o apelo à pobreza é a característica fundamental do santo de Assis.

A reportagem é de Fabio Gambaro, publicada no jornal La Repubblica, 05-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O célebre historiador francês, que dedicou ao pobrezinho de Assis um importante livro intitulado San Francesco d’Assisi (Ed. Laterza), lembra-se dele ao comentar as últimas declarações do Papa Bergoglio: "Além da complexidade do personagem, São Francisco representa a condenação viva do dinheiro. Filho de um mercador que tinha viajado muito entre a Itália e a França, de onde, aliás, importou o nome Francisco, nada parecia predispô-lo à escolha da pobreza. A rejeição da riqueza era principalmente uma expressão de uma revolta contra o pai, mas depois ele também deu a ela um valor social e coletivo, quando se despojou das vestes e dos bens materiais diante do Bispo de Assis".

Eis a entrevista.

Evocando uma Igreja da pobreza, o pontífice se move no rastro da mais autêntica tradição franciscana?

Eu diria que sim. Em um período de crise econômica, em que a pobreza aumenta enquanto uma minoria não deixa de se enriquecer, a figura de São Francisco adquire uma força totalmente particular. O santo de Assis também imaginava uma Igreja da pobreza contraposta à Igreja dos poderosos. No entanto, foi um sonho que ele não conseguiu realizar. Como ele era um cristão muito piedoso, ele aceitou fazer concessões ao papado. Em suma, no fim, ele não conseguiu reformar a Igreja.

O Papa Francisco pode conseguir?

O Vaticano ainda é um símbolo de riqueza. Tentar combater o dinheiro no plano simbólico, assim como no concreto, é uma obra muito difícil. O pontífice, no entanto, começou a se mover nessa direção. Por exemplo, ao tornar públicas as contas do banco vaticano, um fato muito importante em nome daquela renovação que quer tornar a Igreja mais transparente e mais próxima dos homens. Justamente como São Francisco queria. Naturalmente, para conseguir isso, ele terá que se chocar com o caráter intrinsecamente monárquico da Igreja.

No seu livro, o senhor enfatiza a dimensão da alegria e do riso em São Francisco. É um aspecto decisivo?

Certamente. A dimensão alegre do poverello é um verdadeiro elemento de novidade e de ruptura, porque até então todo o catolicismo se construía em contraposição ao riso. A regra beneditina intimava a não rir. O riso era considerado inimigo de Deus. Francisco, ao invés, ri livremente, expressando assim um modo diferente e mais alegre de se relacionar com o mundo. Essa característica também é evidente no Papa Bergoglio. Ao contrário de Bento XVI, Francisco é um papa que fala, exatamente como o santo que falava com todos, até mesmo com os pássaros.

Por que São Francisco continua nos fascinando?

Porque ele veicula atitudes e valores considerados essenciais pela maior parte do mundo cristão. A crítica do dinheiro e dos banqueiros, a pobreza e a solidariedade tornam São Francisco muito próximo das nossas preocupações, especialmente em tempos de crise. Inspirado nele, o pontífice se torna o homem da simplicidade e da abertura que muitos procuram na Igreja desde sempre, sem encontrá-lo.