Por: Cesar Sanson | 05 Outubro 2013
Justiça decretou prisão preventiva de ex-chefe de UPP e outros nove PMs que atuavam na Rocinha. Suspeitos de matar e ocultar cadáver de ajudante de pedreiro se apresentaram ontem na sede da PM do Rio.
A reportagem é de Diana Brito Marco Antônio Martins e publicada pela Folha de S.Paulo, 05-10-203.
A Justiça do Rio decretou ontem a prisão preventiva do ex-comandante da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, o major Edson Santos, e de outros nove policiais, acusados de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver do ajudante de pedreiro Amarildo Souza, 43.
Todos os dez PMs se apresentaram à noite à sede da Polícia Militar, no centro do Rio. Eles podem ser condenados a, no mínimo, oito anos de prisão. O desaparecimento de Amarildo motivou protestos em todo o país.
O delegado Rivaldo Barbosa disse ter colhido 22 depoimentos de pessoas que afirmam ter sido torturadas pela equipe do major Edson desde março. Elas relataram, segundo ele, ter sido vítimas de eletrochoques e tentativa de asfixia com saco plástico.
A polícia também se baseou em grampos obtidos com autorização da Justiça. Numa das gravações, o policial Marlon Campos Reis diz à namorada: "Eles já sabem o que aconteceu. Só não têm como provar".
A intimidação de testemunhas e a conduta dos PMs nas investigações do sumiço de Amarildo sustentaram o pedido de prisão dos acusados, feito pela juíza Daniella Prado.
As investigações mostram que após o desaparecimento, um dos PMs chegou a telefonar para outro policial fingindo ser um traficante. No diálogo, o policial/traficante diz que o tráfico matou Amarildo.
O major Edson também é acusado de oferecer uma casa numa na favela para que uma testemunha modificasse o depoimento contra os PMs. De acordo com os depoimentos, Amarildo foi abordado por oito PMs em um bar perto de sua casa, no interior da Rocinha, em 14 de julho.
Sem documentos, foi levado para uma base da unidade, onde funciona o Centro de Comando e Controle, que controla as 84 câmeras instaladas na Rocinha.
A polícia afirma que os policiais haviam recebido ordem do major para que levassem à UPP suspeitos de envolvimento com o tráfico. Amarildo foi apontado como alguém que sabia onde os traficantes guardavam suas armas na favela.
"Torturaram Amarildo com emprego de violência causando-lhe sofrimento físico e mental", escreveu o promotor Homero das Neves. O major sempre negou essa versão. Segundo ele, após Amarildo não ser reconhecido como traficante, ele foi liberado em "cinco minutos".
O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame disse que agora o "caso está nas mãos da Justiça, que definirá se os policiais são culpados ou inocentes".
A polícia ainda não achou o corpo de Amarildo. A Folha não conseguiu contato com os advogados dos PMs.
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Dez policiais são presos acusados de tortura e morte de Amarildo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU