Por: Jonas | 05 Outubro 2013
“O cristão não pode conviver com o espírito do mundo, a mundanidade que nos leva à vaidade, à prepotência, ao orgulho”. Na “sala della spoliazione”, na qual São Francisco se despiu e renunciou tudo para se colocar ao lado dos pobres, o Papa que escolheu o nome do Pobrezinho de Assis pediu para toda Igreja, ou seja, para cada um de todos os batizados, que se “desnude” de tudo o que não é essencial, para ser somente “a Igreja de Cristo”. É a primeira vez, em 900 anos, que um Papa visita este lugar. Foi recebido pelos pobres que são ajudados pela Cáritas. Desta vez, também deixou o discurso que tinha preparado e pronunciou um discurso livremente. Recordou as vítimas de Lampedusa dizendo: “Hoje é um dia de pranto”. E ironizou sobre os meios de comunicação, que haviam feito “fantasias” a respeito do discurso que faria.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 04-10-2013. A tradução é do Cepat.
“É a primeira vez que um Papa vem aqui – disse Francisco – e nos jornais e meios de comunicação surgiram fantasias: o Papa irá despir a Igreja, despirá os bispos, os cardeais, a si mesmo... Esta é uma boa ocasião para fazer um convite à Igreja para que se desnude. Contudo, a Igreja somos todos nós... Todos nós somos a Igreja e devemos ir pelo caminho de Jesus. Ele próprio nos deu um caminho de nudez. Fez-se servo, servidor, quis ser humilhado na Cruz... Se nós queremos ser cristãos, não há outro caminho. Não podemos tornar um cristão um pouco “mais humano”, sem Cruz, sem Jesus, sem nos desnudarmos. Tornaríamos cristãos de confeitaria, como os bolos muito bonitos e doces, mas não verdadeiramente cristãos”. “O cristão – acrescentou Bergoglio – deve se despir, hoje, de um perigo gravíssimo que ameaça cada pessoa na Igreja, o perigo da mundanidade. O cristão não pode conviver com o espírito do mundo, com a mundanidade que nos leva à vaidade, prepotência e orgulho. E este é um ídolo, não é Deus. A idolatria é o pecado mais forte. Quando os meios de comunicação falam sobre a Igreja, pensam que a Igreja são os sacerdotes, as freiras, os bispos, os cardeais e o Papa. A Igreja somos todos nós e todos nós devemos nos despir desta mundanidade, deste espírito que vai contra o das bem-aventuranças, contra o de Jesus. A mundanidade nos prejudica. É muito triste encontrar um cristão mundano, convencido dessa segurança que lhe dá a fé e que lhe dá o mundo. Não se pode trabalhar nas duas partes. A Igreja, todos nós, devemos nos despir da mundanidade. Dizia o próprio Jesus: não se pode servir a dois senhores, ou se serve a Deus ou ao dinheiro”.
“Não se pode servir a Deus e ao dinheiro, a vaidade e o orgulho. Nós não podemos – disse Francisco -, é triste apagar com uma mão o que escrevemos com a outra. O Evangelho é o Evangelho. Deus é o único, e Jesus se fez servo por nós, e o espírito do mundo não tem nada a ver. Hoje, [estou] aqui com vocês, com muitos de vocês que foram despojados por este mundo selvagem que não oferece trabalho, que não ajuda, que não se importa se há crianças que morrem de fome, que não se importa se muitas famílias não tem alimento, não tem a dignidade de levar pão para casa, que não se importa se muita gente precisa fugir da escravidão e da fome. E fugir em busca da liberdade, e com quanto horror muitas vezes vemos que encontram a morte, como aconteceu ontem em Lampedusa. Hoje é um dia de pranto, estas coisas são feitas pelo espírito do mundo. É verdadeiramente ridículo que um cristão, um verdadeiro cristão, um sacerdote, uma freira, um bispo, um Papa, queira seguir o caminho desta mundanidade que é uma atitude homicida.
“A mundanidade espiritual – concluiu o Papa – mata a alma, mata as pessoas, mata a Igreja. Quando, aqui, Francisco fez esse gesto de se despir, era um jovem garoto, não tinha força. Foi a força de Deus que o incentivou a fazer isto, a força de Deus que queria nos lembrar o que Jesus dizia sobre o espírito do mundo, quando Jesus pediu ao Pai que nos salvasse do espírito do mundo. Hoje, aqui, peçamos a graça para todos os cristãos: que o Senhor nos dê a coragem para nos despir, mas do espírito do mundo que é a lepra, o câncer da sociedade, é o inimigo de Jesus. Peço ao Senhor que dê a todos nós esta graça”.
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“Cada cristão deve se despir do espírito do mundo, câncer da sociedade”, diz Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU