26 Setembro 2013
Uma universidade cristã da Califórnia pediu que um professor, da cátedra de teologia e filosofia, saia da instituição depois de ter se revelado transgênero.
A reportagem é de Sarah Pulliam Bailey, publicada no sítio Religion News Service, 23-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Heather Clements ensinava teologia na Azusa Pacific University há 15 anos, mas, no ano passado, ele começou a se referir a si mesmo como H. Adam Ackley. "Este ano tem sido uma transição de ser uma mulher mentalmente doente para ser um homem sadio e transgênero", disse ele.
Ackley, que está em seu terceiro ano de um contrato de cinco anos em uma faculdade que não usa o sistema de estabilidade, disse que as políticas universitárias parecem ficar em silêncio sobre as questões transexuais, exceto que "os seres humanos foram criados como seres de gênero".
"Eu não tive uma sensação diretamente das pessoas com quem eu estava falando de que elas tinham um problema teológico com a identidade transgênera", disse Ackley. "Eu recebi, sim, a mensagem de que isso tinha a ver com a sua preocupação de que outras pessoas, como os benfeitores, os pais e as Igrejas ligadas à universidade, teriam problemas ao não entender a identidade transgênero".
O porta-voz da universidade, Rachel White, se recusou a discutir a situação trabalhista de Ackley, citando questões confidenciais. Ackley planejava se reunir com um advogado da universidade na segunda-feira (23 de setembro).
Ackley disse que ele e a APU decidiram se separar, e a universidade disse que continuará lhe pagando durante o ano acadêmico. Mas, segundo ele, a universidade quer que outros professores assumam as suas aulas atuais. Ele também disse que o seu seguro foi negado quando ele procurou tratamento hormonal e cirurgia de remoção dos seios.
"Eles estão me dando privacidade na transição, mas estão negando o tratamento médico para fazer isso", disse Ackley, 47 anos, que tem dois filhos e está no processo de obtenção de um divórcio.
A APU é uma universidade evangélica interdenominacional de cerca de 10 mil alunos e 1.200 empregados, localizada a nordeste de Los Angeles. É uma das maiores faculdades em termos de alunos do Conselho de Faculdades e Universidades Cristãs.
Os estudantes APU têm 700 signatários até o momento para um abaixo-assinado no site Change.org apoiando Ackley e pedindo que a faculdade "crie um ambiente mais seguro para os estudantes e empregados".
Questões transgêneras continuam sendo um tema sensível e muitas vezes incompreendidas dentro dos âmbitos religiosos e da sociedade em geral. Quando a notícia circulava nas redes sociais na última quinta-feira, Ackley disse ter visto as pessoas fazendo várias suposições.
"As pessoas presumiram que eu tinha feito alguma coisa, algum ato sexual", disse. "Eu não estou violando nenhuma conduta sexual, e é embaraçoso que isso esteja implícito. Eu vivo uma vida muito casta".
Ackley disse ter aceitado a sua identidade transgênera no início deste ano depois que a Associação Norte-Americana de Psiquiatria removeu o "transtorno de identidade de gênero" da sua lista de doenças mentais. Depois de estar em licença sabática na primavera, Ackley disse que foi apenas no novo ano letivo que ele se reuniu com as autoridades da universidade para informar o departamento de recursos humanos sobre a mudança.
Ele foi ordenado sacerdote em 1999 na Igreja Menonita, mas transferiu suas credenciais para a Igreja dos Irmãos em 2009.
Em um vídeo do YouTube postado na última sexta-feira, Ackley escreveu em uma apresentação de slides que ele foi criado em uma "família incondicionalmente amorosa de avós e pais hippies cristãos que me permitiram ser eu mesmo – eu fui atribuído ao sexo feminino no nascimento, mas não parava de pensar que eu era um garotinho, tentando ser como o meu avô...".
"Assim como para muitas pessoas transgêneras, a minha experiência da puberdade foi especialmente confusa (não conformidade) e eu fiquei ansioso, deprimido e sem esperança", escreveu. "A androginia no fim dos anos 1970 e início dos 1980 era uma tendência cultural popular que eu abracei para passar pela minha adolescência".
Ele escreveu que se tornou um cristão batizado aos 18 anos e foi ordenado diácono, e "quando eu comecei a contemplar o fato de encontrar um companheiro quando adulto, eu lutei para me conformar ao gênero feminino que me tinha sido atribuído no nascimento – mas mesmo assim em roupas masculinas".
"Eu tentei me conformar à feminilidade cristã da melhor forma que eu pude", escreveu, postando fotos do seu noivado, da noite anterior ao seu casamento (descrito como "a última noite como eu mesmo") e de mãe grávida.
Seu primeiro casamento acabou em divórcio e durante o seu segundo casamento ele disse que diretores espirituais, grupos de apoio espiritual, psicológicos e médicos disseram para ele se esforçar mais para se conformar ao gênero feminino. "No entanto, o tratamento com hormônios, a terapia e a oração para me tornar mais feminina levaram à deterioração física, psicológica e espiritual", escreveu ele.
Ele disse que, enquanto estava "lutando privadamente contra a vergonha cristã como uma pessoa transgênera, eu secretamente entalhei cruzes no meu corpo escondidas pelas minhas roupas".
Usando fotos para mostrar o que ele fez com o seu corpo, ele disse: "Ouvindo dos meus conselheiros espirituais e, depois, do meu esposo que a recuperação, a sanidade e a preservação da minha família me obrigavam a negar a minha identidade transgênera agora reconhecida, eu lutei mais uma vez contra a automedicação, a automutilação e o autojejum do corpo feminino durante uma recaída suicida".
"É isso que a transfobia cristã faz".
Ele, então, termina com fotos suas, sorrindo com os seus filhos. "Isso é o que o poder da ressurreição faz: cura e vida nova – com os meus filhos", escreveu ele.
Em um sermão de 40 minutos na Igreja dos Irmãos de La Verne, na Califórnia, no dia 18 de agosto, Ackley disse que nunca tinha se identificado como uma mulher, mas "eu tentei ser [mulher] porque eu pensava que era isso o que eu devia ser", disse ele, descrevendo-se como um eunuco do sexo masculino.
Em seu sermão, Ackley disse ter lutado contra a depressão e a ansiedade, mas que a Igreja sempre esteve ao seu lado.
"Eu tentei ser a melhor mulher cristã que eu podia ser (...) mas eu tenho que aceitar algo difícil sobre mim mesmo", disse ele. "Eu nunca fui plenamente eu mesmo. Eu sempre vivi uma mentira, não exatamente de propósito, mas essa era a melhor verdade que eu conhecia na época".
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Professor de teologia transgênero é convidado a sair de universidade dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU