07 Setembro 2013
Quase 5 milhões de deslocados internos: bastaria apenas esse dado para lembrar que a guerra na Síria já está ocorrendo, e há muito tempo, e abalou um país de 20 milhões de pessoas. Não há Estado no mundo (exceto a Colômbia) que tenha um número tão grande de pessoas que, por razões de segurança, tiveram que abandonar as suas casas e abrigar-se em outras regiões do território nacional. Não são oficialmente refugiados, como aqueles que fogem para o exterior, mas vivem o mesmo drama.
A reportagem é de Francesco Pistocchini, publicada na revista Popoli, dos jesuítas italianos, 05-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Anne Ziegler, operadora francesa do Serviço Jesuíta aos Refugiados (SJR), teve que deixar Damasco no fim de julho por motivos de segurança e se mudou para Beirute. Até então, ela tinha permanecido na capital síria, onde se ocupava das ajudas aos deslocados internos.
"Os foguetes dos morteiros em Damasco caem aqui e ali todos os dias – conta ela a Popoli –, lançados pelos rebeldes que tentam atingir alvos do regime. Em particular, foram atingidos alguns lugares onde o SJR tem algumas de suas atividades, como os subúrbios de Dwelaa e Jaramana". Nessas áreas, o SJR busca ajudar mais de 500 famílias, especialmente nas atividades escolares e nos transportes para as crianças e adolescentes que ainda vão à escola ou que já não conseguem mais ir.
"O grande problema hoje é como levar em frente a vida cotidiana", explica Ziegler. "Onde encontrar o que comer, ter atendimento médico ou até mesmo dormir em um lugar seguro. Sem falar do medo de um ataque norte-americano: todos conhecem os 'danos colaterais'".
A guerra fez entrar em colapso o sistema de educação. Os edifícios escolares que não foram danificados foram transformados em alojamento para famílias deslocadas. E muitos não confiam em mandar os filhos à escola ou nos meios públicos. O sistema de saúde também está abalado: os cuidados básicos são cada vez mais carentes, e as farmácias têm cada vez menos medicamentos para as doenças crônicas.
Em geral, na Síria, o SJR oferece assistência, serviços educacionais e apoio psicossocial para quase 9.300 famílias. Não são muitas as agências humanitárias presentes no país. Mas essa seção do SJR, presente desde 2008 para responder à chegada de milhares de refugiados iraquianos, se organizou para responder à crise interna graças a alguns jesuítas e a uma rede de voluntários de diferentes filiações religiosas.
Em Aleppo, uma cozinha de campo consegue fornecer refeições para 17 mil pessoas. Distribuem-se kits para a higiene pessoal. No inverno, a prioridade vai para colchões, cobertores e agasalhos. No verão, as prioridades tornam-se fornecer água limpa e descartar os resíduos.
"As nossas atividades continuam nos adaptando todos os dias aos problemas que surgem – explica Ziegler –, condicionados pelas questões de segurança ou de disponibilidade dos produtos. Aleppo ficou completamente isolada por uma semana inteira. Depois, uma estrada de ligação foi reaberta, e os estoques de alimentos começaram a chegar de novo. Mas, naqueles dias, não havia mais nem um pedaço de pão".
O que significa viver uma guerra como estudante? "Significa perder as aulas, pular os exames, não ter mais espaços para interagir e desenvolver atividades da vida de sempre, dedicar-se à arte ou ao teatro. A guerra não é apenas destruição física, mas também a interrupção de um percurso de crescimento. Todas as crianças que participam das atividades do SJR passaram pela experiência de traumas ou de lutos na família".
E depois há 1,5 milhão de refugiados fora das fronteiras (dos quais metade são menores de idade). A ajuda aos refugiados no Vale do Bekaa, no Líbano, o mais próximo da fronteira síria, parte da ajuda de emergência, do apoio psicossocial para os menores e pela assistência médica. Vista por uma criança síria, a fuga para o Líbano pode significar ter que frequentar escolas onde não se fala árabe, mas sim francês ou inglês (no Líbano, isso não é raro). Mas a assistência a algumas milhares de crianças e famílias cobre uma mínima parte das necessidades".
São cada vez mais frequentes as fugas de sírios pelo Mediterrâneo. Qual é o seu itinerário? "Eu não estou muito informada sobre o fenômeno. Eles fogem partindo do Líbano, menos das costas sírias".
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De volta à escola na Síria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU