Por: André | 05 Setembro 2013
“Os Estados Unidos da América têm que deixar de agir e reagir como o ‘grande irmão’ de um bairro chamado mundo”. Foi dessa maneira que se expressou Adolfo Nicolás, prepósito geral dos jesuítas, contra a intervenção militar na Síria. Fazendo seu o clamor de Francisco pela paz, Nicolás critica duramente os Estados Unidos e a França, possíveis responsáveis pela “barbárie a que somos conduzidos”.
A reportagem é de Jesús Bastante e publicada no sítio espanhol Religión Digital, 04-09-2013. A tradução é de André Langer.
Tanto jesuítas como salesianos, através de uma mensagem de seu Reitor Maior, Pascual Chávez, aderiram à iniciativa de paz do Papa, e animam as suas comunidades e simpatizantes para participarem do dia de jejum e oração pela paz, que acontecerá neste sábado na Praça São Pedro e em centenas de cidades de todo o mundo.
O mais duro foi o prepósito geral dos jesuítas. Em uma entrevista publicada no sítio da Cúria Geral, Adolfo Nicolás defende que “apoiamos 100% a ação do Santo Padre e desejamos do fundo do nosso coração que a anunciada ação punitiva não se efetive”. Para Nicolás, “estamos diante de uma situação humanitária que ultrapassa os limites normais que apoiariam o silêncio. E tenho que dizer que confesso que não entendo quem deu autorização aos Estados Unidos e à França para agir contra um país, o que, sem dúvida, aumentará o sofrimento de uma população que já sofreu além da conta”.
“A violência ou ações violentas, como as que estão sendo preparadas, somente são justificadas como último recurso e de tal maneira que somente os culpados sejam prejudicados”, continua o geral dos jesuítas, que chama de “totalmente inaceitável” o recurso às armas.
“Os Estados Unidos da América têm que deixar de agir e reagir como o ‘grande irmão’ de um bairro chamado mundo. Isto leva inevitavelmente ao abuso, à arbitrariedade e ao ‘matonismo’ sobre os membros mais fracos da comunidade”, reflete o religioso, que destacou que “é preciso demonstrar ao mundo” que apenas uma das partes do conflito utilizou armas químicas, “para que o mundo possa confiar neste país. Esta confiança não se vê atualmente, e já começaram as especulações sobre ulteriores motivos que os Estados Unidos possam ter em sua projetada intervenção”.
“A experiência – prossegue Nicolás – nos diz que os resultados posteriores são o aumento do sofrimento dos cidadãos comuns inocentes e alheios ao conflito”. Por isso, acrescentou, “é muito preocupante que em nome da justiça planejemos um ataque que vai aumentar o sofrimento das vítimas”.
A dura reprimenda do geral dos jesuítas contra os Estados Unidos vem precisamente da “sua dedicação, espiritualidade e pensamento”. “O que mais me preocupa – acrescenta – é que precisamente este país, que eu admiro sinceramente, esteja à beira de cometer um grande erro. E se poderia dizer algo semelhante em relação à França: um país que foi um verdadeiro líder pelo espírito, pela inteligência, que contribuiu grandemente para a civilização e a cultura e que agora está tentada a conduzir a humanidade para trás, à barbárie, em aberta contradição com tudo o que simbolizou ao longo de muitas gerações. Que estes dois países se unam agora em torno de uma aventura tão horrível explica a ira de tantos países no mundo. Não temos medo do ataque em si; o que nos deixa consternados é a barbárie a que somos conduzidos”.
Por que agora? Por que não antes? “Porque o problema se coloca agora”, aponta Nicolás. “Porque o Santo Padre está tomando medidas extraordinárias para nos tornar conscientes da urgência do momento. O fato de ter declarado o dia 7 de setembro como dia de jejum pela paz na Síria é uma medida extraordinária, e nós queremos nos unir a ela”.
“Tenho muita dificuldade para aceitar que um país, que se considera, ao menos formalmente, cristão conceba exclusivamente a ação militar diante de uma situação de conflito, com o risco de levar o mundo, novamente, à lei da selva”, conclui Adolfo Nicolás.
O Reitor Maior dos Salesianos, Pascual Chávez, por sua vez, enviou uma mensagem a toda a família de Dom Bosco na qual convida todos os religiosos e religiosas desta ordem a aderir à convocação do Papa para o dia de jejum pela paz na Síria e no mundo.
“Como vocês podem ver, é um apelo angustiado que se refere, em primeiro, lugar à dolorosa situação da Síria, envolta há algum tempo em uma guerra civil, e em, segundo lugar, é um convite para não esquecer os outros numerosos conflitos que atormentam tantas regiões e populações dos diversos continentes”, destaca Chávez, que pede “a todas as comunidades que organizem algum ato litúrgico segundo esta intenção. Espero vocês no próximo sábado, às 19h, na Praça São Pedro.”
“Todos nós acreditamos que a paz é um bem extraordinariamente necessário para o desenvolvimento e o progresso da comunidade nacional e da comunidade mundial. Ela se nutre do respeito aos direitos fundamentais que devem ser garantidos aos povos e às pessoas e, ao mesmo tempo, vem edificada pela observância dos deveres igualmente importantes que nascem destes mesmos direitos”, conclui o reitor dos salesianos, que pede a todas as instituições da congregação para que vivam ao menos três momentos: “Um momento de oração pela paz, vivido sobretudo como adoração eucarística, preparada com um jejum particular; alimentando a oração com textos bíblicos ou textos tomados de documentos da igreja sobre o tema da paz”.
“Um momento de educação na paz. Nas escolas, nos oratórios, em outros contextos educativos, oferecer aos jovens um encontro sobre o tema da paz, propondo-lhes uma reflexão a partir das notícias da atualidade sobre o tema, apresentando a importância do texto da encíclica de João XXIII Pacem in Terris, de outros documentos da Igreja e também de textos significativos de autores leigos”.
“Um momento de testemunho sobre a paz. É possível celebrar comunitariamente um momento de reconciliação comunitária, convidando também os nossos leigos e os jovens, durante o qual peçamos perdão a Deus por nossas divisões e conflitos, pequenos e grandes”.
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“Não entendo quem deu autorização aos Estados Unidos ou à França para agir”, diz Nicolás - Instituto Humanitas Unisinos - IHU