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02 Setembro 2013

A nomeação de Parolin cai em um contexto peculiar. A biografia do novo secretário de Estado escreveu na sua agenda os grandes confins do Extremo Oriente, de Mianmar em diante, e os nós de uma Igreja realmente pobre diante das outras culturas.

A análise é Alberto Melloni, historiador da Igreja italiano, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação João XXIII de Ciências Religiosas de Bolonha. O artigo foi publicado no jornal Corriere della Sera, 01-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Há dois séculos, a nomeação do secretário de Estado é o ato decisivo de todo pontificado. Ao realizá-lo, o Papa Francisco voltou por uma vez a antigamente. Papas importantes até escolheram amigos, figuras menores ou deixaram o posto vago (como fez Pio XII), mas os grandes papas tiveram a coragem de colocar na Segunda Loggia homens diferentes deles e de estatura.

Pio XI fez isso com Pacelli, João XXIII com Tardini, João Paulo II com Casaroli. Bergoglio, decidindo nomear Pietro Parolin, voltou a essa tradição, trazendo a Roma um diplomata total, capaz de abrir aquele "capítulo Ásia", que será crucial para a Igreja de amanhã, tanto quanto foram a ostpolitik e o horizonte latino-americano nas décadas em torno do Concílio.

A nomeação de Parolin cai em um contexto peculiar. De fato, Francisco constituiu uma "comissão dos oito" que deverá ajudá-lo no governo e na reforma. Serão eles – e o papa já deve dizer qual é a qualidade teológica do seu Consilium – que irão desenhar uma nova Secretaria de Estado e repensar a eclesiologia universalista que foi o peso morto das inúteis reformas de Pio X, de Paulo VI, de João Paulo II. A efetiva posição do secretário de Estado em uma Cúria reformada será redefinida ali, teologicamente.

Mas é claro que Parolin – que alguns esperavam exilar do outro lado do oceano, como aconteceu com Cicognani nos anos de Pio XII – fará parte desse processo com o efetivo exercício do papel que ele assume. A biografia do novo secretário de Estado escreveu na sua agenda os grandes confins do Extremo Oriente, de Mianmar em diante, e os nós de uma Igreja realmente pobre diante das outras culturas. As crônicas logo inscreveram lá a falha sangrenta do Oriente Médio, onde a Igreja é vítima e testemunha daquele bellum perpetuum que os otimistas consideram como o início de uma guerra dos trinta anos.

A história colocou nessa agenda também aquela Itália que se vê a partir das janelas de Santa Marta, uma nação que se desfaz entre cinismos, oportunismos e indiferenças dos quais a Igreja foi ora a cura, ora a causa.