Por: Cesar Sanson | 27 Agosto 2013
“A minha geração, que conquistou a Presidência da República em 2002, envelheceu e não só na idade, mas também em ideias. Precisamos descobrir novas formas e novas lideranças capazes de despertar o interesse dos mais jovens no movimento sindical, porque há um processo de esvaziamento em todos os setores, inclusive no movimento estudantil”. A afirmação é do jornalista e ex-assessor do governo Lula, Ricardo Kostcho em entrevista ao Portal da CUT, 26-08-2013, comentando as três décadas da Central.
Eis a entrevista.
Você cobriu o início do novo sindicalismo e o surgimento da CUT. Qual era o cenário em 1983.
Eu sou bem antigo, vou completar 50 anos só de jornalismo, então, comecei quando o movimento sindical estava na mão dos pelegos, inclusive o sindicato dos jornalistas. O fato novo ocorreu no final da década de 1970, quando o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, com o Lula à frente, se transformou em foco de resistência à ditadura e trouxe junto outras entidades, como o próprio sindicato dos jornalistas que, em 1979, comandou uma greve histórica. Ali foi o grito de independência, porque os trabalhadores odiavam o sindicalismo feito até a década de 1970.
Quais fatores motivaram a criação da CUT?
É curioso, porque, no começo, o Lula chegou a dar entrevista na TV Cultura dizendo que era contra sindicato se aproximar de partido político e que o importante era cuidar de salário, das condições de trabalho dos operários. Foi a criação do PT, em 1980, que contribuiu para a politização do operário, para que tomasse consciência de seu papel para mudar o país, também influenciado pela atuação de diversos movimentos sociais, como a campanha pela Anistia, a redemocratização.
O que mudou nesses últimos 30 anos?
Ocorreu uma coisa curiosa, porque os movimentos sociais foram crescendo e acabaram chegando ao poder com o presidente Lula, em 2002. E como acontece na maioria dos países, quando a esquerda chega ao poder, houve um esvaziamento desse movimento. Primeiro, porque o governo acaba requisitando os quadros principais e, por outro lado, atende as reivindicações dos movimentos sociais. Então, já não há tanto motivo para brigar. Chega a ser uma contradição, em termos, mas quando chega ao poder, já não tem aquela força toda do tempo em que se combatia a ditadura, por exemplo. Também há um cenário de pleno emprego, a maioria dos aumentos conquistados pelos sindicatos é acima inflação, o salário mínimo nunca cresceu tanto. E é diferente o diálogo do presidente da CUT com o Lula, com a Dilma em relação ao que fazia com o Sarney, o Collor, o Fernando Henrique Cardoso e os que comandaram o País durante a ditadura militar.
Diante desse novo cenário, qual deve ser o papel da CUT?
O principal papel da CUT e do movimento sindical, e aí eu incluo o sindicato dos jornalistas do qual faço parte, é a renovação dos quadros. Uma vez a presidenta disse isso para mim, que a grande dificuldade era ter novas lideranças, e penso da mesma forma. A minha geração, que conquistou a Presidência da República em 2002, envelheceu e não só na idade, mas também em ideias. Precisamos descobrir novas formas e novas lideranças capazes de despertar o interesse dos mais jovens no movimento sindical, porque há um processo de esvaziamento em todos os setores, inclusive no movimento estudantil. Esse é o grande desafio, descobrir como trazer essa juventude que foi às ruas meio destrambelhada, sem liderança, para dentro dos movimentos sociais.
Mudou também o perfil do jornalista que cobre o movimento sindical. O senhor acredita que aumentou a resistência aos temas da classe trabalhadora?
Sim, porque há outro perfil de jornalista. Na minha época, o jornalista era mais vinculado às lutas sociais e sindicais pela própria origem e, atualmente, são muito mais próximos do patrão do que da base social. E isso vale também para os políticos. Todo mundo fala da crise de representatividade e é exatamente isso que ocorre, há um abismo grande entre o que a imprensa fala e como os políticos atuam da realidade social do país. Os repórteres não vão mais aos lugares, são jornalistas de gabinete.
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CUT, 30 anos. “A minha geração envelheceu e não só na idade, mas também em ideias” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU