19 Agosto 2013
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo acredita que o pior do pessimismo passou. "Os empresários sentem que há mudança na forma de relação do governo com eles." Para ele, é preciso manter a racionalidade no debate econômico. "Economista gosta muito de pajelança. Vamos manter as coisas nos níveis de razoável racionalidade."
A entrevista é de Luiz Gulherme Gerbelli e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 19-08-2013.
Eis a entrevista.
As previsões para o crescimento deste ano e de 2014 estão sendo reduzidas. Faz sentido todo esse pessimismo para a economia brasileira?
Esse tratamento nas expectativas é uma coisa muito importante em economia e ao mesmo tempo muito difícil. Por exemplo, eu vi outro dia alguém dizendo 'que a inflação no ano que vem seria muito alta'. Essa pessoa que falou isso tem um baixo desempenho no Focus (relatório divulgado semanalmente pelo Banco Central). A gente precisa tomar cuidado com o que fala. Eu me lembro muito bem de 1998 quando estava claro que teríamos uma desvalorização (do real). Muitos economistas diziam que não aconteceria nada. É muito difícil fazer uma previsão para 2014 e até um pouco precipitado, porque não há base real para fazer essa projeção. Pode ser que isso mude para melhor ou pior, dependendo da interação entre a mensagem que o governo dá e a forma de receber dos agentes privados. É uma questão que depende de interpretação. As expectativas numa economia de mercado capitalista são muito mutáveis. Neste momento, pode-se dizer que o clima era pior há dois meses ou um mês. Eu tenho notado com os empresários que as coisas estão mudando um pouquinho. Vamos ver como é que se dá a relação entre governo e setor privado, que essa é fundamental nesse caso.
Como se dá essa mudança de sensação?
Vai depender muito da capacidade do governo. E, por exemplo, os leilões de concessões também vão ser importantes. Se eles forem bem-sucedidos, certamente o nível de confiança vai melhorar.
O que o sr. sentiu que melhorou entre os empresários?
É minha sensação de conversar com eles. Eles sentem que há uma mudança na forma de relação do governo com eles, que a comunicação para alguns setores está melhorando. Isso foi o que eu senti.
Qual pode ser o impacto do pessimismo na economia?
A economia está crescendo pouco, abaixo do potencial. As expectativas inflacionárias como fizeram lá atrás se frustraram. Tem gente que tem baixo desempenho no Focus, que nunca acerta nada. É preciso tomar muito cuidado. Tem de ser criterioso para falar. Eu acho que o desempenho da economia este ano vai ser positivo, porém modesto. Se (a economia) se recuperar ou se ainda tiver sucesso no leilão, certamente vai aumentar um pouco a confiança. Mas o resultado vai aparecer mais tarde. O resto é o seguinte: é um exercício de pajelança. Economista gosta muito de pajelança. Não vamos fazer pajelança, vamos manter a coisas nos níveis de razoável racionalidade.
O sr. acha que está faltando essa racionalidade?
Sabe o que acontece, existe de um lado e de outro excesso de partidarização da discussão. E é claro que cada um tem seu ponto de vista. Mas você não pode partidarizar a discussão, não pode se servir de instrumento para isso.
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'Economista gosta muito de pajelança', diz Belluzzo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU