Por: André | 09 Agosto 2013
O seu nome é muito menos conhecido que o do padre Paolo Dall’Oglio: nunca fez apelos ou petições, nem concedeu entrevista aos meios de comunicação de meio mundo. No entanto, a sua também é uma história extraordinária que demonstra como soube compartilhar o sofrimento do povo sírio. Por isso, vale a pena conhecer um pouco mais quem é o padre Frans van der Lugt, o outro jesuíta por quem o provincial para o Oriente Médio expressou uma grande preocupação, no comunicado divulgado há alguns dias sobre o caso de Dall’Oglio.
A reportagem é de Giorgio Bernardelli e publicada no sítio Vatican Insider, 07-08-2013. A tradução é de André Langer.
O padre Frans é o religioso que mora no centro da cidade de Homs, a cidade mártir por excelência no conflito sírio e que novamente caiu no abismo da violência. Holandês, o padre Van der Lugt vive no Oriente Médio há mais de 50 anos: chegou à Síria em 1966, depois de um breve período no Líbano para aprender árabe. Chegou com uma experiência humana muito particular, a de um religioso que também é psicoterapeuta, competência que se revelou preciosa para conseguir estender pontes de paz e de compreensão recíproca entre cristãos e muçulmanos.
Em Homs, onde chegou em meados dos anos 1980, o padre Van der Lugt criou o projeto “Al Ard” (A Terra), um centro que surgiu em um colina a poucos quilômetros da cidade. Um projeto de desenvolvimento agrícola, um lugar do espírito (no qual se realizavam retiros que o próprio padre Frans pregava) e um ícone do diálogo possível entre homens e mulheres de diferentes religiões. A partir de 2000 o centro se converteu em um importante lugar de solidariedade, pois abriu suas portas a cerca de 40 jovens com deficiências mentais da zona. Eles também foram envolvidos nas atividades agrícolas e, desta forma, reconheceu-se seu valor em sua dignidade de pessoas.
Esta era a vida cotidiana do padre Van der Lugt antes que o drama da guerra caísse sobre Homs. A partir de então, efetivamente, o “quartel general” deste jesuíta holandês voltou a ser Bustan el-Diwan, o bairro da cidade velha em que viviam os cristãos. Esse bairro, do qual fugiram todos os que puderam com o avanço dos islamistas e que se havia convertido no centro da batalha contra as tropas de Assad. O padre Frans, ao contrário, decidiu permanecer ali, no histórico colégio dos jesuítas, para ocupar-se dos mais fracos que ficaram no bairro. Abriu-lhes as portas de sua casa (um lugar que também sofreu as rajadas da artilharia do exército sírio) e se ocupou dos sofrimentos físicos e espirituais que uma guerra sempre provoca.
Em junho de 2012, durante os dias mais difíceis da primeira ofensiva, os jesuítas haviam perdido o contato com o padre Van der Lugt; havia o temor de que as milícias de Jabat al Nusra, ao conquistar Bustan el-Diwan, teriam atacado a comunidade. Mas isso não aconteceu graças à capacidade do padre Frans de cultivar relações de amizade com os ímãs locais. No entanto, agora a situação deu uma reviravolta inesperada: o exército de Assad está tratando de reconquistar a cidade, com as milícias rebeldes entrincheiradas na parte velha da cidade, onde ainda há 400.000 pessoas. E entre elas há um jesuíta apaixonado pela psicologia que sempre se ocupa dos mais fracos no coração lacerado da Síria de hoje.
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Padre Van der Lugt, o (outro) jesuíta na tragédia de Homs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU