05 Agosto 2013
Francisco abre aos gays um horizonte pastoral totalmente novo. Um ato corajoso, inesperado, considerando-se o púlpito de onde vem. Lucetta Scaraffia, no L'Osservatore Romano, observa que Bergoglio, embora não tenha mudado nada das regras morais em vigor, com essas simples palavras pronunciadas no avião voltando do Brasil, "apaga um moralismo rígido e fofoqueiro, e com poucas palavras afasta da Igreja Católica aquela acusação caluniosa de homofobia que a perseguiu nos últimos tempos".
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 31-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Sim, porque o caminho espiritual dos fiéis homossexuais, um arquipélago variado que age subterraneamente como nos tempos das catacumbas, continua sendo um percurso acidentado, fatigante, tingido por incompreensões recíprocas. Dos catecismos de Pedro Canísio, santo e jesuíta que participou do Concílio de Trento, que estigmatizava com dureza inusitada "que os gays gritam vingança contra Deus", rolou muita água.
Com o último Catecismo, a Igreja colocou preto no branco que Deus certamente não gosta das discriminações e, melhor, deu disposições para que os párocos e os fiéis incluam os gays e façam-lhes chegar toda a grandeza da misericórdia do Senhor.
No entanto, algo ainda não deu certo se os poucos sacerdotes que se ocupam ativamente nessa pastoral de fronteira se movem com extrema cautela para não dar origem a escândalos, para não irritar ou, pior ainda, para não criar problemas para os bispos.
Fronteiras
Graças às redes sociais digitais e à internet, os grupos de católicos gays se movem em contato entre si, dando origem a iniciativas espirituais, retiros para meditar a Palavra, acender debates. Sobretudo para fazer entender a quem está em busca de uma luz que o amor de Cristo não tem limites. Em nível italiano, é famoso o Projeto Gionata, enquanto em Roma são ativas duas realidades nascidas há 20 anos, Nuova Proposta e La Sorgente.
O padre José é um dos padres que há muito tempo concretiza o método Bergoglio, que consiste em ir pescar as ovelhas perdidas, neste caso fiéis homossexuais que se afastaram da Igreja justamente porque se sentem fortemente discriminados. Duas vezes por mês, eles se encontram em uma igreja do centro histórico de modo informal.
"Eu prefiro não ser mais específico para não pôr em risco a continuidade da acolhida. Sim, é verdade, até agora, por parte da Igreja, com relação a essa pastoral, houve uma certa desconfiança, uma tendência a não incluir, a ignorar mais do que a discriminar em sentido estrito". Esse sacerdote (que trabalha em uma Congregação do Vaticano) prefere falar por trás do anonimato.
Os tempos das catacumbas retornam. Voltas e reviravoltas da história. "A novidade das palavras do pontífice consiste no fato de que ele abordou livremente esse assunto. Ele o fez com autenticidade, para fazer com que se entenda que a Igreja é uma mãe inclusiva, e não exclusiva. No Brasil, Bergoglio, durante um encontro, acrescentou que é preciso dar cidadania àqueles que, em meio aos sofrimentos, se sentiram excluídos até agora. Isso também vale para as pessoas homossexuais".
Quem frequenta essas comunidades estabelece um contato, se fala, se sente a necessidade de se reconciliar com Deus "Você não imaginar quantas pessoas participam". A pastoral das fronteiras complicadas, fé e homossexualidade, binômio muitas vezes combatido pela esferas vaticanas. Mas os caminhos do Senhor continuam sendo infinitos.
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Gays, a reviravolta do papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU